51% das escolas públicas de MT não possuem bibliotecas, mostra levantamento


No total, 1163 instituições de ensino (municipais e estaduais) não disponibilizam o acesso a bibliotecas.

Publicado: 26/02/2024 19:39 | Última modificação: 26/02/2024 19:39

Escrito por: CECÍLIA NOBRE/Redação Midiajur

Reprodução

Um levantamento realizado pela Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon) apontou, com base no Censo Escolar 2022, que 51% das escolas públicas de Mato Grosso - estaduais e municipais - não possuem bibliotecas, um total de 1163 instituições de ensino.

Conforme os dados, o número de alunos matriculados nessas escolas ultrapassa de 250 mil estudantes, que não têm acesso a bibliotecas e, consequentemente, a livros para além do material didático.

Ao Midiajur, a pedagoga e professora da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Rosane Duarte Rosa Seluchinesk, esse levantamento é triste e preocupante. “Se a gente parar para pensar, o objetivo de uma escola é ensinar a leitura e a escrita, não é? É extremamente preocupante retirarmos a possibilidade de leitura, é a escola”.

De acordo com a professora, as escolas têm, antes de tudo, o objetivo de ensinar por meio da escrita e que esse acesso se dá em momentos de leitura, por isso, segundo ela é necessário ensinar os alunos e incentivá-los a tomarem gosto pela leitura. “E uma das formas mais práticas de ensinar é quando os professores fazem uso das bibliotecas durante as aulas”.

Rosane destaca também que muitas pessoas pensam que saber escrever o alfabeto significa ter “acesso ao mundo”, mas que isso é apenas um pequeno passo. A manutenção desse pensamento é um dos fatores que aumentam o número de analfabetos funcionais, que dependem dos outros para entrarem nesse universo o que pode impedi-lo de ter acesso à ciência, segundo a professora.

“Ela (pessoa) não vai conseguir acessar absolutamente nada, por não estar no mundo da escrita.E aí ela vai seguir apenas uma oralidade, ou seja aquilo que alguém disse, que outro disse, que disse e ela não acerta o mundo da ciência. Não que a ciência seja mais importante que a vida, mas é a ciência que faz a gente se desenvolver, faz a gente crescer, faz a gente entender sobre as coisas, descobrir possibilidades”, destacou.

Bibliotecas existentes não suprem necessidades

Além da preocupação diante da ausência de bibliotecas, Rosane afirmou que uma problemática das bibliotecas existentes em escolas é que os livros disponíveis são, em sua maioria, didáticos ou técnicos.

“São as bibliotecas que deveriam estar cheias de livros de literatura. Porque são percepções, leituras de mundo, são descrições
densas que nos permitem olhar para os detalhes, sentir que outras coisas podem tocar a nossa alma”, ressaltou.

Outro ponto destacado é que alguns professores deixam de utilizar o espaço da biblioteca, justamente por não existir essa formação do leitor. “Há casos em que a leitura é vista como um castigo. Ou você lê ou não avança. Alguns professores até punem de fato um aluno que não se comportou na aula, para que passe o recreio na sala, lendo”.

Tecnologia deveria ajudar, mas não é usada a favor dos estudantes

Rosane disse ainda que a internet proporciona a vantagem de facilitar o acesso a livros, por meio de PDFs e eBooks, mas que a falta de incentivo por parte dos pais, da escola e da própria sociedade impede que as novas tecnologias sejam utilizadas a favor da leitura.

“Há uma quantidade enorme de livros na internet, mas parece que estamos vivendo tempos em que as pessoas não veem mais a escrita e a leitura como algo importante no nosso cotidiano”, avaliou.

Rosane também faz um alerta sobre as tentativas equivocadas de se inserir estratégias com o uso das tecnologias, em especial no período da alfabetização. “São crianças sozinhas, aprendendo joguinhos que ficam repetindo a mesma ação sempre, como se o aprendizado do mundo fosse um aprendizado de repetição. Então onde fica o estado de criação e imaginação?”, questionou.