Sintep-MT denuncia novas medidas do governo MT para maquiar qualidade da educação
Projeto imposto às escolas compromete a organização pedagógica, a gestão democrática e a aprendizagem dos estudantes.
Publicado: 24/05/2025 17:41 | Última modificação: 24/05/2025 17:41
Escrito por: Roseli Riechelmann

Às vésperas do encerramento do primeiro semestre do ano letivo, as escolas públicas estaduais de Mato Grosso, recebem orientação do governo para reclassificação de estudantes, reordenamento de turmas, e nova atribuição de aulas para os profissionais, num total desrespeito à organização já construída nas unidades escolares. Segundo avaliação do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso, o objetivo é mais uma vez mexer nos índices de reprovação e manipular os índices de qualidade da educação.
As denúncias chegaram ao Sintep-MT intermediadas pelo deputado estadual e dirigente sindical, professor Henrique Lopes. Nesta sexta-feira (23/05) acompanhado da secretária de Assuntos Jurídicos e Legislativos da entidade, Maria Celma Oliveira, visitaram a escola estadual Liceu Cuiabano Maria de Arruda Müller, a fim conferir in loco o que está por trás do “Programa de Recomposição de Aprendizagem para o Ensino Médio”.
Na unidade, o levantamento realizado apresenta 224 estudantes reclassificados dos três períodos (matutino, vespertino e noturno). Segundo os dirigentes sindicais, é evidente a insatisfação dos profissionais, assim como dos alunos e terá um impacto ainda maior junto aos pais e responsáveis.
Segregação
Henrique Lopes destacou que o rearranjo, previsto para início na próxima segunda-feira (26/05) foi feito por Avaliação Externa. “Uma empresa contratada aplicou prova que resultou na reclassificação dos alunos. Nessa reorganização atropelou a autonomia pedagógica das escolas. Serão criadas turmas com estudantes que não atingiram a média esperada, numa única sala. Uma espécie de turma multisseriada acelerada com estudantes do 1º, 2º e 3º anos. A ideia da Seduc-MT é que até o final do ano esses estudantes estejam fora da escola”, ressalta.
Diante dessas novas realidades, terão que fechar as turmas existentes, pois não existem salas onde possam colocar esses estudantes. “O objetivo é fechar a turma regular, o que impactará na atribuição de aulas. Esses alunos das turmas regulares vão ser encaixados em novas turmas e turnos, a partir da possibilidade das salas. O que mexerá com toda a organização da escola”, afirma Henrique Lopes.
Manipulação
Conforme o professor e dirigente sindical, Gilmar Soares, a medida é uma forma de apartar os alunos que sabem, daqueles que têm dificuldades de aprender. No caso da prova do Saeb, somente os estudantes avaliados aptos participam. ”Essa é uma forma de elevar o índice de aprovação em MT, com uma clara manipulação das reais condições de ensino e aprendizagem nas escolas da rede estadual em MT”, disse.
Outra denúncia, desta vez sobre um orientativo das Diretorias Regionais de Ensino (DRE’s) que determina a transferência dos estudantes evadidos. “O objetivo é que eles não computem no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) ou não façam a prova do Saeb, porque serão transferidos. Com isso maquiam o resultado. O IDEB é calculado com base nas variáveis desempenho e reprovação/evasão”, relata a dirigente Maria Celma.
Para a secretária de Políticas Educacionais do Sintep-MT e da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Guelda Andrade, agora dá para entender toda a arquitetura feita pelo governo do estado junto com o secretário de Estadual de Educação para chegar nessa reclassificação dos estudantes.
Desmonte
“Primeiro romperam com a Gestão Democrática, porque se os diretores de escolas fossem eleitos, com a participação da comunidade escolar e com o projeto político pedagógico da escola, esse tipo de reclassificação não aconteceria. A reclassificação, nos moldes da Resolução 150/99 do Conselho Estadual de Educação, segue princípios, que não são os do governo”, afirma.
A dirigente destaca que o rompimento favoreceu a nomeação de diretores com dedicação exclusiva e altos salários, distanciando a comunidade escolar e dificultando o acompanhamento da realidade nas escolas. “O governo prioriza apenas a elevação de índices educacionais, ignorando o processo real de aprendizagem dos estudantes. Compromete a ética, o respeito ao recurso público e contribuirá para o aumento do número de jovens de 18 a 25 anos na Educação de Jovens e Adultos (EJA).”, conclui.