ARTIGO: COVID-19 e o retorno das aulas presencias nas unidades Escolares de MT


A abertura das nossas escolas é um processo que precisará de um acompanhamento de perto para que trabalhadores e estudantes não sejam cobaias da negligência e ausência do estado como garantidor da vida e da segurança coletiva das pessoas.

Publicado: 04/02/2022 19:48 | Última modificação: 04/02/2022 19:48

Escrito por: Andressa Boa Sorte/Sintep-MT

Reprodução

Uma grande preocupação que assola os trabalhadores da educação, movimento sindical e o conjunto da sociedade, está relacionada ao retorno das atividades escolares e um possível contágio em razão da COVID-19, principalmente em virtude da nova variante Ômicron, que tem um contágio muito superior se comparado com as variantes anteriores.

Os últimos dois anos (2020 e 2021) foram marcados pela COVID-19, pela suspensão das atividades presenciais nas unidades escolares, tanto das redes municipais como da rede estadual, no Brasil e no mundo.

No Brasil, a maior preocupação estava relacionada ao negacionismo e o discurso, de diversas autoridades políticas, de que as atividades econômicas não deveriam parar e não acreditavam nas medidas de isolamento social.

Nesse ínterim, algumas assembleias legislativas, câmaras de vereadores, principalmente em Mato Grosso, aprovaram projeto de leis para que as aulas não fossem suspensas presencialmente durante períodos de calamidades e pandêmicos. A alegação era de que a Educação seria um serviço essencial e que todos deveriam estar presencialmente dentro das nossas unidades escolares, públicas ou privadas.

Nosso posicionamento é de que esse essa “visão” é um grande equívoco e desserviço. Além disso, um grande desrespeito à saúde pública, ciência e medidas de contenção de propagação de doenças contagiosas, como é o caso da COVID-19.

Se por um lado, pessoas conservadoras e desinformadas apontavam para a retomada das atividades presenciais nas unidades escolares a qualquer custo, por outro, o movimento sindical apontava de que o retorno das atividades só era possível a partir da vacinação dos nossos estudantes, trabalhadores da educação e à medida que também se avançava para o conjunto da nossa sociedade para um patamar de 100% de pessoas vacinadas e 70% imunizadas.

Tal posição do movimento sindical foi determinante para que as nossas escolas não se tornassem um ambiente propício para a propagação desenfreada da COVID-19 e nem o contágio entre Trabalhadores, estudantes. Assim como, garantiu que o processo de vacinação incluísse os trabalhadores da educação como grupos prioritários a serem imunizados a considerar a pressão de negacionistas e fim da primeira onda, para retomada das atividades presencias nas unidades escolares com os estudantes.

Olhando especificamente para o estado de Mato Grosso e se os índices de contágio fossem aplicados para o restante da federação, significaria que teríamos um número muito grande de pessoas que perderiam a vida para Covíd-19, em razão da ausência de medidas que garantissem com que a propagação não ocorresse de uma forma tão massiva.

O contexto atual não está muito diferente disso, diante da nova variante Ômicron. Mas, o que difere, é que pessoas que já estão imunizadas, estão sobrevivendo e apresentam sintomas mais leves.

Muitos fatores geram insegurança quanto à retomada do ano letivo e a segurança das nossas unidades escolares. Estariam, efetivamente, as nossas unidades preparadas e com medidas para evitar o contágio da COVID-19 a seus estudantes e trabalhadores, de maneira a mantê-los seguros? Essa é uma pergunta que constantemente ouvimos e somos interpelados para respondê-la.

Valdeir Pereira - Presidente do Sintep-MT

De fato, há um esforço muito grande por parte dos gestores das unidades escolares para seguir os protocolos que garantam o mínimo de segurança nos espaços das escolas, excetos aqueles que negam o papel da ciência, são negacionistas e não acreditam que milhares de pessoas morreram, e continuam a morrer por causa da COVID. Algumas ações como a presença de álcool em gel, pia para lavar as mãos, papel toalha, que até então não faziam parte da rotina e da presença quotidiana nas escolas, além da orientação permanente, podem fazer a diferença em se tratando da biossegurança no ambiente escolar.

No entanto, a nossa maior preocupação está no fato de ainda ser recorrente e utilizado dentro dos espaços das nossas escolas, as máscaras de tecido, que tem se demonstrado nem tanto eficiente para a variante da influenza e também para o vírus da COVID-19 com sua variante delta e Ômicron.

Seria necessário que as nossas escolas já dispusessem para estudantes e trabalhadores da educação, máscaras do tipo PFF2 ou NK 95 e seu uso correto. Aparentemente, é uma medida simples, mas que contribui muito para a segurança no espaço escolar. Há, muito presente dentro do espaço da escola, o uso incorreto da máscara. Ou seja, a mesma fica no queixo ou o total desprezo quanto ao seu uso.

É importante destacar o grande avanço, dos últimos dias, e que consiste na vacinação de crianças a partir de 5 anos de idade. Mesmo que o Ministério da saúde tenha atrasado nessa medida entre a autorização da Anvisa e a autorização, por parte do Ministério, para que as crianças começassem a serem vacinadas. Seria um tempo bastante significativo para que todas as crianças estivessem dentro da escola imunizados na retomada das atividades escolares presenciais.

Além disso, a propaganda institucional em que deixou em dúvida e suspensão da vacinação de crianças, sem qualquer tipo de evidência, também foi um fator preponderante para que muitos pais não se sentissem seguros suficientes para vacinarem seus filhos. A ação, coordenada por parte do governo federal (ministério da Saúde), podemos afirmar, que foi um desserviço para a segurança de crianças e jovens em idade de serem imunizados. E ainda continuam negando o importante papel da vacina.

Variante Omicrôn avança em MT

De fato, já estamos a véspera do início do ano letivo com as atividades presenciais nas escolas estadual e municipais do estado de Mato Grosso. É necessário ficarmos atentos para que as medidas de segurança e de biossegurança não sejam abandonadas em nenhuma hipótese nas nossas instituições de ensino. O que, na prática, significa ter o controle constante dos possíveis casos, a limpeza permanente do ambiente e o uso correto de máscaras.

O monitoramento dos casos de contágio entre trabalhadores e estudantes deve ser uma medida diária e rotineira. Será fundamental ter os dados reais de contaminações e diagnósticos de COVID-19 para subsidiar as tomadas de decisão, que devem ser, ao nosso ver, no sentido de garantir que pessoas não sejam contaminadas em razão da ausência de controle e manter o isolamento social dos contaminados.

Não estamos percebendo a preocupação, por parte da Secretaria de estado de educação, que tem focado mais no sistema estruturado de ensino (apostila) do que orientar as medidas que garantam a biossegurança efetiva e permanente de trabalhadores e estudantes.

Se por um lado a COVID-19 fará parte da realidade cotidiana dos brasileiros e do mundo, por outro, se faz necessário que todas as medidas possam ser tomadas para evitar a sua propagação no ambiente escolar e preservar vida.

O que não é tão simples de ser aferido, considerando o patamar de negação que muitos desses governos adotaram durante a pandemia da COVID-19, o negacionismo, ou minimizaram a doença como efeito de uma “gripezinha”.

A nossa maior luta em torno da vacinação, podemos afirmar, que foi alcançada, é que hoje não faltam vacinas nos postos, tanto para os adultos como para as crianças. Elas salvaram e continuam salvando muitas vidas.

O funcionamento, na integralidade das nossas escolas com as atividades presencias é o maior desafio para este ano de 2022. Há necessidade, depois desses 2 anos de suspensão das atividades presencias, da retomada daquilo que pode ser considerado como uma nova normalidade dentro das nossas unidades escolares para recuperar o processo de ensino e aprendizagem dos nossos estudantes.

Talvez ainda não tenhamos toda a segurança nas nossas unidades escolares e ainda nos sentimos inseguros. Mas, a abertura das nossas unidades escolares na sua plenitude é um passo importante. No entanto, é um processo que precisará de um acompanhamento de perto para que as pessoas não sejam cobaias da negligência e ausência do estado como garantidor da vida e da segurança coletiva das pessoas.

Valdeir Pereira – Presidente do Sintep-MT.