Plano de compensação de ausência e recomposição de aprendizagem: um desabafo necessário


Não aceitamos mais ser “coisificados”! É preciso de dignidade para SER humano

Publicado: 10/12/2024 16:55 | Última modificação: 10/12/2024 16:55

Escrito por: Redação/Sintep-MT

Sintep-MT/Edevaldo José
Eu, não-robô”, professora da educação básica da Rede Estadual de Mato Grosso

Não podemos perder a capacidade de nos indignar, então vai: De novembro até o momento elaborei e apliquei trinta e oito (sim, 38!) planos de compensação de ausência e recomposição de aprendizagem (inseridos no Drive da escola). Como se não bastasse a exaustão e o fato de estar estafada de tanto trabalhar nisso, em novembro, ainda veio o “golpe de misericórdia”: PROVA FINAL (vulgo: exames finais).

Nós, professores e demais profissionais da educação sabemos de todos os afazeres da sala de aula, quase sempre superlotada de alunos - inclusive com especiais - e fora dela - nas insuficientes 10 hora/atividade semanal para tantos e tantos afazeres. E ainda assim, sabemos muito bem da nossa capacidade de atender tantos e tantos afazeres de forma satisfatória.

Hoje, eu tenho 4 turmas, que somam mais ou menos 124 alunos. Fico imaginando meus colegas professores que têm muito mais turmas, e muito mais alunos! O dobro, o triplo talvez... Como devem estar?!? Quantos planos de compensação de faltas e recomposição de aprendizagem tiveram que realizar?!? Por isso, mesmo sendo um contrassenso, é muito compreensível e plausível que muitos de nós professores "DESISTIMOS", (será a Síndrome de Burnout ?!? ou outra enfermidade?!?) e lançamos notas: "a média" ou “acima da média" a alunos que não se esforçaram, e nem lutaram para conquistá-las. Ou seja, os alunos são tão vítimas quanto nós, educadores, porém a maioria deles não percebe as manobras de exclusão impostas nas políticas educacionais do governo estadual.

Sintep-MT/Edevaldo José

Enfim, toda a Educação de Mato Grosso perde muito com esta prática de aprovar a qualquer custo! E perde-se principalmente a QUALIDADE de ensino! Porém, nós professores perdemos a nossa autoridade e a nossa dignidade com isso! 
E não me venham com o pseudo argumento de que há professor(a) que quer o insucesso do aluno, querendo a sua reprovação! Não, não se trata disso! Talvez por falta de maturidade, falta de compromisso e/ou de responsabilidade, muitos alunos e responsáveis AINDA não tenham conseguido perceber a importância de ESTUDAR, de ADQUIRIR CONHECIMENTO!

Portanto, esta prática de aprovar a qualquer custo, junto com outras do Governo Estadual, está tirando nosso entusiasmo de trabalhar, nossa alegria de ir e estar no trabalho, nossa paz de espírito e dignidade e; nosso descanso diário e semanal! Se trata de UMA DESUMANIDADE! E claro, de novo, lamentavelmente, não é “só isso!!

Não é à toa que estamos mais doentes do que nunca!! Alma e corpos machucados/sangrados com esta indignidade! Mas quem se compadece de nós?! Acho que apenas nós mesmos!! E isto diz muito da capacidade que ainda nos restou: ainda temos compaixão e solidariedade, quando muitos à nossa volta já perderam até isso! Tão “coisificados”, desumanizados estão!

Concluindo, alguém me disse uma vez que se perdermos nossa capacidade/sensibilidade de nos indignar, perdemos nossa HUMANIDADE. Viramos objeto, máquina, coisa! Coisificamo-nos! Então, não quero perder jamais a minha capacidade de me indignar. NÃO QUERO SER INDIFERENTE À INJUSTIÇA QUE NOS AFLIGE! SOU GENTE! ME RECUSO A SER COISIFICADA! A Educação mato-grossense quer e precisa urgentemente de um tratamento HUMANO, JUSTO, DIGNO E RESPEITOSO!