Erros e mais erros do “Sistema (des)Estruturado” do Governo de Mato Grosso na Educação


Ano após ano, desde 2022, quando foram implementadas junto à Rede Estadual de Educação, professores têm apontado erros nas apostilas, que não são corrigidos pela editora

Publicado: 02/02/2024 19:36 | Última modificação: 02/02/2024 19:36

Escrito por: Wagner Zanan

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Na arte, a linha do tempo contina na apostila, que apresente duas Idades Medias e subtrai a Idade Moderna. No recorte sobreposto, uma linmha do tempo com a informação correta, contendo o período denominado Idade Média

Desde 2021 o “Sistema Estruturado” de educação, adquirido e implementado pelo governo Mauro Mendes, vem demonstrando que de estruturado mesmo só tem o nome. A começar pelo material didático apostilado, inserido na rede pública a partir de 2022,  que continua a apresentar erros, velhos e novos erros. Os professores da rede estadual recém voltaram às escolas para o planejamento do ano letivo 2024 e já se deparam com erros impressos nas apostilas.

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Capa de uma das apostilas utilizadas pelo Sistema Estruturado de Educação de MT

Erros grotescos que podem impactar a educação de nossos jovens estudantes, e por consequência, seu futuro. E não se trata aqui da falta de um acento em uma palavra, ou uma vírgula fora de lugar, não. Mas de conteúdo. E isso é muito grave! Por mais que o professor corrija o conteúdo em sala de aula, ao perceber o equívoco na apostila, o aluno, ao estudar em casa para uma prova, por exemplo, pode não se lembrar da correção e absorver informação errada.

Velhos erros, apostila nova?

Um dos erros observados diz respeito à divisão da História Humana. Ao estudar História Geral, o aluno se depara com o grosseiro erro na “apostila” do Sistema (des)Estruturado. A página 03 do caderno de História – 1ª ano do Ensino Médio, onde apresenta a divisão das eras históricas (Pré-História, Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea). Um gráfico da Linha do Tempo Histórico da apostila apresenta o mesmo erro detectado no ano passado (2023). Ou seja, logo após o período denominado Idade Média, ao invés de aparecer Idade Moderna, aparece novamente a Idade Média. 

Corrigir a falha em foco seria bem simples, caso uma revisão do material tivesse sido realizada. Se quisessem manter a arte original, bastaria editá-la, substituindo o termo Idade Média, em sua segunda aparição, pelo termo Idade Moderna. Poderia também substituir o gráfico errado por outro correto, era só pesquisar na internet e substituir o gráfico inteiro. Existem aos montes, dos mais simples aos mais elaborados, dos mais lúdicos aos mais analíticos.

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Na arte acima, no topo, a linha do tempo com erro de informação e abaixo quatro exemplos de linhas do tempo sem erro

 

Errar é humano, repetir... é sistema estruturado

“Esse erro já havia sido apontado no ano passado. Isso mostra que não houve revisão do material. Provavelmente a empresa contratada pelo governo está simplesmente trocando as imagens, nas artes das capas, né, pra dar uma impressão de que é, assim, um material adaptado à realidade de Mato Grosso. Mas pelo que estamos vendo, não mudou nada não”, avalia o Secretário Adjunto de Políticas Educacionais do Sintep-MT, Professor Gilmar Soares.

E esse não é o único erro. Vários professores da rede estadual, apontaram mais falhas grosseiras e que só não causam estrago na formação dos estudantes porque os professores estão atentos. Eles destacam outros dois equívocos no próprio caderno de História.

“São erros crassos, como por exemplo, no material de História, da 1ª Série do Ensino Médio, além do gráfico da linha do tempo que repete a Idade Média, onde seria Idade Moderna. Em outro ponto, na página 05, apresenta um mapa sobre o deslocamento humano pela Terra, cuja teoria não é de um todo aceita e se esquece de mostrar outras rotas, como a da Polinésia”, aponta o educador, que pediu o anonimato por medo de represálias da Seduc-MT.

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O gráfico apresenta as rotas de migração do homem pré-historico, mas esquece-se da rota polinésica, que sugere deslocamentos aquáticos


Outro professor aponta falha grave de conteúdo, não aprofundando assuntos importantes tanto em História Geral quanto em História do Brasil. Ele destaca o conflito Israel-Palestina, tema mais que atual por tudo o que vive o Oriente Médio atualmente e que não mereceu mais de um parágrafo na apostila.

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No caso de História do Brasil, o conteúdo é dedicado à fase da Ditadura Militar, período de 1964 a 1985. Outro professor discordou da informação nada assertiva contida na redação do subtópico Fim da democracia. Ele aponta que em determinado trecho, o texto (destacado por ele em rosa), diz que “alguns foram mortos”. “Mas como assim, alguns? De onde tiraram essa informação? Foram muito mais que alguns e se fosse uma única pessoa morta pelo regime, já teria sido muito”, afirma o professor.

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Há que se ressaltar que as apostilas podem representar integralmente um problema para pessoas com problemas de visão. A fonte utilizada não está em tamanho adequado, sendo muito pequena. A escolha da editora por letras pequenas na composição textual tem por objetivo economizar material, agrupando maior volume de conteúdo num menor número de páginas. E quando o material utiliza o recurso de citação, fica ainda pior, pois o tamanho da fonte é ainda menor. O tamanho das letras é tão diminuto que exige esforço para a leitura com condições adequadas de iluminação, o que piora ainda mais se as condições de luz no local de leitura não forem as mais adequadas.

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Observe que o tamanho das letras no texto normal já é muito pequeno. E isso piora quando se trata de uma citação de alguma obra ou autor, as letras ficam ainda menores e mais finas.


Estamos apenas começando o ano letivo. Os professores e professoras ainda não tiveram contato total com o material didático de 2024. E, a exemplo do que ocorreu ano passado, novos erros e inconsistências no material devem ser detectados pelos profissionais da educação.