Exploração e desvalorização do ensino aumentam crises de ansiedade e depressão


Segundo psicóloga, saúde mental dos professores e das professoras levaram a categoria à solidão e isolamento

Publicado: 25/07/2022 15:44 | Última modificação: 25/07/2022 15:44

Escrito por: Redação/CNTE

Tania Rego/ Agência Brasil
Saúde mental professores

Relatos de ansiedade, depressão e outros problemas relacionados a saúde mental são cada vez mais frequente entre professores/as e alunos/as no Brasil, principalmente com retorno das aulas presenciais, depois de dois anos de pandemia da Covid-19, e problemas na estrutura educacional, que se arrastam bem antes da crise sanitária.

Essas crises que os trabalhadores e trabalhadoras da educação enfrentam é resultado da exploração de trabalho das professoras e dos professores e da desvalorização do ensino no país, afirma a professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Dra. Marilda Gonçalves Dias Fucci.

“Há muito tempo a classe trabalhadora vem sofrendo com a exploração e com as condições de trabalho. No caso dos professores, nós temos realizados pesquisas que apontam que muitos professores estão adoecendo e quando a gente vai conversar com eles, fazer uma entrevista ou preencher um questionário, a gente vê o que está acontecendo e o que está provocando esses adoecimentos, como a precarização do trabalho e o pouco investimento na educação”, afirma Fucci, que também é membra da Associação Brasileira de Psicologia Escolar Educacional (Abrapee).

A constatação já foi confirmada no estudo “Novas formas de trabalhar, novos modos de adoecer”, realizado com 714 trabalhadores da educação, divulgado no fim de 2021, pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).

O medo de pegar a doença e a mudança no trabalho, que passou a ser a distância, impactaram a saúde mental dos professores e das professoras e levaram a categoria a solidão e isolamento.

“Trabalhadores hiperativos, competição exacerbada, descarte dos diferentes, exigências incompatíveis com a realidade, desvalorização das entregas, falta de autonomia, opressão burocrática, disponibilidade plena e flexibilidade total, tomando a máquina como ideal da produtividade humana foram alguns dos sintomas verificados nesse novo modelo de trabalho”, diz trecho do estudo, que teve como objetivo central conhecer os impactos do trabalho remoto na saúde emocional nos trabalhadores e nas trabalhadoras em educação.

Danos físicos e psicológicos

Problemas nas cordas vocais, distúrbios osteomusculares, lesão por esforço repetitivo e doenças do aparelho respiratório foram os danos físicos mais notificados pelos docentes.

Segundo Marilda, ainda há muitos professores e professoras afastados da sala de aula porque estão com dificuldades de trabalhar com alunos por conta de adoecimento, teve um acirramento da precarização do trabalho o que já vinha acontecendo anteriormente.

“Com a pandemia as condições de trabalho só pioraram porque o professor ou a professora teve que trabalhar por conta própria, utilizar os seus recursos e equipamentos, sua própria casa para dar aula”, reitera.

Nos danos psicológicos, destacam-se o estresse crônico, ansiedade, depressão e síndrome de Burnout. Os danos sociais que se sobressaíram relacionam-se a sobrecarga, hiperatividade, solidão por ausência do coletivo e assédio moral.

Com sair desta

A Dra. Marilda defende ainda que é importante fazer um trabalho coletivo para ajudar a saúde dos professores, tanto física como psicológica.

“No espaço da sala de aula, nós da psicologia podemos ajudar bastante porque nós podemos criar espaços de acolhimento, de escuta, espaço onde a gente junte os professores em grupo e eles com auxílio de psicólogos, equipe pedagógica e assistente social, de pensar em estratégias para enfrentar toda essa situação de sofrimento”.

O estudo “Novas formas de trabalhar, novos modos de adoecer” também aponta algumas recomendações, como aprimorar processos de escuta, atuar no chão da escola, elencar as carências nas organizações do trabalho, estabelecer estruturas mínimas de tecnologia, definir cursos necessários, entre outras.

“O espaço de discussão é necessário para a humanização da categoria e diminuição das patologias. O fato de poder compartilhar suas inseguranças e medos, faz com que ansiedades diminuam”, diz trecho final do estudo.

Alunos também enfrentam crise

Estudos revelam que com a pandemia e as novas formas de ensinar, impostas pela necessidade de distanciamento social, geraram isolamento e solidão também entre alunos.

Essa realidade ganhou um novo elemento com o retorno das aulas presenciais. Em abril deste ano, por exemplo, três casos de crise de ansiedade chamaram atenção em Recife, no qual 26 estudantes da Escola de Referência em Ensino Médio Ageu Magalhães, em Casa Amarela, Zona Norte da capital, passaram mal com falta de ar, tremor e crise de choro.

Para a psicóloga, se o professor está adoecido, com os alunos também não é diferente. Ela diz ainda que tem realizado pesquisa com alunos de universidades de psicologia em relação a ensino remoto e, o resultado aponta ainda que, os alunos afirmam ter “um sentimento de insegurança”, de não saber até que ponto o conhecimento que eles tiveram nos últimos dois anos está realmente preparando-os profissionalmente.

“É esse sentimento que as crianças têm, dois anos afastados da escola. O professor sofre porque quer ensinar e o aluno sofre porque quer aprender. Sofre os dois, professor e aluno”, finaliza a professora e psicóloga.