Profissionais questionam exclusão no debate sobre militarização na Escola Gustavo Kulmann


A votação na escola está marcada para os dias 26 e 27 de junho com pais e estudantes maiores de 16 anos

Publicado: 24/06/2025 15:40 | Última modificação: 24/06/2025 15:40

Escrito por: Roseli Riechelmann

Reprodução

A comunidade da Escola Estadual Gustavo Kulmann, localizada no bairro Jardim Vitória em Cuiabá, enfrenta novamente a ameaça de perda de sua identidade educacional. Nesta semana, pais e estudantes com mais de 16 anos decidirão sobre a adoção do modelo cívico-militar, em um processo que excluiu os profissionais da educação da discussão central.

A votação está marcada para os dias 26 e 27 de junho, antecedida por uma reunião com a Diretoria Metropolitana de Educação (DME), braço da Seduc-MT, nesta terça-feira (24/06), às 19 horas. Segundo relatos, a Seduc-MT orientou que o encontro fosse focado na "divulgação das positividades" do modelo, sem espaço para debate crítico. Profissionais da escola foram comunicados que não devem ter fala no planejamento desta conversa com a comunidade, sob alegação de que não terão direito a voto – medida criticada como censura e falta de democracia, pois impede a apresentação de argumentos contrários baseados na experiência pedagógica.

Contexto e Tensões

A escola, antes situada no bairro Goiabeiras, enfrenta atualmente desafios como sobrecarga de trabalho, falta de profissionais e problemas estruturais no prédio antigo (originário da rede municipal, onde já funcionava como cívico-militar). A direção escolar alega que buscou o modelo cívico-militar junto à Seduc-MT como solução para garantir mais recursos e profissionais para o trabalho diário, afirmando que o apoio necessário "não virá de outra forma e a escola precisa".

Críticas ao Processo e ao Modelo

O Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT) denuncia a estratégia de desmonte prévio para justificar a militarização. "O governo cria o caos para depois apresentar a militarização como tábua de salvação", afirma Valdeir Pereira, presidente do Sintep-MT. Ele ressalta que o problema não é a violência escolar, reflexo da sociedade, mas sim a entrega da gestão a militares da reserva com altos salários, um modelo que pode excluir alunos por sua metodologia.

Henrique Lopes, futuro presidente do Sintep-MT, reforçou que "Quem entende de educação são os educadores. Qual a razão de não os ouvir?". Ele defende uma escola que respeite a diversidade, incluindo expressões individuais como cortes de cabelo, tatuagens e brincos – práticas que, segundo relatos da direção atual da escola à comunidade, não seriam proibidas na Gustavo Kulmann, caso escolha o modelo cívico-militar. Contudo, educadores alertam que essa flexibilidade é rara, pois na maioria das escolas estaduais cívico-militares, as restrições surgem com a imposição após a distribuição das fardas dos estudantes.

Divisão e Preocupações

A maioria dos estudantes demonstra contrariedade ao modelo, muitos por terem vivenciado suas práticas rígidas (como o canto do hino em ordem unida, ainda presente na rotina atual) quando a escola era municipal.

No caso dos educadores, encontram-se divididos. Parte apoia a militarização por vê-la como única via para recursos. Os contrário temem a perda da identidade pedagógica e a exclusão de alunos, mantendo-se majoritariamente discreto devido ao clima de censura.

A proximidade entre a reunião de divulgação hoje (24/06) e a votação (26 e 27/06) também gera receio. O prazo é considerado insuficiente para um debate qualificado com a comunidade escolar ampla, especialmente entre aqueles que não puderem comparecer no dia 24.
 

*atualizada 18h15