Especialistas defendem investimento na educação para reduzir desigualdades regionais


É preciso melhorar a qualidade do investimento na educação e na política social.

Publicado: 29/12/2022 11:47 | Última modificação: 29/12/2022 11:47

Escrito por: Assessoria/CNTE

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O governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisará recompor o orçamento e melhorar a qualidade do ensino se quiser reduzir as desigualdades estudantis. Após andar para trás durante os quatro anos do governo Jair Bolsonaro (PL), a educação pública no Brasil precisa de um novo rumo, defendem especialistas.

A concentração de pessoas que vivem em situação de pobreza no Nordeste é a maior entre as cinco regiões brasileiras, conforme atesta a pesquisa mais recente publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Não por acaso, a Região também tem o maior número de pessoas analfabetas, cerca de 13,9%, índice quatro vezes maior do que o encontrado no sul e sudeste, que respectivamente apresentam 3,5% e 3,6%, regiões com os menores índices de analfabetismo. As regiões norte e centro-oeste têm taxas estimadas em 8% e 5,4%.

De acordo com o economista Marcos Mendes, pesquisador do Centro de Gestão e Políticas Públicas do Insper e consultor licenciado do Senado Federal, o governo Lula vai precisar colocar mais dinheiro na educação e na assistência social para reduzir as desigualdades regionais e o abismo que separa ricos e pobres.

"É preciso melhorar a qualidade do investimento na educação e na política social. Ao invés de subsidiar empresas para irem para o Norte e Nordeste, é preciso investir nas pessoas do Norte e Nordeste para elas terem capacidade de gerar renda", afirma o pesquisador em entrevista ao site Terra.

Segundo Marcos, se houver uma boa política de educação e capacitação das pessoas, as desigualdades regionais também se reduzem.
“Estudos indicam que se o nível educacional dos nordestinos fosse igual ao nível educacional das pessoas das regiões Sul e Sudeste, seria praticamente possível fechar a diferença de renda entre as duas regiões", completa.

Mendes aponta que a saída para resolver o problema da desigualdade é fazer boas políticas públicas em outras áreas e a principal delas é a educação. “A teoria econômica moderna mostra que crescimento se faz com aumento do capital intelectual, capital humano, geração de ideias e habilidades das pessoas de usarem tecnologias mais sofisticadas. Tudo isso passa pela educação”, diz.

Combater a desigualdade também é combater o racismo

Gabriela Mendonça, pedagoga, produtora cultural e uma das fundadoras da Jangada Escola no Rio de Janeiro, acredita que além de combater as desigualdades, é preciso também combater o racismo na educação. “Será necessário priorizar o combate ao racismo, intensificar e ampliar os investimentos públicos para que a ampliação da lei 10.639/03, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira, seja efetiva”, diz Mendonça.

Nos últimos anos, houve um crescimento de crianças não alfabetizadas e a maior parte foi entre alunos negros e pardos do que em estudantes brancos, segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) Contínua Educação 2019, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O analfabetismo entre negros é três vezes maior do que os brancos.

Para a pedagoga, isso ainda é fruto do racismo estrutural no Brasil que se organiza de diversas formas, inclusive nas escolas. “Podemos, através da educação, desconstruir o mito da democracia racial. É um processo urgente e importantíssimo para reformulação do imaginário sobre igualdade e direitos, reconhecimento de privilégios e consequente e construção de práticas antirracistas dentro e fora das escolas, diz Gabriela.