Merendeiras da rede estadual de educação denunciam sobrecarga de trabalho e adoecimento


Profissionais reafirmam denúncia recorrente no estado, desconsiderada pela Seduc-MT sobre falta de funcionárias da merenda

Publicado: 30/03/2023 12:36 | Última modificação: 30/03/2023 12:36

Escrito por: Roseli Riechelmann

Arquivo/Agência Brasil

Profissionais do Apoio Administrativo Educacional (AAE)/Nutrição da rede estadual de educação, em Cuiabá, procuraram a subsede do Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT), na capital, solicitando orientações jurídicas sobre como encaminhar denúncia de sobrecarga de trabalho. As funcionárias se sentiram desrespeitadas e desassistidas pela Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso, que desmentiu merendeiras que denunciarem à imprensa, a falta de profissionais nas escolas estaduais para o atendimento das refeições oferecidas aos estudantes.

As funcionárias da Escola Estadual André Avelino, no bairro CPA, em Cuiabá, reuniram documentação para comprovar a redução do quadro de merendeiras nas escolas estaduais, desde 2019. As funcionárias juntaram ainda laudo médico de uma companheira da unidade, Cecília da Silva Cunha, que pediu afastamento por motivo de saúde, depois de ter os membros travados por excesso de trabalho. Ela é a responsável por atender o turno da noite, preparando e servindo sozinha, refeições e lanches para 6 turmas (média de 210 estudantes) diariamente.  

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Panelas usadas pelas merendeiras no cozimento das refeições dos estudantes

Segundo as servidoras, Elaine Rezende e Márcia Alves dos Santos, a portaria de atribuição de turmas/aulas de 2019 determinada uma (1) merendeira para atendimento de 200 estudantes. “Com 201 matrículas, a unidade poderia solicitar mais uma (1). Em 2020, o número de matrículas subiu para 250, por merendeira, ou seja, 50 refeições a mais. Agora, para 2023, maquiaram a ampliação de alunos, colocando o número de merendeiras por turma, não matrículas. A cada 8 turmas, com média de 35 alunos, uma merendeira. O que já amplia a quantidade de refeições servidas para 280 estudantes. Contudo, existem salas com 40, 45 estudantes, ou seja, mais refeições para cada um contrato apenas”, afirma Elaine Rezende. 

No início do mês de 2023 os registros de sobrecarga de trabalho foram ampliados na rede estadual. O aumento de tarefas, com a redução de profissionais tem aumentado os registros de adoecimento. “Sabemos que nossa função ao longo do tempo promove danos físicos e até psicológicos, contudo, as regras da Seduc-MT estão tornando esses afastamentos por adoecimento cada vez mais cedo”, destaca Elaine Rezende. 
As funcionárias da escola estadual André Avelino, apresentaram evidências do desgaste sofrido pelo excesso de trabalho. Conforme Márcia Alves dos Santos, a colega Cecília, que atua no período noturno na unidade, está de licença médica em virtude de excessos causados pelos esforços físicos e repetitivos. O período noturno da escola estadual André Avelino está sem merendeira agora. A profissional afastada estava ainda mais sobrecarregada do que as demais.

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Cardápio mais elaborado exige mais tempo de preparo e demanda mais mão de obra 

“Ela é responsável pelo preparo das refeições sozinha. Carrega as panelas que, vazias, pesam mais de dez quilos. A colega tem que carregar diariamente cinco panelas dessas, cheias, que chegam a 30 quilos. Com o cardápio mais elaborado, ampliou o trabalho de preparo, que depois é servido a mais de 100 estudantes. Depois de lavar as panelas, pratos e todos os itens utilizados, ela limpa a cozinha e o refeitório, para entregar as merendeiras do dia seguinte. Ainda serve o lanche, que, mesmo sendo uma maçã, precisa lavar mais de 100 delas e entregar a cada estudante. Para dar conta do serviço, ela entra às 17 horas e tem deixado a escola por volta da meia noite e meia, uma hora e meia após a jornada, que deveria ser de 6 horas”, relata.

Para o secretário de Funcionários do Sintep-MT, Klebis Marciano, é positiva a movimentação dos profissionais na luta, pois o governo é ciente da sobrecarga física e psicológica das merendeiras, diante do aumento de refeições, e também do número de estudantes atendidos. O ocorre é uma estratégia para desqualificar os profissionais e apresentar um projeto de terceirização que virá com argumentos de eficiência”, afirma o dirigente.