Comissão de escolas quilombolas manifesta indignação após desrespeito do secretário de Educação


Após reunião previamente agendada, os representantes não foram recebidos pelo secretário

Publicado: 29/01/2024 11:52 | Última modificação: 29/01/2024 11:52

Escrito por: Roseli Riechelmann

Reprodução

Uma comissão composta por professores e diretores de escolas quilombolas de diversas comunidades do Mato Grosso manifestou indignação durante visita em Cuiabá, para uma agenda desrespeitada pelo secretário de Estado da Educação, o engenheiro Alan Porto. Após percorrerem longas distâncias para a reunião previamente agendada, os representantes não foram recebidos pelo secretário. O descaso ocorreu em 22 de janeiro, quando os professores vieram discutir a atribuição de aulas nas escolas quilombolas.

"A reunião estava marcada, agendada, e de maneira deseducada e deselegante, o secretário de Estado de Educação, Alan Porto, não apareceu e não justificou sua ausência. Ele se recusou a nos receber, e fomos atendidos por uma equipe que não acolheu nossas demandas", destacou um dos integrantes em manifestação feita em vídeo, que circulou nas redes sociais.

De acordo com os educadores, o governo tem descumprido a legislação que garante o direito das comunidades quilombolas em decidir sobre o quadro de profissionais das escolas, incluindo os gestores. O diálogo buscava assegurar o direito das comunidades quilombolas de terem professores com formação e conhecimento da cultura quilombola ministrando as aulas, assim como ocupando cargos de direção escolar, dentro de seus espaços e territórios.

Para as comunidades escolares quilombolas, essa é mais uma ocasião em que o governo desrespeita a população quilombola. "Este é um direito nosso que o governo está negando", destacou a diretora da Escola Municipal de Nossa Senhora de Aparecida, no Distrito do Chumbo, localizado no município de Poconé (Baixada Cuiabana), Jusiane Luiza.

Apesar de atuar na rede municipal, a educadora ressalta que o impacto é coletivo. Segundo a educadora quilombola, os enfrentamentos são para que a cultura quilombola seja respeitada. "Se fala muito na constituição de direitos, que foram conquistados, não nos deram nada, mas quando vamos atrás deles, somos desconsiderados. Não vamos retroceder; iremos até as últimas instâncias. O fato de o secretário não receber os educadores não ficará impune".

Os quilombolas afirmam que há uma visão distorcida por parte da sociedade que encara essas lutas como defesa de privilégios. Uma parcela da sociedade ignora os mais de 300 anos de escravidão que retiraram os direitos do povo negro, e posteriormente, agrupados em quilombos, uniram forças para preservar sua cultura, tradições e território.

"As lutas agora são por cotas raciais e pelo direito de permanecermos em nossos territórios. Cada vez que uma pessoa quilombola, com formação, precisa sair do território em busca de trabalho, isso nos enfraquece. Portanto, continuaremos a enfrentar essa situação", concluiu a representante quilombola.