Debates propõem a construção de medidas de promoção e saúde do trabalhador da educação
O grande número de denúncias de sobrecarga de trabalho, assédio e pressão levando ao aumento dos casos de adoecimento exige por parte da categoria esclarecimento e ações preventivas pela saúde dos trabalhadores
Publicado: 22/05/2024 11:10 | Última modificação: 22/05/2024 11:10
Escrito por: Roseli Riechelmann
Diante das demandas sobre adoecimento e acidentes de trabalho trazidas pelos representantes dos profissionais da educação no Conselho de Representantes do Sintep-MT, no último 20 de maio, a entidade aprofundou o debate sobre saúde do trabalhador/a. A discussão que sempre esteve permeada nas defesas pelas condições laborais, jornada de trabalho e valorização, recebem a partir das transformações das políticas educacionais no estado uma bandeira à parte.
A dirigente do Sintep-MT e membro do coletivo de saúde do trabalhador da Confederação Nacional do Trabalhadores em Educação (CNTE), Maria Luiza Zanirato, destaca que as doenças relatadas pelos educadores da rede estadual têm origem nas medidas economicistas do governo Mauro Mendes, que trouxeram para a rede pública práticas das empresas privadas. “A lógica é exigir que os funcionários trabalhem mais, rendam mais e o governo gaste menos, por que ele não quer investir em serviço público”, ressaltou.
Segundo a análise da dirigente, o governo está aplicando a lógica da empresa privada no serviço público, na busca de produtividade. Uma lógica que, conforme Zanirato, não tem contribuído em nada, nem mesmo com as empresas privadas. “As empresas privadas estão falidas no capitalismo, que concentra cada vez mais os recursos nas mãos dos muito ricos e deixa a maioria cada vez mais pobre. A reforma trabalhista e as terceirizações foram o caminho para manter a margem de lucro das empresas privadas, com retirada de direitos dos trabalhadores para manter o lucro”, relata.
Diante dessa realidade Maria Luzia afirma que os trabalhadores da iniciativa privada estão mais conscientes quanto a necessidade de prevenção da saúde do trabalhador, do que os servidores da rede pública. “Apesar do imaginário social acreditar que os servidores públicos vivem as benesses do estado, uma ideia que o tempo todo é usada pelos gestores, ressaltando no senso comum que o servidor é preguiçoso, que não quer trabalhar, só quer ganhar, isso é uma inverdade. Se existe essa realidade ela é dos altos escalões, 90% dos servidores trabalham muito”, destaca.
Atualmente os profissionais da educação revelam a sobrecarga, pressão e assédio como principais causas do adoecimento entre os educadores, de todas as funções. As funcionárias de escola, da merenda, registram problemas físicos devido ao sobrepeso das panelas, queimaduras e, com alterações das políticas do governo, soma-se ainda aumento de refeições servidas aos estudantes e a redução do número de funcionárias por turno.
Na sala de aula, os professores adoecem mentalmente e fisicamente, o estresse promovido com a ‘plataformização’ da educação, desrespeita a liberdade de cátedra, a jornada de trabalho, obrigando a terem uma conectividade permanente. Em recente manobra do governo alterando o número de turmas, ampliou as aulas diárias de 20 para 24, redobrando também o trabalho de atendimento às turmas.
Maria Luiza faz a defesa da necessidade dos sindicatos se instrumentalizarem. “É preciso que a ação sindical vá além da defesa de aumento salarial, é preciso focar também na problemática da saúde e segurança do trabalhador. No serviço público precisamos ter como aliado a sociedade, porque não somos empregados de um patrão, somos empregados da sociedade. Precisamos pensar que agora com a Reforma da Previdência os servidores irão trabalhar mais ainda, e precisamos fazer essa prevenção, para podermos nos aposentar inteiros e não cheios de licenças médicas e afastamentos como o desvio de função”, concluiu.