Educador de Minas Gerais promove projeto pela democracia e autonomia estudantil
Iniciativa que surgiu para a resolução de conflitos e boa convivência em sala de aula deu voz e participação ativa aos alunos
Publicado: 30/01/2025 15:55 | Última modificação: 30/01/2025 15:55
Escrito por: Redação CNTE

Na sala de aula do educador Vitor Paulo Azevedo de Araújo, 27, a democracia é soberana e reforçada diariamente junto aos seus estudantes. Professor de História na Escola Municipal José Silvino Diniz, em Contagem, Minas Gerais, ele se destacou pelo projeto “Educação para a Democracia: a prática de assembleias escolares”, que promove a participação e autonomia dos alunos na vida escolar.

O projeto, que surgiu com o propósito de resolução dos conflitos e boa convivência entre os estudantes, foi um dos vencedores da segunda edição do Concurso Juventude que Muda a Educação Pública, da CNTE, representando a Região Sudeste.
“No início, o projeto visava apenas à resolução de conflitos entre os próprios estudantes, o que impedia o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem”, conta.
Foi durante uma aula de democracia ateniense, conteúdo sobre a Grécia Antiga, que surgiu o mote para as primeiras discussões, dialogando sobre o que são as assembleias e quais são as suas funções junto aos alunos.
“Ao longo do projeto, participaram alunos entre os 10 e 12 anos de idade. E, para mim, uma palavra define o desenvolvimento do projeto: transformação. É muito interessante observar como os estudantes se apropriam dos espaços e dos lugares que lhes são ofertados. A estrutura escolar brasileira ainda é muito arcaica, com as decisões e discussões sendo tomadas em sua grande maioria de forma unilateral, na sala das direções ou nas coordenações pedagógicas, e pouco ou nenhum espaço é dado para que os próprios estudantes discutam e pensem sobre sua vida escolar, individual e coletivamente”, chama a atenção.
“Botava como as flores na primavera”, descreve o professor sobre a autonomia dos estudantes no desenvolvimento das assembleias. Um processo de sucesso, que ele afirma ter contribuído para transformar a visão dos estudantes sobre o espaço escolar e dar a eles uma voz ativa nesse meio.
“Não tivemos nenhuma intercorrência no andamento das atividades. Todos compreenderam a proposta e participaram ativamente. Era muito bonito ver o desejo que eles tinham de falar e decidir sobre si e sobre a turma. Conseguimos quebrar a lógica do mandar e obedecer, muito presente no dia a dia de um país recém-saído da escravidão e de uma ditadura militar absurda. Os estudantes podem, sabem e devem compreender e decidir sobre seus próprios problemas e seus potenciais”, celebra o educador.
Continuidade aos bons exemplos
Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e mestrando também em história na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Vitor se dedica a replicar aos seus alunos as boas experiências que teve quando mais jovem. Inspirado pelos professores da sua época, ele completa cinco anos de trabalho na educação.
“Decidi que me tornaria professor ainda quando era estudante do ensino fundamental, na escola municipal Paulo Mendes Campos, em Belo Horizonte. Essa escola mudou minha vida e me deu novas possibilidades e horizontes, que me fizeram crer na importância da educação pública. Lá tive um professor de História transformador, que chamamos de ‘Zidane’, e que exerceu uma influência muito grande na minha escolha profissional e em como exerço minha profissão”, compartilha.
Assim como Vitor guarda memórias positivas sobre sua época de estudante, seus alunos caminham no mesmo sentido graças às iniciativas que puderam desenvolver com o projeto Educação para a Democracia.

Do espaço que visava discutir os problemas da turma, já organizaram campanhas de arrecadação de dinheiro, promoveram festas juninas em um asilo próximo à escola, construíram juntos um documento que formaliza as eleições para representantes de turma, além de construírem medidas para solucionar problemas presentes durante as aulas.
“A ideia agora é avançarmos na proposta e, quem sabe, tornar as assembleias de classe um espaço oficial de discussão e deliberação dos estudantes de toda a escola.
Viagem a Recife
Junto aos outros quatro vencedores do Concurso da CNTE, em julho de 2025, Vitor embarca para Recife, Pernambuco, onde apresentará os resultados do seu projeto no Encontro Pré-Congressual da Juventude da CNTE, que acontece nos dias 17 e 18.
“Saber que o projeto foi vencedor me fez sentir uma sensação única. O reconhecimento externo de toda dedicação, empenho e compromisso empregados nas atividades desenvolvidas me fez sentir ainda mais realizado. E além de ser professor, sou muito atuante na militância sindical da cidade, e poder ocupar esse lugar dentro da CNTE, num momento onde é urgente e necessária a aproximação da juventude com as entidades sindicais, vai me proporcionar um acúmulo de experiência interessante para desenvolvermos atividades pela juventude sindical aqui no município”, reforça o educador.
“A expectativa para apresentar o projeto é ótima, principalmente pelo fato de poder compartilhar e trocar experiências com outros profissionais da área”, completa.
Segundo explica Luiz Krehram, que coordena o Coletivo de Juventude da CNTE ao lado de Bruno Vital, o concurso é uma forma de dar luz ao trabalho e projetos que têm sido desenvolvidos pelos jovens educadores da educação pública. Ele conta que muitos jovens, ao ingressarem na educação pública, chegam com muita vontade de transformar a sociedade e o ensino, entretanto, não enxergam na militância sindical, necessariamente, a única maneira de alcançar esse objetivo.
"Eles/as estão extremamente engajados nessa mudança, e poderiam estar se dedicando a projetos educacionais nas suas unidades escolares. Então, como uma forma de aproximar a CNTE, os seus sindicatos filiados e o Coletivo de Juventude desses educadores jovens e engajados, com um profundo sentimento de transformação da educação pública, a gente pensou nesse concurso", explica o dirigente.
Para os coordenadores, a segunda edição do Concurso acontece para solidificar a iniciativa, que tem recebido bons projetos de todos os cantos do país.
"O nosso objetivo continua o mesmo: tentar chegar nas iniciativas de jovens do Brasil todo e dar visibilidade ao que tem sido feito, seguindo a pedagogia freireana. Essa segunda edição veio consolidar o nosso concurso que, mais uma vez, obteve bons projetos inscritos, com boas ideias que estão sendo trabalhadas pelos educadores jovens no Brasil", destaca Bruno Vital.