"Mato Grosso o estado mais rico e mais pobre do Brasil”, revela pesquisador
Professor doutor Wanderlei Pignati (UFMT) trata dos impactos do modelo de produção do agro na saúde e no meio ambiente.
Publicado: 10/08/2024 18:14 | Última modificação: 10/08/2024 18:14
Escrito por: Roseli Riechelmann
O modelo econômico de Mato Grosso apresenta realidades contraditórias para a população. Embora o estado esteja entre os maiores PIBs do país devido ao agronegócio, registra altos índices de empobrecimento, adoecimento e mortes relacionados a essa atividade. Estudos apresentados no Conselho de Representantes do Sintep-MT (Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso) revelaram essa face perversa.
O palestrante, professor doutor Wanderlei Pignati, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), pesquisa há mais de 20 anos os impactos do modelo de produção de soja, algodão e milho na saúde da população e no meio ambiente. Seus estudos documentam os danos causados pelo uso de agrotóxicos, como Glifosato, 2,4 D, herbicidas, fungicidas e inseticidas, que contaminam a chuva, a água consumida, os alimentos, o leite materno e o ar.
A aplicação indiscriminada desses venenos, especialmente em culturas transgênicas, eleva a incidência de doenças, como diferentes tipos de câncer, má formação fetal, abortos, lesões pulmonares e renais, e Mal de Parkinson. Esses problemas são mais graves nas regiões onde o agronegócio predomina. "Mato Grosso é o estado que mais usa agrotóxicos por hectare, liderando a produção de algodão, soja, milho e bovinos no Brasil, e, consequentemente, o uso de defensivos agrícolas", afirmou Pignati.
Os danos à saúde da população são agravados pela destruição ambiental, já perceptível no Pantanal e na Amazônia mato-grossense. "Estão contaminando nascentes e devastando a mata e o cerrado. Embora 70% do PIB venha do agronegócio, os lucros não são compartilhados com a população", ressaltou o pesquisador.
Pignati destacou ainda que a comunidade escolar é particularmente afetada, com a contaminação das águas das escolas. Em Campo Novo do Parecis e Lucas do Rio Verde, foi detectada contaminação por agrotóxicos no sangue de professores e alunos. Um dirigente do Sintep-MT, que participou do estudo e posteriormente foi diagnosticado com câncer, relatou níveis de agrotóxicos em seu organismo três vezes superiores ao permitido.
Além dos impactos na saúde, o modelo de produção agrava os problemas econômicos do estado. Embora o agronegócio responda por 70% do PIB, os lucros beneficiam apenas os grandes fazendeiros, que são isentos de impostos sobre produtos primários de exportação, como previsto na Lei Kandir. "Quanto mais produzem e exportam, menos recursos ficam aqui. Além disso, há denúncias de corrupção, com parte da produção sendo desviada para centros industriais nacionais, sem pagar os impostos devidos ao estado", concluiu Pignati.