Mães Professoras e a dupla jornada na pandemia


O desafio de ensinar os próprios filhos e os filhos das outras mulheres. Parabéns educadoras!

Publicado: 27/05/2021 11:05 | Última modificação: 27/05/2021 11:05

Escrito por: Roseli Riechelmann

Reprodução

Toda mulher que escolhe a maternidade é mãe em tempo integral. Não tem como abandonar o título. Se está trabalhando, namorando, os filhos adultos, e até mesmo quando eles perdem a vida. Mãe é mãe sempre. Dentro dessa magia que é a maternidade, seja biológica ou de coração, existe uma categoria que tem vivenciado uma realidade à parte. As mães professoras. Em tempos de pandemia, com atividades remotas, o papel de mãe se tornou uma tarefa extra, já que o tempo dedicado aos filhos se mistura com as atividades escolares.

Até então, elas eram apenas mães, 24 horas por dia e tinham a possibilidade real de organização. Com hora para o trabalho, lazer pessoal, e acompanhar as diferentes necessidades dos filhos, na função de mãe; estudo, passeio, levar ao médico, o preparo de um prato especial, para o jantar em família. Contudo, a pandemia, somada a (des)organização da política educacional, fez da vida das mães professoras um pandemônio.

Hoje o relógio traz a sensação de estar no personagem do coelho branco de Alice no País das Maravilhas, quando 24 horas são insuficientes para as demandas da atuação profissional. Na vida moderna a tecnologia ajuda e atrapalha, o whatsapp lembra o grande irmão do livro 1984 de George Orwell, sempre acompanhado pela educadora, em casa, no supermercado em todos os espaços. A vida virou um reality show, monitorado pelos estudantes, pelos pais, pelos gestores escolares, pelas atividades coletivas com os pares, a todo o tempo. O trabalho apresentou uma sobrecarga a mais, para essas mães.

A professora Jéssica, responsável por 13 turmas de ciências, e 3 turmas de biologia, é mãe de uma garotinha de sete anos. Ela relata sua frustração por ficar sem tempo para brincar com a filha, que cobra sua atenção. “Nunca estivemos tanto tempo juntas fisicamente, mas acaba não sendo um tempo de qualidade”, relata. Conforme a professora, quando não está fazendo "nada", aproveita para preparar as aulas da semana seguinte. “Preparo apresentações, gravo os vídeos para disponibilizar para os alunos”, relata.

A jornada de trabalho estabelecida pela categoria, está submersa frente a política de teletrabalho disponibilizada pelo governo. Os estudantes não compreendem horário de aula, eles mandam mensagem à noite, aos sábados, domingos. “A gente perdeu esse espaço de casa que era da família”.  O quarto ganhou uma nova formatação e virou sala de aula, muitas vezes com a filha dormindo ao lado. “Família e trabalho acabaram se fundindo”, diz.

No caso da professora Jéssica não apenas o quarto, mais a sala também, pois criou um espaço para que a filha estude e as duas possam desenvolver as atividades de forma independente. Mas essa organização tem apoio de uma terceira pessoa: a mãe da professora Jéssica. “Minha mãe acabou me ajudando”, ressalta.

Para a professora Nádia, tudo é muito novo e desafiador. Depois da separação em 2019, construiu um espaço para ela e os dois filhos adolescentes. O trabalho e o crescimento profissional tiveram uma prioridade que não estava tão presente até então. Ela continua a mãe de família, com horário para o supermercado, para a escala com os filhos, no horário do passeio com o cachorro, para fazer o almoço e para estudar, no curso de pós graduação.

A rotina diária, que começa às 5 horas da manhã, finaliza altas horas da noite, após as aulas do mestrado.  No período da manhã inicia o trabalho com aulas para os estudantes da rede municipal. Alterna o período para a correção das atividades e o início do almoço dos filhos. No período da tarde, dá aulas na rede estadual em quatro escolas para estudantes do Fundamental e Ensino Médio, com algumas turmas no período noturno. “São muitos grupos, muitos alunos e muito, muito cansativo”, relata.

A professora também adotou o quarto como escritório, e reservou um espaço para sua bancada de trabalho. “Meus filhos já sabem que estou trabalhando e não atrapalham”, diz.  E relata que tem sido muito estafante e por vezes parte das tarefas, a parte burocrática acaba ficando de lado.

A categoria dos profissionais da educação é composta por 82% de pessoas do sexo feminino. No Dia das Mães é impossível não as reverenciar. Principalmente, nas atuais circunstâncias de isolamento, sobrecarga de trabalho e onde muitas mães estão sendo forçadas a colocar a atenção aos filhos em segundo plano.

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Fonte:Assessoria/Sinteo-MT