MT tem 593 mil analfabetos e desigualdade social é maior obstáculo
Dados são do IBGE e preocupam, segundo professora do ensino fundamental; demora em entrar na escola também é entrave
Publicado: 11/09/2023 16:54 | Última modificação: 11/09/2023 16:54
Escrito por: RDNews/Beatriz Passos
Em Mato Grosso, cerca de 593 mil pessoas, maiores de 15 anos, ou 16% da população, são analfabetas, conforme levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizado em 2022. Desse total, 449 mil são negras ou pardas e 135 mil são brancas, as demais não tiveram etnia informada. Para a professora de ensino fundamental da rede estadual de ensino Maria Luiza Zanirato, o maior desafio dessa realidade é fazer com que os estudantes tenham condições sociais para frequentarem as escolas e aprendam desde o básico sem acumular deficiências na aprendizagem.
No levantamento foi constatado que 4.484 crianças de 0 a 1 ano não estão frequentando creche ou escolas; na mesma situação estão 2.790 crianças de 2 a 3 anos; e 513 mil menores de 4 a 5 anos.
Em entrevista ao RD News, Maria Luiza Zanirato explica que existem muitas crianças fora das unidades escolares, o que prejudica toda a vida letiva.
“A gente tem ainda um percentual muito alto de dados que mostram que a alfabetização não está sendo realizada em idade própria, que seria de 6 a 7 anos. Existe a legislação que incentiva a inserção das crianças ainda mais cedo no meio escolar. Mas ainda temos uma realidade, em Cuiabá, de milhares de crianças fora das creches e 90% estão fora da pré-escola, uma condição que tem um impacto muito grande em todo o processo de ensino”, ressalta a professora, que também é diretora do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT).
De acordo com Maria Luiza Zanirato, embora exista pontos que precisam de melhorias no sistema de ensino, são as desigualdades sociais que dificultam a permanência dos alunos nas escolas, inclusive no período de alfabetização.
No caso dos estudantes menores de idade, que necessitam do auxílio da rede familiar para complementar a aprendizagem, ainda é observado o problema de que os responsáveis não tenham nível de escolaridade compatível para ajudar os alunos, como na tarefa de casa, por exemplo.
“A vida de quem não consegue completar uma alfabetização regular tem muitas dificuldades. Neste contexto, a falta de auxílio familiar, por falta de condições, pode gerar um déficit na aprendizagem do básico.
De forma que esse aluno avança na vida letiva, mas não consegue compreender outras disciplinas, justamente por não ter adquirido uma alfabetização completa. Porque quem não lê, não entende e não escreve”, enfatiza a professora.
Ainda conforme os dados do IBGE, o maior grupo de analfabetos são pessoas de 15 a 17 anos, com 134 mil mato-grossenses, logo após é o grupo das pessoas de 18 a 24 anos, com 133 mil registrados. O terceiro maior grupo é o de pessoas de 25 a 39 anos, com 131 indivíduos identificados.
Quadro - pessoas analfabetas em MT
Ao todo, 213 mil alunos estão matriculados nas creches e pré-escolas de todo o Estado. Outros 478 mil estão regulares nas redes de Avanço do Jovem na Aprendizagem (AJA), Ensino Fundamental e Ensino para Jovens e Adultos (EJA) do Ensino Fundamental. Como também 158 mil estudantes são atendidos pelo Ensino Médio e EJA do Ensino Médio.
Na avaliação da diretora do Sintep, quando o abandono escolar ocorre na infância é comum que o aluno só retorne à vida escolar na fase adulta, por ser um perfil em vulnerabilidade social, essas pessoas enfrentaram ainda mais obstáculos para dedicação aos estudos.
“Em geral são as pessoas em vulnerabilidade social e de baixa renda que enfrentam dificuldades para permanecer no ensino, seja porque moram muito longe, precisam trabalhar ou por algum outro motivo não conseguem estar dentro de uma escola. E quando existe essa evasão na infância, geralmente o retorno ainda crianças ou adolescente é difícil, e as pessoas buscam retomar a formação somente na vida adulta”, completa.