Sistema Estruturado de Ensino da Seduc/MT retira autonomia dos educadores


Modelo e instrumentos pedagógicos que não alcançam a diversidade na educação escolar da rede estadual

Publicado: 25/02/2022 18:18 | Última modificação: 25/02/2022 18:18

Escrito por: Roseli Riechelmann

Sintep-MT

Às vésperas das eleições, o governo Mauro Mendes implanta um projeto de Educação na rede estadual sustentado no marketing e amparado na grife “Sistema Maxi de Educação” (integrada ao conglomerado Somos Educação). O Sistema Estruturado de Ensino, como é chamado, consiste na aquisição de um pacote de medidas educacionais (compra de apostilas, plataforma digital, aplicativo, formação profissional e avaliações), apontado pelo Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT) como mais um capítulo no desmonte estrutural da educação pública e gratuita. 

Para a secretária de Assuntos Educacionais do Sintep-MT, e diretora de Políticas Educacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Guelda Andrade, o Sistema Estruturado de Ensino é formatado a partir das contradições educacionais da Base Comum Curricular Nacional (BNCC), ignora as diretrizes curriculares de Mato Grosso e coloca em franca contradição as defesas do conjunto de entidades que atuam em defesa da Educação Pública e Gratuita, entre elas o Sintep-MT. 

O sistema é encapsulado e retira a autonomia pedagógica dos professores, rompe com o Projeto Político Pedagógico da escola, fragmenta o direito ao conhecimento integral dos estudantes. “Esse tal modelo estruturado”, cita Guelda, desrespeita as diferentes realidades, na qual, cada escola está inserida.  
E mais, conforme a dirigente, “ele engessa e direciona o professor, que sequer precisa planejar sua aula, pois apresentam um projeto e um currículo que não contemplam a realidade diversa dos estudantes que mais precisam da escola pública e gratuita. Além de fazer avaliações que não correspondem nossas defesas”.

O também dirigente estadual do Sintep-MT e professor da rede estadual, Gilmar Soares, destaca que o governo atropela mais uma vez o processo democrático e de forma “irresponsável” implementa o Sistema sem dialogar com os profissionais que atuam no chão da escola. “Ignora completamente a autonomia escolar e os Projetos Políticos Pedagógicos, que refletem a diversidade de cada unidade”.

A medida chega após dois anos de pandemia, pegando os profissionais fragilizados e correndo atrás do prejuízo, inclusive econômico, com o congelamento salarial, que obriga a muitos a terem que assumir mais aulas e fazer dupla jornada de trabalho. Os profissionais ainda terão o gerenciamento dos impactos pedagógicos dos estudantes, pois conforme os educadores, a Secretaria de Estado de Educação (Seduc-MT) não apresenta a preocupação de encontrar elementos para recuperar a aprendizagem desses estudantes, após dois anos de pandemia.

Professor da rede estadual, Gilmar relata que convive com turmas da segunda etapa do ensino fundamental (7º e 8º anos) em que os estudantes não conseguem copiar o conteúdo do quadro, precisando de professor alfabetizador. “De cada 10 estudantes de cinco a sete estão com problemas de aprendizagem. E as escolas não têm sequer professores articuladores”, disse.