Educação digital demanda ampliação do investimento em infraestrutura e formação
Segundo dados do Dados do Mapa da Conectividade na Educação, produzido pelo Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB) e pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, 30.024 escolas municipais e estaduais não estão conectadas à Internet.
Publicado: 24/02/2023 10:43 | Última modificação: 24/02/2023 10:43
Escrito por: Redação/CNTE
Os números divergem bastante do levantamento promovido pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que apontou haver 9,5 mil escolas sem acesso à rede mundial de computadores ao final de 2022.
Diferenças à parte, o fato é que a ausência de políticas públicas que garantam a inclusão universal para todos e todas geram um cenário de desigualdade regional escancarado com o início do ano letivo. O problema não se restringe às limitações estruturais, mas inclui também a qualidade de formação dos educadores e educadoras e as políticas de parceria com a iniciativa privada que aprofundam diferenças.
O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Araújo, acredita que diante dos sucessivos cortes na área de educação promovidos pelo governo do presidente derrotado nas últimas eleições, Jair Bolsonaro (PL), um cenário de investimento só deva ocorrer efetivamente em 2024.
“Neste ano nós prevemos que a partir do orçamento deixado pelo governo anterior, será possível apenas fazer um diagnóstico para equipar em 2024 e para que possamos começar a avançar em estrutura”, explica.
Porém, os caminhos para esse investimento, ressalta, precisam ter como base políticas que levem as melhores condições para todos e não selecionem apenas algumas unidades escolares.
“Muitos estados criam programas de escolas-referência e fazem investimentos em poucos locais. O aceso deve ser equânime, respeitando as diferentes necessidades locais, porque algumas regiões demandam maior investimento do que outras. Também não podemos nos apoiar exclusivamente na iniciativa privada já que, em geral, não se trata de parceria, mas de ONGs (Organizações Não Governamentais) que recebem dinheiro público para a prestação de serviços na área de educação continuada”, aponta.
Continuidade e formação
A CNTE defende que para ter efeito, o conhecimento digital deve ter continuidade na vida de estudantes. Porém, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 28,2 milhões de brasileiros de 10 anos ou mais de idade não usavam a internet em 2021. Desses, 3,6 milhões eram estudantes.
Os motivos mais mencionados para a exclusão digital foram não saber usar a internet (42,2%) e falta de interesse (27,7%). Já 20% apontaram motivos financeiros para a falta de acesso, 14% disseram que o acesso à rede era caro e 6,2%, que o equipamento eletrônico necessário era caro.
A distribuição de tabletes e chips é essencial para os estudantes terem acesso à internet - e é uma das bandeiras da CNTE - mas a preparação de quem irá formar os alunos e alunas não pode ser negligenciada, conforme aponta a secretária de Formação da confederação, Marta Vanelli. "Se professor não está preparado para utilizar plataforma digital e se não tiver tempo para se preparar, o acesso dos alunos e alunas à tecnologia não irá melhorar a educação. O foco principal é o professor. Ou dá tempo com cursos adequados, mais hora atividade para poder se organizar e fazer do instrumento uma ferramenta a serviço do ensino, ou não teremos o resultado que a gente espera.”, explica a dirigente.
A assessora de advocay da Campanha Nacional pelo Direito à Comunicação, Tânia Dornellas, afirma ainda que não há política eficaz que seja realizada sem ouvir quem é responsável pela educação. “A distribuição dos recursos deve partir do diálogo com os professores. É a partir do conhecimento das realidades locais que garantiremos inclusão digital de forma que não aumentemos as desigualdades sociais e educacionais, afinal, a maior parte das 9,4 mil escolas sem acesso à internet está em áreas rurais e isso deve ser considerado”, conclui.