Carta Aberta: 2º Encontro da Educação Escolar Indígena do TIX


Educação como parte inseparável da gestão territorial e política

Publicado: 20/05/2025 17:03 | Última modificação: 20/05/2025 17:03

Escrito por: As lideranças, anciões, anciãs, caciques, educadores, alunos, alunas, mães, pais, comunicadores

Sintep-MT

Nós, educadores e educadoras indígenas, lideranças, estudantes, anciãos, anciãs e representantes dos 16 povos do Território Indígena do Xingu (TIX), reunidos entre os dias 9 e 12 de maio de 2025 no território do povo Khĩsêtjê, aldeia Khikatxi, na CTL Wawi, escrevemos esta carta como resultado do 2º Encontro da Educação Escolar Indígena do TIX. Este encontro foi um momento de escuta profunda, partilha de saberes, denúncias, proposições e fortalecimento da nossa autonomia educacional. Onde dialogamos sobre educação indígena, educação escolar indígena e os saberes para o bem-viver.

Reconhecimentos

Agradecemos às lideranças ancestrais e atuais e aos professores que iniciaram a história da escola dentro do TIX. A educação que temos hoje é fruto de muita luta. Reconhecemos também o trabalho das cozinheiras, merendeiros, comunicadores indígenas e apoiadores das instituições parceiras que historicamente estão conosco: Associação Terra Indígena do Xingu- ATIX, FUNAI CR Xingu, Instituto Socioambiental ISA, UNIFESP - Projeto Xingu, Diretoria Regional de Educação - DRE Barra do Garças, DSEI Xingu e Fundo Podaáli.

Também a novos parceiros que estão chegando recentemente e abertos para construir conosco como Instituto Federal do Mato Grosso - Campus Canarana, Imaginable futures e EcoUniversidade.
Agradecemos profundamente ao cacique Kuiussi por sua liderança firme, suas palavras de sabedoria e por abrir com coragem o caminho para esse encontro histórico em seu território.

O que afirmamos 

A educação escolar indígena no TIX é uma conquista coletiva. Ela nasce da necessidade de defender nossa cultura, nossos territórios e nosso bem-viver frente às ameaças externas. É uma educação que deve ser construída a partir da nossa cosmovisão, de nossos protocolos e das formas próprias de ensinar e aprender de cada povo.

Projetos Políticos Pedagógicos Indígenas (PPPIs)

Os Projetos Políticos Pedagógicos Indígenas (PPPIs) são reconhecidos por todos nós como instrumento essencial para garantir uma educação escolar indígena enraizada na cultura, na língua e na forma de viver de cada povo do TIX. No entanto, as discussões durante o encontro evidenciaram as grandes dificuldades enfrentadas na sua implementação. Em muitas escolas, especialmente nas salas anexas, o PPPI da escola central não chega de forma acessível ou clara, criando um vazio entre o que é planejado e o que realmente acontece no cotidiano das comunidades. Além disso, o PPPI muitas vezes permanece como um documento filosófico, distante das práticas concretas nas salas de aula, sem apoio político, financeiro e estrutural para sua efetivação. Reconhecemos, contudo, que o PPPI deve continuar sendo construído com e pela comunidade, com a participação ativa de professores, caciques, mães, jovens e anciãos, como ferramenta viva que reflita e oriente os modos próprios de ensinar e aprender no território. Para isso, é necessário não apenas atualizá-lo, mas garantir as condições reais de sua execução, respeitando os tempos, os saberes e as decisões coletivas de cada povo.

Os principais desafios apontados 

● A precariedade estrutural das escolas, especialmente das salas anexas que operam
sem estrutura adequada, sem acesso ao PPPI da escola central, com professores
isolados, falta de materiais didáticos específicos e infraestrutura básica (energia,
internet, banheiros, cozinhas).

● Normas da SEDUC que desrespeitam os calendários culturais e ciclos próprios de
cada povo, com imposição de um calendário escolar urbano e padronizado que não
dialoga com os tempos da aldeia (colheitas, rituais, festas, idas às outras aldeias).

● A falta de políticas públicas adaptadas à realidade dos territórios.

● A evasão escolar motivada pelo deslocamento dos jovens para as cidades.

● A dificuldade de valorização dos saberes ancestrais/ saberes do bem-viver na escola.

● A falta de reconhecimento dos protocolos de governança dos povos indígenas.

● A ausência da perspectiva de gênero e dos saberes das mulheres nos PPPIs.

● O uso desordenado da tecnologia e da internet, impactando negativamente a língua e
a cultura.

● Educação sem diálogo com os temas e instituições de saúde, gestão
territorial, alimentação e clima, de maneira a avançar na integração destes temas
para construirmos mais habilidades para enfrentar os desafios atuais que afetam
diretamente a vida no TIX.

● Imposição de normas administrativas e burocracias incompatíveis com a
realidade indígena, como metas, avaliações, portarias, legislações que não
reconhecem a governança local e o papel dos professores indígenas.

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