Seduc-MT pressiona professores para adesão ao modismo virtual


A educação pelo método Plurall é vista como medida de poucos resultados na aprendizagem dos estudantes

Publicado: 07/03/2023 11:47 | Última modificação: 07/03/2023 11:47

Escrito por: Roseli Riechelmann

ilustração remixada de CALVÃO; PIMENTEL, 2014

 A forma com que o governo de Mato Grosso tem inserido plataformização da educação pública estadual é alvo de críticas pelos professores da rede. As queixas relatadas durante o Conselho de Representantes do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público (Sintep-MT), realizado em fevereiro, recaíram sobre a plataforma Plurall.  A ferramenta é vista como um instrumento de pressão e controle dos professores e que pouco resultado pedagógico apresenta para os estudantes.  

Segundo os professores, a plataforma imposta, assim como o Sistema Estruturado de Ensino, é ineficiente. A ferramenta foi empurrada sem diálogo e tampouco preparo adequado. Nas falas foram destacadas as dificuldades de trabalhar com o sistema, que apresenta tutoriais complexos e “mal feitos”.  

Conforme apresentado pelos profissionais, existe uma fragilidade já no acesso. A demanda de trabalho, com jornada estendida e a sobrecarga na atuação, em duas ou mais escolas dificulta o trabalho com a plataforma. Para os estudantes, destacam-se as dificuldades na complexidade da plataforma e no acesso, quer seja pela ausência de computadores e internet, ou mesmo de deslocamento para participar das aulas presenciais. Os professores são obrigados a acessar a ferramenta e registrarem o conteúdo “dado”, diariamente. No entanto, as escolas permanecem com deficiência de sinal, computadores e até espaço para receber os estudantes, quando estes comparecem na unidade.

Para o Sintep-MT, são vários os equívocos da plataforma. Primeiro, ao impor ao educador o desafio de se multiplicar entre orientações aos estudantes virtuais e os que estiverem presencialmente. “Apesar de ser o mesmo conteúdo, o trabalho de ensino aprendizagem presencial e virtual diferem. Não se faz trabalho remoto apenas migrando o conteúdo das aulas presenciais, para as plataformas virtuais”, destaca a secretária de Políticas Educacionais do Sintep-MT, Guelda Andrade.

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Dirigente do Sintep-MT e secretária de Assuntos Educacionais da CNTE, Guelda Andrade, em Seminário Nacional sobre desafios da educação pública

A dirigente, que também é secretária de Assuntos Educacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), relata que a plataformização da educação apresentada pela Seduc-MT segue modelos já aplicados em outros estados, por governos privatistas. “A prática busca substituir a relação humana pela mediação tecnológica, inibe a relação professor-aluno, desrespeita a autonomia profissional e atropela o Projeto Político Pedagógico da escola, que valoriza as particularidades de cada comunidade escolar”, afirma Guelda.

Segundo Guelda, “é fundamental aprovarmos o Sistema Nacional de Educação para avançarmos numa política de Estado, só assim, findaremos com o modismo educacional dos gestores mal assessorados, que promovem a desumanização da educação pública pelo viés economicista”.

Os professores da rede estadual de Mato Grosso questionam a plataforma Plurall por impactar na jornada de trabalho, pois as horas dedicadas a ferramenta está além do período de sala de aula. O sistema traz ainda o agravante de controle de índices de adesão, acirrando o modelo de competição e coerção, já implementado com a nova forma de remuneração profissional, que cria castas dentro da educação e premiações pelos “melhores resultados”.