Estudantes do Ensino Médio que usam transporte escolar estão prejudicados na 6ª aula


Descompasso entre o novo horário escolar e o transporte compromete a aprendizagem de centenas de estudantes, especialmente os do campo e indígenas

Publicado: 23/05/2025 17:37 | Última modificação: 23/05/2025 17:37

Escrito por: Roseli Riechelmann

Reprodução

Professores relataram ao Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT) a recorrente perda da última aula do dia, em diversas disciplinas do Ensino Médio, devido ao transporte escolar sair uma hora antes do término das aulas nos turnos matutino e vespertino.

Ao contrário do que se esperava, a ampliação da carga horária no Ensino Médio em Mato Grosso, de 5 para 6 aulas diárias, tem registrado prejuízos na aprendizagem dos estudantes, especialmente aqueles das comunidades indígenas e do campo, que dependem do transporte escolar.

Em Campo Novo do Parecis, município com forte presença do agronegócio, as famílias do campo, com filhos em idade escolar, dependem do transporte para que as crianças e jovens frequentem escolas urbanas. Essa realidade, conforme os professores relatam, faz com que diariamente, as salas com mais de 30 estudantes fiquem esvaziadas, permanecendo apenas de 4 a 8 alunos até o final da jornada.

Essa situação compromete não apenas os alunos que deixam a aula mais cedo, mas também os que permanecem. Segundo os educadores, o conteúdo não pode ser plenamente desenvolvido, pois precisará ser reapresentado na aula seguinte. No entanto, se for considerado como ministrado, prejudica a maioria dos estudantes, que sequer tiveram acesso a ele.

Segundo os educadores, as orientações das Diretorias Regionais de Ensino (DREs), determina marcar presença para os alunos do transporte escolar mesmo sem assistirem às aulas, o que agrava o problema e mascara a real dimensão da falta de qualidade da aprendizagem. “As planilhas das aulas são montadas para o ano letivo, com possibilidade de ajustes apenas em casos excepcionais. Isso torna a lacuna de conteúdo ainda mais grave", esclarece o professor e dirigente sindical, César Guedes.

A situação tem gerado frustração entre os profissionais, especialmente entre os que lecionam apenas uma aula semanal e todas no sexto período, com turmas sistematicamente esvaziadas. “Isso compromete totalmente a aprendizagem. Observamos que, nos moldes atuais, ao contrário de agregar, a sexta aula tem dispersado, gerado inconveniências e as vítimas diretas são estudantes e docentes.”, lamenta outro professor.

Outro ponto levantado pelos educadores refere-se às dificuldades de concentração dos estudantes quando as escolas são militarizadas. Nessas unidades, 15 minutos da quinta aula são utilizados para atividades cívicas, como ordem unida e o canto do Hino Nacional. “Depois desse momento, os alunos retornam agitados e com foco reduzido, já esperando pelo fim das aulas”, explica um educador.

Para o Sintep-MT, o caso evidencia a desconexão entre a proposta de ampliação da jornada e a realidade vivida pelas escolas públicas. “É uma falácia afirmar que aumentar a carga horária melhora automaticamente a aprendizagem, sem considerar as condições reais dos estudantes”, afirma Guelda Andrade, secretária de Políticas Educacionais do Sintep-MT.