Mauro Mendes mostra desconhecimento sobre ensino público ao engessar jornada com WebPonto


Tal medida revela, de maneira cristalina, a ignorância do governador quanto às atividades e jornada de trabalho dos educadores dentro de uma unidade de ensino.

Publicado: 03/03/2022 19:14 | Última modificação: 03/03/2022 19:14

Escrito por: Andressa Boa Sorte/Sintep-MT

Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

Os trabalhadores da Educação de Mato Grosso precisam lidar, para além dos desafios da pandemia, com mais uma medida arbitrária e descabida tomada pelo governador Mauro Mendes: a implantação de Ponto Eletrônico nas unidades escolares da rede pública estadual.

Tal medida revela, de maneira cristalina, a ignorância do governador quanto às atividades e jornada de trabalho dos educadores dentro de uma unidade de ensino. Mauro Mendes, acostumado com o processo industrial (visto que é empresário do segmento), usa de sua experiência como “dono de fábrica”, para comparar o processo de construção de conhecimento, à uma rotina de repetição e produção em série de uma peça de ferro.

“Engessar a organização pedagógica da escola com a implantação do ponto eletrônico mostra que o governador não tem a menor ideia de como é a rotina dentro de uma escola, onde as relações de trabalho e as relações humanas ultrapassam a jornada de 30 horas semanais, que é a realidade da maioria dos concursados da rede estadual de ensino hoje”, disse a Secretária de Políticas Educacionais do Sintep-MT, Guelda Andrade. Ela ainda questiona: “Será que o governador pensa que os trabalhadores vão deixar de atender os pais de estudantes nas reuniões, que ocorrem sempre após o horário de trabalho, entre outras atividades que ocorrem no espaço da escola? Ou então, que o professor vai deixar de tirar a dúvida de um estudante assim que ‘bater o sino’?”, criticou a sindicalista.

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Para o Sintep-MT, Mauro Mendes ainda gera outros agravantes com a implantação do Web Ponto para educadores. Isso porque, em Mato Grosso, são inúmeros os casos de profissionais que atuam em dois, três turnos e em escolas diferentes. Para o Sindicato, o governador não pensou que existe toda uma logística e que deve-se levar em conta a realidade de cada escola. “Quem precisa organizar isso de modo que funcione, é o próprio gestor daquela unidade, porém, ao engessar a jornada de trabalho com o webponto, o governador tirou essa autonomia e feriu, mais uma vez, a gestão democrática”, destacou Guelda.

Além disso, a implantação de Ponto Eletrônico mostra a visão “tecnicista” e industrial de Mauro Mendes quando o assunto é o Ensino Público. “O espaço da escola não é como o chão de uma fábrica. Na escola, a organização dos trabalhos, a demanda, é completamente diferente. Trata-se de construção de conhecimento. É um momento que exige tempo, reflexão, formação, diálogo e construção coletiva, que muitas vezes, vai para além das 30 horas semanais. A organização pedagógica da escola deve ter como referencia o Projeto Político Pedagógico da escola, e é com base nessa organização coletiva e democrática que deve ser criada a forma de monitorar e controlar a jornada de trabalho dos profissionais da educação. O ponto eletrônico desumaniza as relações de trabalho no espaço da escola”, disse Guelda.

Para os trabalhadores da Educação, a desconfiança do governo quanto ao trabalho desenvolvido pelos educadores é apenas reflexo da forma como o próprio governo trata a Educação. “A grande maioria dos trabalhadores que estão dentro das escolas, estão ali por terem compromisso com o ensino público, portanto, não têm a intenção de lesar o Estado. Já o Estado, por sua vez, mostra que, para este governo, a educação é como qualquer outra atividade, que pode ser mensurada por meros relatórios quantitativos. O que é preciso que o governo entenda, é que nós estamos trabalhando em construção de conhecimento, buscando uma sociedade mais justa e humana. Se o espaço da escola é tratado como uma fábrica, perde toda sua autonomia para lidar com as particularidades humanas”.

O presidente do Sintep-MT, Valdeir Pereira, também criticou a medida. “O espaço escolar precisa de equipes gestoras humanas e que levam em conta as relações democráticas, que respeite o ser humano. Não estamos dizendo que temos que banalizar a jornada de trabalho. Porém, no diálogo coletivo, é possível construir uma forma de fazer esse controle sem engessar e ferir a autonomia das escolas e sem atrapalhar os servidores que atuam em mais de uma escola e que ficam horas extra-sala atendendo demandas que surgem nesse processo da atividade escolar”, disse Valdeir.