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A Luta dos Estudantes Noturnos em Defesa da Educação Pública: Um Grito Contra o Descaso do Estado

Publicado: 04/09/2024 11:19

Na noite do dia 3 de setembro de 2024, testemunhamos uma manifestação de grande relevância, organizada pelos estudantes da Escola Estadual Professora Elizabeth Maria Bastos Mineiro, em Várzea Grande. A mobilização, que percorreu as ruas dos bairros onde vivem esses estudantes, como São Mateus, foi uma resposta à decisão arbitrária da Secretaria de Estado de Educação (SEDUC) de fechar as turmas do período noturno dessa escola. A decisão foi comunicada aos alunos por e-mail, uma forma impessoal e fria de noticiar o fechamento de uma oportunidade essencial para esses jovens e adultos que trabalham durante o dia e se dedicam aos estudos à noite.

Essa manifestação revelou o descontentamento dos estudantes diante do descaso com a educação noturna, que atende, em sua maioria, pessoas que buscam melhorar suas condições de vida por meio da escolarização. A decisão da SEDUC ignora as realidades de quem está no mercado de trabalho, muitas vezes em empregos precarizados e mal remunerados. Essas pessoas, após longas jornadas de trabalho, se esforçam para concluir o ensino médio e, quem sabe, alcançar o ensino superior – uma chance de mudar seu futuro.

Infelizmente, a Secretaria de Estado de Educação, que deveria ser a responsável por garantir o direito à educação de qualidade para todos, especialmente para os que mais necessitam, tem falhado gravemente. Suas ações, ao invés de fortalecerem a educação de jovens e adultos (EJA) e o ensino noturno, têm se mostrado perversas, cortando essas oportunidades. É como se a SEDUC, órgão que deveria ser o "coração" da educação, estivesse deixando de bater, incapaz de prover a "circulação" da educação para esses cidadãos. Nem uma "ponte de safena" parece capaz de reverter o descalabro de uma gestão que ignora a importância do ensino noturno.

A aula de democracia que esses jovens estudantes nos deram nas ruas de Várzea Grande, em defesa de seus direitos, é algo que precisa ser reconhecido. Ao ocupar as ruas, eles mostraram que a luta pela educação é um direito social inalienável. O direito de estudar, algo tão básico, foi o grito que ecoou entre as avenidas, e que nos faz acreditar que é possível, sim, construir uma sociedade diferente. Uma sociedade que promova o bem-estar social e respeite o acesso a serviços essenciais como educação, saúde e saneamento básico.

O que vemos em Mato Grosso, no entanto, é um governo que prioriza os interesses dos mais ricos. O atual governador, um dos mais ricos do estado, governa em favor da elite que sempre se beneficiou de isenções fiscais e outras políticas que perpetuam a desigualdade. Para essa elite, a educação, especialmente a de jovens e adultos e o ensino noturno, parece não ter importância. Afinal, essa classe dominante se mantém no poder ao alimentar a pobreza e a baixa escolarização, perpetuando um sistema onde os filhos dos mais pobres têm pouquíssimas chances de acesso ao ensino superior.

Para esses ricos, é conveniente que a educação pública seja relegada ao terceiro ou quarto plano. Manter a população com baixa escolaridade facilita a exploração de sua mão de obra, muitas vezes precarizada, e garante que os filhos dos pobres permaneçam em posições subalternas – como trabalhadores terceirizados em serviços de limpeza ou segurança, funções que refletem uma história de escravidão e desigualdade que ainda marca a sociedade mato-grossense.

O que está em jogo não é apenas o fechamento de turmas noturnas, mas a negação de oportunidades e de sonhos para uma geração que busca na educação um caminho para melhorar de vida. Essa luta dos estudantes de Várzea Grande é, portanto, a luta de todos aqueles que acreditam que a educação é um direito e uma ferramenta de transformação social. E é uma luta que precisa ser apoiada, pois, sem educação, não há futuro possível para os filhos da classe trabalhadora.

Professor Valdeir Pereira, presidente do Sintep-MT