Artigo

A greve na Educação é por um direito legítimo e justo

Publicado: 11/08/2023 15:31

Não há país desenvolvido sem Educação de qualidade. E não há Educação de qualidade sem investimento na qualidade das escolas e apoio à docência. E no centro desta miríade de fatores, inclui-se um item fundamental, que é a valorização do profissional da Educação, sobretudo, o professor.

Na estrutura de Estado, cabe aos municípios a responsabilidade pela Educação Infantil. E se tem diversos municípios na região que estão, pelo menos se esforçando para cumprir o básico do que está na legislação, em Alta Floresta, principalmente em 2023, o ambiente na Educação tem sido hostil.

Na estrutura física, escolas municipais, salva-se raras exceções, não estão conseguindo prover o básico para estudantes e professores. Acrescido a isto, alguns episódios, digamos inusitados, surpreenderam a comunidade escolar, motivando preocupação e insegurança, com a sequências de princípios de incêndios em várias escolas.

Se tudo isto está acontecendo no setor de Educação de Alta Floresta é porque está faltando gestão eficiente, ausência no planejamento ou simplesmente, não há prioridade para a Educação.
E agora, irrompeu o mês de agosto com a greve dos profissionais da Educação. O movimento é um pleito legítimo, por direito justo e constitucional.

A greve é uma ferramenta do trabalhador reivindicar o seu direito. O que não é normal é uma gestão que não tem diálogo, que invés de sentar com a categoria para tentar estabelecer um entendimento, aciona a justiça antes mesmo de o movimento ter iniciado. 

Que os profissionais da Educação não são valorizados, por muitas gestões, grande parte da sociedade tem esta compreensão. Mas este tratamento apedeuta que vem sendo imposto à uma categoria que está cobrando um direito legítimo, é afrontador, deseducado, desrespeitoso e fora do rito que deveria nortear a postura de um gestor público. 
Os professionais da Educação estão sendo tratados sem nenhuma polidez, na base da sola da bota. Transmite-se à população, uma imagem destorcida dos professores, de que são inimigos públicos, que cobram algo indevido.

Estabeleceu-se uma narrativa [“de nós já pagamos o piso”] tentando transmitir para a sociedade, que a categoria que está na luta pelo direito ao Piso Nacional da Educação, fosse uma grei de alucinados, acometidos por uma paranoia coletiva. Que estão ganhando muito bem e ainda querem mais!
Todavia, cabe a população de Alta Floresta refletir, não somente sobre a questão da greve, mas também, sobre tantos fatos negativos que permeiam o setor de Educação em Alta Floresta. Tudo isto, vão além dos parâmetros da normalidade. 

Infelizmente, ainda há os que condenam os professores da Rede Municipal por estarem em greve. A suspensão das aulas, realmente, gera transtornos para as famílias que tem seus filhos matriculados nas escolas que estão sem aula. Mas a análise não deve ser apenas de uma forma superficial. 

A sociedade deve ser empática e se colocar na posição de alguém que exerce uma missão, se dedicando com carinho aos seus alunos, mas que está tendo um direito elementar, negado. 
Hoje é raro alguém optar em ser professor. A profissão não é devidamente valorizada e há um certo preconceito por parte da própria população. Correm-se o risco de faltar professor, principalmente nas escolas públicas, num espaço exíguo de tempo. 

Diante do cenário de Alta Floresta, deve ser analisado, primeiro, que são pessoas graduadas, que conhecem seus direitos. 
Segundo: será que estes profissionais, que se dedicam horas ininterruptas de trabalho na sala de aula, cuidando de crianças da Educação Infantil, seriam capazes de estarem falseando, mentindo, cobrando algo que já recebem? Acredito que não!

O que deve ser cessado é essa continua e cansativa peroração, adotada pela gestão municipal, "que já paga o piso". 

Se invés dessa argumentação pusilânime, chamar a categoria para o diálogo, conversar e apresentar uma proposta, além de civilizatório, poderia ser o início de um entendimento.

A Educação se converte em uma dicotomia preponderante, tanto para o crescimento pessoal do indivíduo, para ampliar suas possiblidades no campo profissional, como para sua contribuição social no meio onde convive. Por isso, à docência deve ser valorizada em seus amplos aspectos, porque investir na Educação não é um gasto. É um investimento! 

Gestor público com perfil empreendedor, inclui a Educação como prioridade em suas estratégias administrativas, porque tem consciência de sua importância no processo de desenvolvimento, e para os resultados do mandato.

Gestores de visão míope, de cérebro atrofiado, não valorizam os profissionais, investem mal o dinheiro na rede física, no aparelhamento das escolas e relegam o setor a planos inferiores.

Da mesma forma, a mediocridade e prepotência, levam muitos gestores a acharem que os mandatos são eternos, sobem num salto e se posicionam como se fossem superiores.
 

José Vieira do Nascimento é Jornalista, pós graduado em Comunicação e editor de Mato Grosso do Norte.