Do local ao global: a educação pública e seus desafios hoje
Seminário Internacional da Educação em Fortaleza destaca desafios e avanços na luta por uma educação pública inclusiva e de qualidade
Publicado: 30/10/2024 14:19 | Última modificação: 30/10/2024 14:19
Escrito por: Redação CNTE
Fortaleza
Emprego, salário, perspectivas e desafios da educação pública no atual contexto global e latino-americano de adversidade social, política e econômica. Durante dois dias, 29 e 30 de outubro, educadores, sindicalistas e representantes de instituições educacionais de onze países, incluindo o Brasil, estão no Ceará participando do Seminário Internacional da Educação.
Com foco em estratégias de fortalecimento da educação pública, o evento trouxe para a mesa de debates, já na abertura, temas como inclusão, políticas de valorização docente, conquistas e desafios, nas falas de representantes da Alemanha, Angola, Estados Unidos, Costa Rica, Guiné-Bissau, Portugal, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Uruguai, Argentina e Brasil.
Além dos debates, o seminário foi enriquecido por uma vibrante apresentação cultural de estudantes africanos da Unilab, que cantaram e dançaram, trazendo ao evento a alegria e o ritmo da cultura africana, marcando um momento de celebração da diversidade e das conexões culturais.
"Temos o poder de transformar este mundo em algo mais próximo do que sonhamos e desejamos para cada pessoa. A educação é o motor dessa transformação, e devemos agir a partir dos locais onde atuamos para que nossas ações ganhem alcance global", afirmou Heleno Araújo, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). Ele ressaltou a importância de dialogar com os governos sobre as necessidades dos profissionais da educação para garantir que a escola cumpra seu papel e assegure o acesso à educação de qualidade a todas as pessoas.
Pautas que refletem as dificuldades enfrentadas pela educação pública em todo o mundo, especialmente na América Latina, e suas peculiaridades locais. "Este é o nosso momento. Fortalecer a organização sindical e promover a solidariedade entre educadores ao redor do mundo são ações cruciais para transformar a educação e a sociedade como um todo", afirmou David Edwards, secretário-geral da Internacional da Educação.
Na América Latina, o impacto da extrema-direita sobre os direitos dos trabalhadores da educação, quando a "região está passando por momentos muito difíceis", foi lembrado por Sonia Alesso, presidenta da Internacional da Educação para a América Latina. Alesso destacou que, em seu país, a Argentina, os direitos conquistados foram suspensos pelo atual governo de direita. "E, em muitos outros países, há repressão, perseguição ao movimento sindical e ameaças de assassinato a líderes sindicais e sociais, onde a extrema-direita ataca cada um dos nossos direitos e conquistas", disse.
"Educação é investimento, não gasto. Quando há retrocessos, os direitos e avanços dos últimos anos podem ser facilmente ameaçados", afirmou o secretário-executivo do MEC, Leonardo Barchini. Ele defendeu a necessidade de lutar pela valorização dos educadores, destacando ainda a importância de um investimento contínuo em educação integral e no bem-estar e saúde mental dos profissionais de ensino.
Em um discurso marcado pela admiração à América Latina, Mugwena Mululeke, presidente da Internacional da Educação, elogiou a liderança e resiliência da região, referindo-se ao continente como um exemplo de diversidade cultural e social no ambiente educacional. "Nossa jornada é de resiliência e determinação inabaláveis. Nossas salas de aula refletem o mosaico de diferentes origens e perspectivas, e isso é nossa força. Mas é preciso avançar mais e combater as desigualdades que afetam a educação de nossas populações indígenas e afrodescendentes", declarou.
Meio Ambiente
Mugwena também falou sobre a importância de incorporar a educação ambiental, trazendo o meio ambiente para o centro das discussões. Sonia Alesso defendeu um movimento sindical que reforce nossos direitos e preserve o meio ambiente, que está cada vez mais ameaçado por catástrofes climáticas.
Ela ressaltou que o movimento sindical deve continuar a lutar por uma América Latina sustentável e em paz, defendendo os bens comuns e investindo em políticas educacionais que promovam um futuro mais verde. Alesso falou também da urgência de atrair novas gerações para o movimento sindical, apostando no engajamento dos jovens professores.
Organização sindical
David Edwards, secretário-geral da Internacional da Educação, chamou a atenção para a escassez de professores e a urgência em proteger os direitos dos educadores, especialmente em um mundo marcado pela crescente desigualdade. Segundo ele, a única forma de assegurar o futuro da educação é fortalecer a organização sindical e garantir que todos os trabalhadores do setor tenham suas vozes ouvidas.
"Precisamos pressionar contra as guerras e apoiar nossos colegas ao redor do mundo. Hoje, temos 33 milhões de professores em cada canto do planeta, cada um comprometido com valores de solidariedade e justiça social", afirmou.
Ele agradeceu ao Brasil pela acolhida e pelo histórico de apoio ao movimento sindical. Destacou a relevância da união entre educadores ao redor do mundo, especialmente na defesa dos direitos trabalhistas e da paz.
Ao final, anunciou que as demandas e perspectivas discutidas no Seminário da Internacional da Educação serão levadas ao G20 e à UNESCO, como forma de consolidar as resoluções para enfrentar os desafios da educação básica, crise ambiental e privatização.