Analfabetismo funcional atinge 3 em cada 10 pessoas e avança entre jovens
Especialistas apontam que para melhorar índices de alfabetização são necessárias políticas públicas significativas na educação e para além dela
Publicado: 05/05/2025 17:23 | Última modificação: 05/05/2025 17:23
Escrito por: Roseli Riechelmann

“Melhorar a alfabetização no país, e em Mato Grosso, exige políticas públicas que fortaleçam a educação, entre as quais está a Educação de Jovens e Adultos (EJA)”, afirma a secretária de Políticas Educacionais do Sintep-MT (Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso), Guelda Andrade. A dirigente comenta os resultados do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgados hoje (05/05), que mostram que, a cada 10 pessoas, três são analfabetas funcionais no Brasil.
O estudo, retomado pelo Inaf em 2024, revela que 29% da população brasileira, entre 15 e 64 anos, é analfabeta funcional — ou seja, pessoas que não sabem ler e escrever, ou que apenas conseguem compreender frases curtas, identificar números de telefone ou preços. Os números indicam estagnação desde 2018, quando o percentual era de 30%. No entanto, um recorte etário entre 15 e 29 anos aponta um agravamento nos índices de analfabetismo funcional que subiram de 14% para 16%.
Segundo os pesquisadores, grande parte desse agravamento é consequência do período pandêmico, com escolas fechadas e muitos estudantes sem acesso à aprendizagem. Para Guelda Andrade, contudo, o problema não se resume à pandemia. Ela ressalta que, mesmo com a retomada das aulas, faltaram estratégias e iniciativas eficazes para recompor a aprendizagem, o que agravou ainda mais o quadro.
A dirigente destaca a postura da atual gestão estadual, que demonstra preocupação apenas com os índices. “Na mentalidade do governo, o público da Educação de Jovens e Adultos atrapalha os índices do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica)”, afirma. Ela lembra que a modalidade EJA atende pessoas que nunca tiveram a oportunidade de estudar no tempo regular ou que interromperam os estudos por diversos motivos. “O governo extinguiu os Centros de EJA, e as poucas unidades que ofertavam a formação no período noturno foram eliminadas, seja pelo fechamento de escolas ou de turmas do período noturno.”
Distribuição da população por níveis de alfabetismo e escolaridade
(% por grau de escolaridade)

O Sintep-MT denuncia com frequência o descaso com a Educação de Jovens e Adultos em Mato Grosso. As análises revelam que com esse desmonte, a tendência é de aumento nos percentuais de analfabetismo funcional — não apenas pela dificuldade de acesso, mas também pelas políticas educacionais do estado, que aprovam automaticamente estudantes do Ensino Médio, mesmo aqueles que não frequentam a escola.
Para o professor e dirigente do Sintep-MT, Gilmar Soares, os dados do Inaf são apenas a ponta do iceberg das políticas educacionais adotadas no estado e no país desde a Reforma do Ensino Médio. “A realidade do analfabetismo funcional chega também ao Ensino Superior e reflete um modelo de estratificação social. A pesquisa revela que o analfabetismo funcional se evidencia entre homens, pobres e pretos. Essas pessoas formam um exército de mão de obra barata para o mercado. No estado, o governo além de aprovação automática empurra os estudantes para a certificação, sem aprendizagem real”, afirma.
PACTO EJA
Foi aprovado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) no início de abril, a resolução de novas diretrizes para a Educação de Jovens e Adultos (EJA). O documento estabelece regras e orientações para a organização, o currículo e a oferta da EJA em todo o país. Somasse a essa medida, o lançamento do Pacto EJA. A iniciativa nasce a partir do Decreto nº 12.048/2024, com o título Pacto Nacional pela Superação do Analfabetismo e Qualificação na Educação de Jovens e Adultos. Trata-se de uma política pública construída de forma colaborativa entre o MEC, a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios.
Entre os objetivos do pacto estão: superar o analfabetismo; elevar a escolaridade; ampliar a oferta de matrículas da EJA nos sistemas públicos de ensino — inclusive entre estudantes privados de liberdade —; e aumentar a oferta da EJA integrada à educação profissional. (com informações Agência Brasil)