Professor de João Pessoa é destaque ao desenvolver trabalho de educação antirracista
Projeto trabalha a valorização da cultura e história negra brasileira entre estudantes do ensino médio
Publicado: 03/02/2025 11:54 | Última modificação: 03/02/2025 11:54
Escrito por: Redação CNTE

Na capital paraibana, a necessidade de promover uma educação antirracista dentro da escola chamou a atenção do educador Iago José Lima de Melo, 31. Professor na Escola Cidadã Integral Técnica Pedro Anísio, ele se tornou um aliado no resgate da identidade e promoção do ensino étnico-racial ao desenvolver o projeto “Laboratório Experimental da Negritude: potencializando uma educação artístico-cultural e antirracista para o êxito escolar”.
Os resultados positivos da iniciativa lhe garantiram destaque pela Região Nordeste na segunda edição do Concurso Juventude que Muda a Educação Pública, da CNTE. Junto aos outros quatro vencedores, em julho de 2025, Iago viajará até Recife, Pernambuco, para apresentar o seu projeto no Encontro Pré-Congressual da Juventude da CNTE, que acontece nos dias 17 e 18.
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O projeto
Ele conta que a proposta surgiu a partir de um diagnóstico étnico-racial feito junto aos alunos. Em escola composta por maioria negra e parda, muitos desses estudantes não se identificavam ou não se consideravam negros.
“A partir da aplicação de um diagnóstico étnico-racial realizado no início do ano letivo de 2024, com as oito turmas do ensino médio, o resultado revelou algo preocupante: muitos desses estudantes não se reconheciam ou não se consideram negros. Diante dessa constatação, iniciei um trabalho de letramento racial, promovendo a conscientização sobre identidade e pertencimento”, conta.
Inspirado no Teatro Experimental do Negro (TEN), de Abdias Nascimento, e no Laboratório Experimental da Negritude (LEN), o educador realizou uma série de atividades voltadas para a valorização das narrativas e das práticas artísticas que refletissem a identidade, experiências e garantissem o espaço de protagonismo aos estudantes negros.

“Desenvolvi atividades como exibição de filmes, leituras, rodas de conversa e a criação de um espetáculo de teatro antirracista ‘Redoma’. Este projeto também foi fundamentado nos conceitos da ‘Pedagogia do Oprimido’, de Paulo Freire, e do ‘Teatro do Oprimido’, de Augusto Boal. As práticas teatrais na construção de Redoma e todas as ações realizadas ao longo dos quatro bimestres foram norteadas por essas abordagens, que visam dar voz aos oprimidos e promover a transformação social por meio da educação e da arte”, explica Iago.
Foram quatro bimestres de execução, com participação e recepção positiva por parte dos estudantes.

Trajetória na educação
Com apenas 31 anos de idade, há 15 anos, Iago tem se dedicado ao trabalho na educação. Ele conta que, na adolescência, o sonho da sua mãe era que ele seguisse a profissão. Mas somente após ingressar no magistério que a paixão pela sala de aula foi despertada no educador.

“Ao mesmo tempo (em que cursava o magistério), eu fazia peças de teatro no pequeno povoado de Cacimbão, na zona rural da cidade de Pesqueira, no interior de Pernambuco. Foi lá que conheci o teatro e me apaixonei ainda mais pela educação”, declara.
Aos 15 anos, ele iniciou seus primeiros passos como professor, mesmo que informalmente, dando aulas particulares em casa, auxiliando na alfabetização das crianças da comunidade rural onde morava.
Hoje, ele é formado em licenciatura em Teatro pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), especialista em Artes e Tecnologias pela Universidade Federal Rural de Pernambuco e em Educação Cooperativa pela Universidade de Mondragon, na Espanha, e mestre em Teatro pela Universidade de Évora, de Portugal.
Juventude que Muda a Educação Pública
Em julho de 2025, os cinco vencedores do Concurso da CNTE viajarão para Recife, Pernambuco, para apresentar os resultados de seus projetos no Encontro Pré-Congressual da Juventude da CNTE, que acontece nos dias 17 e 18.
Para Iago, o momento também será uma oportunidade de compartilhar e inspirar mais educadores jovens a replicarem a sua iniciativa nas escolas do país.
“Mesmo sabendo da força e da importância desse projeto, tanto para a comunidade escolar quanto para além dos muros da escola, alcançando e impactando a sociedade, foi uma surpresa ser selecionado para representar a região Nordeste. Estou muito feliz e grato por essa valorização do meu trabalho enquanto professor”, declara.
“Esse é o meu primeiro prêmio nacional, e eu o abraço com muita alegria e gratidão. Estou empolgado, curioso e, ao mesmo tempo, ansioso para apresentar no Encontro Pré-Congressual da Juventude da Confederação. Quero mostrar como o projeto foi elaborado e compartilhar com o público a sua essência. Meu objetivo é que as pessoas que estiverem lá conheçam o trabalho realizado, que ele inspire e sirva de modelo para ser replicado em outras escolas do Brasil”, celebra.
Segundo explica Luiz Kreham, que coordena o Coletivo de Juventude da CNTE ao lado de Bruno Vital, o concurso é uma forma de dar luz ao trabalho e projetos que têm sido desenvolvidos pelos jovens educadores da educação pública. Ele conta que muitos jovens, ao ingressarem na educação pública, chegam com muita vontade de transformar a sociedade e o ensino, entretanto, não enxergam na militância sindical, necessariamente, a única maneira de alcançar esse objetivo.
"Eles/as estão extremamente engajados nessa mudança, e poderiam estar se dedicando a projetos educacionais nas suas unidades escolares. Então, como uma forma de aproximar a CNTE, os seus sindicatos filiados e o Coletivo de Juventude desses educadores jovens e engajados, com um profundo sentimento de transformação da educação pública, a gente pensou nesse concurso", explica o dirigente.
Para Bruno Vital, a segunda edição do Concurso acontece para solidificar a iniciativa da CNTE, que tem recebido bons projetos de todas as regiões do país durante as seletivas.
"O nosso objetivo continua o mesmo: alcançar iniciativas de jovens do Brasil todo e dar visibilidade ao que tem sido feito, seguindo a pedagogia freireana. Essa segunda edição veio consolidar o nosso concurso que, mais uma vez, obteve bons projetos inscritos, com boas ideias que estão sendo trabalhadas pelos educadores jovens no Brasil", destaca.