Suspensão da gestão democrática leva ao afastamento de diretores de escola sem justificativa


Profissionais denunciam pressão do governo na busca desenfreada dos índices e desconsidera as condições para o processo de ensino aprendizagem

Publicado: 29/05/2023 18:40 | Última modificação: 29/05/2023 18:40

Escrito por: Roseli Riechelmann

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Mais um diretor de escola estadual de Mato Grosso foi dispensado sem justificativa, apenas por determinação da Diretoria Regional de Ensino. Desta vez a ocorrência se deu em Primavera do Leste (240 km de Cuiabá). O gestor que atuava há oito anos na função, foi dispensado da função, sem maiores esclarecimentos. Segundo ficou sabendo, informalmente, a dispensa teria sido devido ao baixo resultado nas avaliações dos alunos.

O caso remete a mais uma arbitrariedade institucionalizada nas escolas estaduais de Mato Grosso, com o fim da Gestão Democrática no ambiente escolar. Relatos dos profissionais registram diversas atitudes abusivas vindas dos órgãos gestores. A principal delas tem sido a cobrança por melhoria nos índices de aprendizagem dos estudantes a “toque de caixa”. O termo “pressão” foi destaque nos relatos da categoria ao Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT), durante atividade realizada no mês de maio.

O diretor da escola de Primavera do Leste passou pelos diferentes modelos de escolha da gestão. Primeiro e segundo mandatos, pela Gestão Democrática, ou seja, voto da comunidade escolar. Permaneceu na função após passar por dois processos seletivos implementados pela Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (Seduc-MT). A vaga foi conquistada justamente pelo desempenho dentro dos critérios de avaliação estabelecidos pela própria instituição. 

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Sintep-MT cobra a implementação da avaliação a partir do Sinaeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), uma avaliação diagnóstica, afirma a dirigente Guelda Andrade, 

Para a secretária de Políticas Educacionais do Sintep-MT, Guelda Andrade, o objetivo do desmonte da Lei da Gestão Democrática (7040/98) pelo governo Mauro Mendes, possibilita justamente não ter que justificar para a sociedade os desmandos nem os interesses do governo. 

A pressão tem sido ainda maior devido ao número de avaliações trazidas para as escolas estaduais de Mato Grosso, pelo pacote comprado pelo governo, que busca resultados como “pílulas mágicas”. Independente do esforço feito pelas escolas, são inúmeros os relatos sobre a baixa participação dos estudantes nas provas. O excesso de provas simultâneas é um deles, seguido, principalmente, pelo desinteresse diante do acúmulo de defasagem da aprendizagem. Em muitas unidades, os que compareceram foram apenas para assinar a lista de presença.

As avaliações têm gerado indignação dos profissionais, já sobrecarregados. Eles são pressionados pelas Diretorias Regionais de Ensino (DRE’s) para cumprirem o cronograma, assegurar a participação do maior número de estudantes e ainda, buscar os resultados almejados. Um esforço que muitos trabalhadores estão assumindo, para alcançar a condicionante: alterações nos índices, em troca de bonificação anunciada pelo governo a título de valorização salarial. 
Outra questão recai sobre o aspecto pedagógico dessas avaliações. “A grande pergunta é: Por que esses estudantes ainda não estão alfabetizados? O governo culpa os profissionais da educação. No entanto, não avalia o Sistema como um todo: as condições de trabalho e garantia de estrutura física adequada, estrutura pedagógica. Para além disso, o Sintep-MT cobra a implementação da avaliação a partir do Sinaeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), uma avaliação diagnóstica, e não pelo Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação)”, concluiu a dirigente.