Sintep-MT celebra o Julho das Pretas contra a discriminação às mulheres negras


O mês de julho é marcado pelo combate ao racismo estrutural contra as mulheres negras tendo na agenda o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.

Publicado: 24/07/2023 18:34 | Última modificação: 24/07/2023 18:34

Escrito por: Roseli Riechelmann

Reprodução

Neste 25 de Julho comemoramos o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. No Brasil, especialmente em Mato Grosso, também é celebrado o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. No "Julho das Pretas," o coletivo de Diversidade Étnico Racial do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT) reafirma a luta contra o racismo estrutural e a construção de caminhos para a erradicação e o combate a práticas discriminatórias.

A vice-presidente do Sintep-MT, membro do coletivo da diversidade e do coletivo de mulheres, professora negra, Leliane Borges, destaca a tentativa de inviabilizar os desafios impostos às mulheres negras, com destaque ao mérito. “A ideia é de que as mulheres negras que querem, conseguem ter melhores condições de vida. Uma sociedade que não oportuniza o acesso a condições como educação, direitos, trabalho e saúde e ainda culpabiliza aquelas que não conseguem 'chegar lá', reafirmando o preconceito. Ignoram que muitos já estão lá, sem esforço algum", alerta.

Sintep-MT
Vice-Presidente do Sintep-MT, Leliane Borges

Histórias de vida como a da bióloga doutora Pâmela Naiana, funcionária da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), destaca as dificuldades das mulheres negras e os sacrifícios que precisam fazer para atingir condições dignas de vida. Mulher negra, da periferia e filha caçula de uma família com oito filhos, "não foi nada fácil", afirma. Ela e duas irmãs conseguiram obter formação universitária. As irmãs, só foram cursar a faculdade na idade adulta, após conseguirem trabalho estável. “A minha irmã é advogada e se formou com quase 40 anos”, relata. 

Naiana conta que buscou caminhos alternativos na idade regular dos estudos. Com bom desempenho nos esportes, conseguiu uma bolsa de estudos em uma escola privada, o que possibilitou seu ingresso na universidade pública. "Meus pais não tinham condições, mas me incentivaram a estudar. Eu jogava futebol e por meio do esporte estudei e consegui entrar na universidade”, ressaltou.

Francisco José
Pâmela Naiana, funcionária da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

Os desafios não foram diferentes para professora aposentada, quilombola e militante do Movimento de Negro Unificado de Mato Grosso (MNU-MT), Isabel Garcia de Farias. Começou a trabalhar muito cedo e saiu da casa dos pais ainda criança (9, 10 anos), para morar na casa dos patrões. Nascida na zona rural, desde muito cedo ajudava os pais na roça, na colheita do algodão e do milho. Essa foi a realidade dos onze irmãos. "Chorei muito pedindo para meu pai que gostaria de continuar estudando. E ele me apoiou. Sou a única dos 11 irmãos a concluir o curso superior", conta.

Isabel foi enviada pelos pais para trabalhar na casa de uma professora que poderia auxiliá-la nos estudos. "Lá eu lavava, passava, era babá e estudava. Assim foi toda a minha trajetória. Sofri muito na escola com xingamentos: 'negra do cabelo sarará', 'negra do cabelo de bombril'. Enquanto criança, muitas das colegas, negras inclusive, sequer percebiam o racismo, achavam que era normal. Mas para mim, era um sofrimento".

Sintep-MT
Professora Isabel Garcia Farias

Como professora, Isabel contribuiu para reverter o cenário de preconceito e bullying nas escolas onde atuou. “Realizei muitos projetos nas escolas e, em um deles, que envolvia cultura, tive a oportunidade de ir para o Rio de Janeiro e conheci o MNU, um movimento contra o racismo e a favor da vida. Me aposentei e decidi dar continuidade à luta. Em quatro anos de MNU no estado, temos mais de 73 quilombos, com 21 deles reconhecidos, em quinze municípios, incluindo Vila Bela da Santíssima Trindade, terra de Tereza de Benguela do quilombo Quariterê. Salve Tereza de Benguela, salve as mulheres negras!”