Pesquisadora de São Paulo estuda a história do Sintep-MT entre os anos 1979 e 1989


As grandes conquistas feitas por meio da luta dos profissionais da educação, no período, servirão de modelo para ressignificar os chamados anos de obscurantismo do período militar.

Publicado: 24/06/2022 19:00 | Última modificação: 24/06/2022 19:00

Escrito por: Roseli Riechelmann

Sintep-MT
Mestranda Solange Leoni, da Universidade Nove de Julho, esteve no Sintep-MT para conhecer a realidade da luta sindical construída na década de 80

A história dos 57 anos de luta do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT) ganhará um foco especial no período de 1979 a 1989. O recorte da década estará na pesquisa da mestranda Solange Leoni, da Universidade Nove de Julho (Uninove), de São Paulo. A pesquisadora faz o trabalho na área de Políticas Educacionais dentro do Programa de Pós-Graduação em Educação com orientação do professor Carlos Bauer.

Solange Leoni destaca que a escolha do Sintep-MT para o estudo foi uma sugestão do professor Bauer, que conhece a atuação do Sindicato desde o início da década de 1980 e a importância histórica e social do movimento sindical dos trabalhadores em educação de Mato Grosso. “Já colhi alguns relatos de personagens do período como professor e ex-dirigente sindical João Monlevade, a professora e sindicalista Ivanildes. E, ainda, temos Carlos Abicalil, Elismar Bezerra e outros para fundamentar os fatos desse período”, informa. 

Segundo a pesquisadora, a partir do estudo sobre Sintep-MT, ela se aprofundou na temática Associativismo e Sindicalismo. “Hoje, com o desenvolvimento da pesquisa sobre a construção da história do associativismo e o sindicalismo dos trabalhadores em educação, meu engajamento é grande”, relata e já pensa em prosseguir no doutorado ampliando o universo pesquisado para outras regiões e até outros países, registrando a importância das entidades e as ações coletivas dos trabalhadores em educação. 

A década escolhida - 1979 a 1989 - registra um período de movimentação política no país, quando se inicia a mudança do governo militar João Batista de Figueiredo para a eleição do primeiro presidente eleito democraticamente pelo voto direito, após 20 anos de regime autoritário. A mudança traz ainda a formação da Assembleia Nacional Constituinte e a promulgação da Constituição Federal de 1988, a Constituição Cidadã, que autoriza a formação de sindicatos classistas.

Pesquisadora em trabalho de campo, busca nos arquivos da entidade registros históricos do período analisado

Em Mato Grosso, apesar do período de ditadura militar e repressão democrática, as lutas dos trabalhadores da educação pública se mantinham, mesmo que sob o formato de Associação Mato Grossense dos Professores (AMP). Na ocasião, em 1979, os professores realizam a primeira greve do magistério, na luta por Concurso Público, dentro do período militar. Na sequência, em 1984, as mobilizações intensas em todo o estado contra o achatamento de salários, na época com valor menor que o salário mínimo.

Em 1985, quando a Constituição e a construção de Sindicatos era um projeto de defesa nacional, a organização dos trabalhadores no Ensino Público começa a se concretizar com a inclusão dos funcionários de escolas públicas na luta coletiva da educação. E, dois anos depois, transformaria a AMP em Associação dos Profissionais da Educação de Mato Grosso (AMPE). No período militar, quando democracia e processo eleitoral eram termos controversos, a AMPE realiza nas escolas a escolha pelo voto dos diretores das unidades, era a Gestão Democrática nas escolas, apesar do período ditatorial nos municípios, estados e país.

O objetivo da pesquisa, conforme esclarece no pré-projeto, é desvelar como se deu em Mato Grosso o processo de compreensão dos profissionais da educação e seu papel político, na consolidação da profissionalização do professor e demais trabalhadores da educação, para que pudessem se entender como sujeitos de direitos. Uma consciência que foi parcialmente perdida durante a ditadura civil militar, esclarece a pesquisadora.