CPLP-SE debate impacto das avaliações de desempenho na autonomia dos docentes em práticas pedagógica


A Confederação Sindical da Educação dos Países de Língua Portuguesa (CPLP-SE) encerrou o mês de maio com o último encontro da agenda comemorativa ao Dia Mundial da Língua Portuguesa, celebrado no dia 5 do mesmo mês, “Em bom português”, debatendo sobre os profissionais da educação na liderança.

Publicado: 05/06/2024 16:05 | Última modificação: 05/06/2024 16:05

Escrito por: Redação/CNTE

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Realizada no dia 29 de maio, a roda de conversa virtual contou com as contribuições da professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretora de Cooperação Institucional e Internacional de Inovação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), Dalila de Oliveira.

Membros de organizações filiadas à CPLP-SE, entre elas a CNTE e representantes de seus sindicatos filiados participaram do encontro, que destacou a importância da autonomia dos docentes para a construção da educação pública de qualidade.

“Decidimos vivenciar no mês de maio o Dia Mundial da Língua Portuguesa, conversando entre nós e, Em Bom Português, o fortalecimento da democracia, a educação pública nos nossos continentes, e os profissionais da educação na liderança, definindo as políticas educacionais em cada país que atuamos que precisam ser fortalecidas”, disse o presidente da CNTE e secretário Geral da CPLP-SE, Heleno Araújo.

Autonomia dos docentes

Ao abordar o tema sobre a liderança dos profissionais da educação, a professora Dalila chamou atenção que, atualmente, esta tem sido mais relacionada ao processo educativo desenvolvido nas escolas do que sobre a luta e defesa dos interesses dos trabalhadores.  

“Claro que nós, profissionais da educação, quando lutamos por melhores condições de trabalho, também queremos a melhoria da oferta educativa, mas o que está por trás desse apelo pela liderança dos professores é sempre focado na melhoria do desempenho dos estudantes. Acontece que essa melhoria desejada é aquela aferida por testes em larga escala que desconsideram, geralmente, as condições materiais objetivas que este processo está sendo desenvolvido”, ressaltou.

Ela relata que, nas últimas décadas, em decorrência da pressão de avaliações de mensuração de desempenho, como o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) e o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), a autonomia dos docentes perdeu ainda força, interferindo até na saúde mental dos profissionais.

“As políticas de responsabilização focadas na melhoria dos resultados acadêmicos têm causado a intensificação das atividades docentes e a incorporação de lógicas próprias das organizações capitalistas do trabalho na gestão da escola pública”, apontou Dalila.

“Pesquisas realizadas em diversos países demonstram que essas políticas promovem um ambiente interno altamente competitivo nas escolas, onde o desempenho dos/as trabalhadores/as passa a ser constantemente avaliado, com esse tendo seus resultados expostos, incentivando comparações entre estabelecimentos de ensino, municípios, estados e regiões, e até entre países”, completou.

Utilizando o Brasil como exemplo, a professora destacou uma crescente expansão das avaliações de sistemas educacionais, tanto em nível nacional quanto municipal.

“É muito importante problematizar como essas avaliações impactam na autonomia docente, configurando as práticas pedagógicas dos/as professores/as, e interferindo na capacidade de tomada de decisões de forma independente sobre o seu trabalho”, considerou.

Para ela, reconhecer a autonomia dos professores significa dar a possibilidade para eles adaptarem suas práticas com as necessidades dos/as alunos/as, uma vez que esses se sentem empoderados para tomar decisões que refletem suas convicções pedagógicas.

“Quanto mais controle o professor sente sobre seu trabalho, mais engajamento e satisfação ele tem… Além disso, a utilização dessas avaliações podem influenciar a autonomia dos/as professores/as de maneiras distintas, dependendo de como os resultados são percebidos e utilizados pelos sistemas de ensino e instituições escolares. Vale ressaltar que não estamos falando contra essas avaliações, mas sim em como essa em larga escala de testes é assimilada pelos sistemas de ensino”, reforçou Dalila.

Dalila ainda apontou como a percepção dos docentes sobre seu próprio trabalho tem sido influenciada pelo desempenho de seus estudantes, desconsiderando o fato do contexto em que a escola onde trabalha está inserida.

“Essa dinâmica (de avaliação) reduz o peso das instituições e culpabiliza os/as professores/as pelo fracasso das escolas nos testes... Liderança está justamente ligada em descentralizar esse controle que se coloca em um lugar de autonomia. Reforçar o conceito de autonomia docente é assumir em nossas mãos essa batalha para construirmos uma educação que, de fato, seja pelo bem comum”, finalizou.