Mulheres brasileiras estão sobrecarregadas e esgotadas, revela pesquisa inédita sobre saúde mental


De acordo com o estudo, 45% das mulheres relataram diagnóstico de ansiedade, depressão ou algum outro transtorno mental

Publicado: 02/10/2023 14:44 | Última modificação: 02/10/2023 14:44

Escrito por: APP/Sindicato

REPRODUÇÃO

As mulheres brasileiras estão esgotadas e adoecidas. A conclusão é de uma pesquisa inédita realizada pela ONG Think Olga. O estudo revela quais aspectos da vida têm impactado a saúde emocional das brasileiras no pós-pandemia. O empobrecimento, sobrecarga de cuidado e o sofrimento psíquico seriam as principais causas.

De acordo com o levantamento, quase metade das mulheres (45%) relataram diagnóstico de ansiedade, depressão ou algum outro transtorno mental. Estresse, irritabilidade, sonolência, fadiga, baixa autoestima, insônia e tristeza são os sintomas que se apresentam de maneira mais comum no cotidiano delas.

Na avaliação das pesquisadoras responsáveis pela pesquisa, os dados assustam, mas não surpreendem. A análise das especialistas considera questões estruturais da nossa sociedade, como o machismo, o racismo, o colonialismo, a LGBTfobia e outros fatores de exclusão social que recaem sobre as mulheres.

“Ser mulher significa ter a vida e a existência afetada pelo machismo. A própria OMS reconhece a influência do gênero nas diferenças de poder e controle que homens e mulheres têm sobre os determinantes socioeconômicos bem como na posição social e no tratamento que recebem pela sociedade”, relata manifesto sobre a pesquisa.

Questionadas sobre a satisfação em relação a diversas áreas da vida e quais delas têm gerado mais sofrimento e impacto na saúde emocional, as mulheres revelaram em suas respostas que não estão minimamente satisfeitas em nenhum dos temas investigados.

O descontentamento maior é com as relações amorosas (32%), seguido de relações familiares (30%), relação consigo mesma, autoestima (27%), relação com a comunidade/amizades (24%), saúde emocional (24%), relação com o trabalho (24%), capacidade de conciliar diferentes áreas da vida (21%) e situação financeira (14%).

De acordo com as estatísticas, o problema afeta de forma mais intensa as mulheres negras. Quanto à vida financeira, por exemplo, 61% das mulheres brancas se dizem satisfeitas. Já entre as mulheres pretas e pardas, o percentual de satisfação cai para 46%.

Para as pesquisadoras, a boa notícia é que 91% das entrevistadas afirmam que a saúde emocional deve ser levada muito a sério. Outro dado considerado positivo é que 76% estão buscando prestar mais atenção a isso, principalmente após a pandemia.

 

 

Para superação do problema, a ONG aponta que é preciso ir além do olhar sobre a doença e passar a pensar no cuidado. O relatório também indica diversas propostas a serem tomadas pela sociedade civil, pelo setor privado e pelo setor público.

Incentivar a divisão igualitária do cuidado, manter um ambiente de trabalho livre de assédio sexual e moral e implementar uma Política Nacional de Cuidados são algumas das estratégias sugeridas para que a vida das mulheres sejam efetivamente valorizadas.

A pesquisa foi realizada entre os dias 12 e 26 de maio de 2023 e entrevistou 1.078 mulheres com mais de 18 anos de todas as classes e de todas as regiões do país. A margem de erro é de 3 pontos percentuais e o intervalo de confiança é de 95%. O estudo também conta com observações e comentários de quatro especialistas em saúde mental.

Plataformização

As informações obtidas pelo estudo da ONG Think Olga se alinham com os números revelados pela pesquisa Plataformização da Educação, em que mais de 70% dos(as) professores(as) da rede estadual, categoria majoritariamente feminina, relatam adoecimento pelo uso de plataformas digitais.

O estudo encomendado pela APP-Sindicato e realizado pelo Instituto IPO, analisou a percepção dos professores(as) sobre a imposição de plataformas nas salas de aula. Quase a totalidade dos(as) educadores(as), 91,3%, se declaram sobrecarregados(as) com a avalanche de novas plataformas, aplicativos e meios tecnológicos somados à cobrança pelo cumprimento de metas.

Já 74,3% reconhecem impactos negativos do modelo na sua saúde física e/ou mental, enquanto uma parcela maior (78,3%) afirma ter colegas que adoeceram em decorrência das dificuldades impostas pelas novas tecnologias.