Entidades se unem aos estudantes contra o Novo Ensino Médio nas ruas da capital


Sintep-MT integrou a manifestação Revoga Já! que levou estudantes secundaristas de todo o país a cobrar do governo Lula o fim do NEM.

Publicado: 16/03/2023 16:00 | Última modificação: 16/03/2023 16:00

Escrito por: Roseli Riechelmann

Sintep-MT/Jadson Oliveira

A mobilização nacional pela revogação do Novo Ensino Médio (NEM) ocupou as ruas da capital mato-grossense, ontem (15/03), em ato convocado pelo movimento estudantil. Com apoio de associações, centrais sindicais e sindicatos de profissionais da educação, entre eles, s o Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT), um grupo e estudantes foi para as ruas cobrar a interrupção do NEM. A manifestação se concentrou na Praça Ipiranga, e saiu em caminhada até a Praça Alencastro, área central de Cuiabá. 

Jadson Oliveira
Dirigentes do Sintep-MT nas ruas para cobrar a Revogação do Novo Ensino Médio

A Reforma do Ensino Médio criada em 2017, na gestão de Michel Temer, passou a vigorar em 2022, nas escolas públicas do país. Os motivos da cobrança pela revogação são vários, mas o fato geral é de que as mudanças não atendem as necessidades de aprendizagem dos estudantes dessa etapa de formação, nas escolas públicas.

Para o presidente do Sintep-MT, Valdeir Pereira, o Novo Ensino Médio apresenta um percurso de redução do currículo e aprofunda ainda mais o abismo que separa os jovens da escola pública daqueles que possuem mais recursos e tempo para se dedicar aos estudos. “O que chamam de Reforma e de melhorias, para nós, significa o retrocesso à década de 70, quando a escola pública existia, mas não era para todos”, destacou Valdeir Pereira. 

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Presidente do Sintep-MT, Valdeir Pereira, aponta o retrocesso da política de Ensino Médio para a Educação Pública: "Voltamos a década de 70"

O dirigente reforçou ainda a reivindicação feita no ato, pelo passe livre de estudantes do transporte intermunicipal. É preciso garantir o acesso, diante da realidade socioeconômica dos alunos da escola pública. “Outra diferença dos estudantes da escola privada, que vai de motorista para a aula”, disse.

Também presente no ato, o presidente da CUT-MT e dirigente do Sintep-MT, professor Henrique Lopes, reafirmou ser a Reforma do Ensino Médio uma estratégia da elite para definir quem será mão de obra barata e aqueles que ficarão com os melhores colocações e salário. Henrique lembrou um depoimento do então ministro da gestão Bolsonaro, Milton Ribeiro, ao se pronunciar sobre o NEM. “O ministro deixou claro que, como não existe bons empregos para todos, os filhos da classe trabalhadora terão que se preparar para o trabalho, e não precisará ter acesso ao conhecimento de forma ampla”, relatou. 

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Presidente da CUT-MT e dirigente do Sintep-MT, Henrique Lopes destacou que o NEM foi criado para formação de mão de obra barata  para o mercado, e desqualificada para o mundo do trabalho  

O dirigente reafirmou que não se trata de afirmar que o modelo de Ensino Médio anterior era bom, mas de que o atual piora o que já era ruim. “Ao privilegiar no currículo apenas as disciplinas de Português e Matemática e retirar as disciplinas que ajudam a compreender a sociedade (Sociologia, Filosofia), reduzindo História e Geografia, se configura num modelo excludente, privatista e que privilegia aqueles que já são abastados do ponto de vista econômico”, afirmou.

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Presidente da UBES-MT, Lucas Gabriel, destaca que o Novo Ensino Médio não tem nada de inovador e compromete o direito dos estudantes à educação de qualidade

Lucas Gabriel Gomes Silva, 17 anos, presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas, em Mato Grosso (UBES-MT), ressaltou que o projeto inovador está fora da realidade das escolas de Mato Grosso. “Muitas escolas não têm infraestrutura para disponibilizar os itinerários formativos. Faltam professores habilitados para as aulas, e os docentes estão saindo de suas áreas de habilitação para ensinar (Educação Financeira, empreendedorismo, entre outras). 

O estudante lembrou que, apesar da tecnologia ter avançado 20 anos, a educação pública vive no século passado. “A educação vive esse paradigma. Por isso temos que avançar no Plano Nacional de Educação e nessas maneiras de educar”, disse Gabriel. 
Entre os destaques da fala do presidente da UBES-MT e de outros representantes dos estudantes foi o fato do Novo Ensino Médio apresentar a carga horária extensa e uma proposta de Ensino à Distância. “Dão em quatro aulas aquilo que seria suficiente em 30 minutos”, afirmou.

A secretária do Grêmio estudantil da Escola Estadual Maria de Arruda Muller, Liceu Cuiabano, na capital, Waleska Gabriela, ressaltou que apesar da unidade ser uma referência no estado, ter disponível chromebooks para acesso à plataforma de aprendizagem, e ter orientação dos professores, a própria plataforma “é confusa e não ensina praticamente nada”, destaca. 

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Estudantes das escolas pública da capital carregaram cartazes pedindo a revogação do NEM

Para a estudante o ensino EAD ofertado é extremamente desinteressante para os alunos. A ausência de professor para orientar e a retirada de matéria importantes para a formação são outro problema destacado. “O período noturno a aula na plataforma começa 18h, horário que muitos estão trabalhando. Fica inviável e muitos estudantes estão desistindo da escola”, afirma Waleska.

A presidente do Grêmio Estudantil do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), Evelin Vitória, 17 anos, participou do ato em defesa da Revogação do Novo Ensino Médio e pelo passe livre no transporte público intermunicipal. Segundo ela, os 40% das disciplinas do Ensino à Distância que seria para agregar mais conhecimento, além de não cumprir com o que anuncia, se torna inviável diante das dificuldades de acesso a infraestrutura necessária (computador, rede de intenet de qualidade), muitos estudantes trabalham o que inviabiliza o acesso”.

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Ato público na área central de Cuiabá reuniu representantes de vários movimentos estudantis

O Comite da Campanha pelo Direito à Educação em Mato Grosso esteve representando no pelo professor Geraldo Grossi Júnior. O educador destacou que o Novo Ensino Médio faz uma divisão social das possibilidades dos alunos. Questionou o fato das escolas de Mato Grosso, em especial nos municípios menores não terem condições de ofertar todos os itinerários formativos e ainda destacou que a educação profissionalizante, inserida nesse processo, também estará prejudicada. “O NEM foi criado no governo Michel Temer, e foi subsidiado por fundações como a Lemann, hoje inserida no caso da falência das Lojas Americanas, junto com outras instituições que defendem a formação dos jovens para o mercado de trabalho e não para o mundo do trabalho”, concluiu.

Participaram da mobilização representantes da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (Adufmat), Associação Matogrossense dos Estudantes Secundaristas (AME), União Estadual dos Estudantes de Mato Grosso (UEE-MT), União Nacional dos Estudantes de Mato Grosso (UNE-MT), representantes da juventude de partidos progressistas, e estudantes de escolas públicas de Cuiabá e Várzea Grande.    

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