Número de crianças que não sabem ler ou escrever dobrou de 2019 para 2022, aponta pesquisa


O 14 de novembro é marcado pelo Dia Nacional da Alfabetização, data comemorativa que ressalta a importância de saber ler e escrever para a sociedade brasileira.

Publicado: 14/11/2023 16:28 | Última modificação: 14/11/2023 16:28

Escrito por: Redação/CNTE

Reprodução/Unicef

O Dia Nacional da Alfabetização, celebrado hoje, 14 de novembro, no Brasil, chama a atenção para uma piora alarmante do analfabetismo entre crianças de 7 a 9. Dados divulgados no dia 10 de outubro pelo relatório Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil, feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), apontam que o número de crianças que não sabem ler ou escrever dobrou de 2019 para 2022. O documento destaca a pandemia de covid-19 e suas implicações como um dos principais motivos para a piora do índice.

Segundo a pesquisa, a proporção de estudantes de 7 anos que não sabem ler ou escrever saltou de 20% em 2019, para 40% em 2022. A situação também é semelhante para alunos com 8 anos de idade, pois a taxa entre esses subiu de 8,5% em 2019 para 20,8% em 2022. Entre crianças com 9 anos de idade, o número de estudantes com dificuldades no aprendizado aumentou de 4,4% para 9,5%, de 2019 e 2022. Para o relatório, os índices apontam a urgência de políticas públicas em todos os níveis de governo para conseguir reverter esse quadro.

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Guelda Andrade, secretária de Assuntos Educacionais da CNTE

De acordo com a secretária de Assuntos Educacionais da CNTE, Guelda Andrade, as consequências trazidas pela pandemia na educação já eram esperadas, dada a forma que os governadores e o próprio Ministério da Educação (MEC) trataram o assunto. “Não existiu, em nenhum momento, uma política emergencial para atender a demanda daquele momento”, critica.

“As crianças que estavam no período da alfabetização não conseguiram ser alfabetizadas, pois as aulas foram remotas. Nós tivemos todo um processo onde muitas crianças não tinham aparelho de celular, e quando possuíam, o acesso à internet era complicado. Como que um professor consegue alfabetizar as crianças de forma online?”, questiona.

O especialista em políticas sociais do Unicef, Santiago Varella, em entrevista à Folha, destacou que os dados possuem influência direta com o fechamento das escolas durante a pandemia.

"É preciso um esforço concentrado para que esse passivo da pandemia não se prolongue", alerta.

O relatório ainda destaca a discrepância entre a taxa de analfabetismo entre estudantes pretos e brancos. Segundo o estudo, o número de crianças brancas de  7 a 10 anos consideradas analfabetas subiu de 6,3% em 2019 para 15,1% em 2022. Já crianças para crianças negras da mesma faixa etária, subiu de 10,6% para 21,8% de 2019 para 2022.

Outro recorte da pesquisa aponta um crescimento no número de jovens de 4 a 17 anos que frequentam a escola na idade adequada desde 2016. Em 2022, 93,8% se encontravam cursando a série apropriada para sua idade, 3,4% possuíam dificuldades no acesso e outros 2,9% não frequentavam a escola.

Entretanto, para a Unicef, a questão ainda precisa ser trabalhada com mais cautela e contexto na interpretação dos dados em tempo de crise. Segundo o relatório “os dados da privação relativos a estar na escola na idade certa podem ser resultado da aprovação automática na pandemia”, enfatizou o documento.

Para Guelda, a privação de crianças e adolescentes não aconteceu em relação ao ensino, mas sim em relação à educação, contrariando o direito que a Constituição Federal assegura a todos. Para ela, projetos em âmbitos estaduais e municipais, com apoio do Ministério da Educação (MEC), para a recuperação da educação dos estudantes, deveriam ter sido colocados em prática logo após o abrandamento da pandemia.

“Ainda há tempo para isso, de resgatar essas crianças. E para isso, reforço que o processo de implantação e implementação de escolas de tempo integral são pontos fundamentais, pois, enquanto conseguirmos mantê-las em tempo maior no espaço da escola, conseguiremos suprir essa necessidade no processo de ensino dela”, defende Guelda.