Levantamento aponta que 97,3% dos profissionais da educação estadual se consideram sobrecarregados
Dados coletados pelo Sintep-MT junto aos trabalhadores da educação estadual apontam medidas que tornaram a rotina pedagógica ainda mais pesada em 2023
Publicado: 12/07/2023 12:26 | Última modificação: 12/07/2023 12:26
Escrito por: Roseli Riechelmann
Consulta realizada pelo Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT) revela que para 97,3% trabalhadores da educação a rotina pedagógica em 2023 se tornou mais extenuante do que em anos anteriores. O levantamento faz parte do questionário disponibilizado pela Secretaria de Assuntos Educacionais do Sintep/MT, por meio da plataforma google forms, para saber a opinião dos educadores na rede estadual, sobre a rotina pedagógica após medidas impostas pelo governo Mauro Mendes ao longo do primeiro semestre.
De acordo com o dirigente, Gilmar Soares Ferreira, secretário adjunto de Políticas Educacionais e professor lotado na rede, as perguntas feitas no questionário levaram em consideração os apontamentos trazidos pelos profissionais que denunciam a extenuante rotina implementada nas unidades escolares. Entram na avaliação questões sobre o Sistema Estruturado de Ensino, Webponto, saúde dos trabalhadores, aprendizagem entre outros.
Dos apontamentos feitos sobre a sobrecarga de trabalho, 58,4% das respostas destacaram como responsável o excesso de exigências burocráticas apresentado pelas Diretorias Regionais de Ensino (DRE’s). As diretorias, apelidadas de delegacias, são o braço de comando do órgão central em municípios polos do estado. A reclamação é que está se estabelecendo uma rotina de cobrança, em que na maioria das vezes não se leva em conta a realidade das escolas e até a falta de condições que órgão central deveria proporcionar às escolas e não faz a contento.
“O projeto político pedagógico das escolas é um sonho inviável na metodologia do governo, pois busca unificar, padronizar resultados e conhecimentos. Esses índices são tão relevantes para o governo que deixar de atingir os resultados planejados pode gerar demissão de diretores de escola, como ocorreu no último dia 30 de junho. O governo disponibilizou o que ele considera suficiente em recursos e equipamentos para obter os resultados e ignora que trabalha com seres humanos”, afirma Ferreira.
O controle de assiduidade, webponto, é um modelo desse processo industrial/empresarial implementado nas unidades escolares. Pelas respostas dos profissionais se confirma como inadequado; 76,4% apontam que o webponto não tem funcionalidade na escola. Registraram frases como: “o sistema é inconsistente”; ou, “Não atende as especialidades das escolas e dos profissionais”, ou ainda, “sempre dá problemas e é mais um trabalho ao profissional ter que ficar justificando algo que é um erro do sistema”, ou ainda, “serve apenas para tumultuar ainda mais o ambiente escolar”.
Na rotina profissional o webponto gera ansiedade e estresse aos profissionais, antes mesmo de iniciarem as aulas. A ausência não justificada poderá gerar demanda de desconto salarial e a inviabilidade do profissional de concorrer a um dos quesitos (assiduidade) apresentados pelo governo para melhorar a remuneração do educador. Contudo, pelo segundo ano o governo reconheceu as dificuldades que envolvem a implementação do Webponto.Há unidades escolares que no coletivo tomaram a decisão de não seguir utilizando o problemático sistema.
O problema é ainda mais grave, pois o ano iniciou com um processo de atribuição de aulas na rede estadual totalmente caótico, que levou à falta de profissionais e a professores tendo que assumir duas ou mais escolas, complicando ainda mais a justificativa no sistema, devido a fragmentação da jornada. Segundo 70,2% dos profissionais a rotatividade se deve ao sistema de formação de turmas online.
Outro destaque foi sobre o Sistema Estruturado de Ensino, além dos 58,4% que apontaram o burocratismo da Secretaria de Estado de Educação (Seduc-MT), 17,3% dos entrevistados responderam que o sistema é um problema por não corresponder à realidade dos estudantes. Houve outros 24,3% de respostas fragmentadas entre; sobrecarga por indisciplina dos estudantes; retorno do pós-pandemia com mais dispersão; e, desinteresse dos estudantes.
Como conclusão de todo esse caos, fica justificado porque 91,7% dos profissionais acredita que têm havido uma grande expectativa pelas licenças prêmio (a cada cinco anos dá direito a três meses de licença). Ou ainda, o motivo das escolas terem um aumento de licenças médicas (86% responderam ter aumentado as licenças médicas nas respectivas unidades).
Para o Secretário Adjunto de Políticas Educacionais todos os esforços do governo de “enquadrar” os profissionais da educação por uma política de bônus por resultado, poderá vir acompanhada de um adoecimento generalizado entre os educadores, justamente por não contar com uma verdadeira política de Valorização Profissional. “Temos na direção da Seduc que só pensam em resultado, fingindo que asseguram valorização através da pseudo mensagem de 14º e 15º salário, cujo a própria regulamentação da gratificação, por resultados, não a assegurará”, finalizou o dirigente sindical.