CNTE critica reformas educacionais de padronização pedagógica em seminário internacional


Para a Confederação a defesa da educação pública de qualidade deve estar comprometida com o ser humano e com a forma de desenvolvimento do país.

Publicado: 26/09/2023 11:17 | Última modificação: 26/09/2023 11:17

Escrito por: CNTE

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Secretário de Relações Internacionais da CNTE, Roberto Leão,

A CNTE participou, nesta segunda-feira (25), do seminário internacional sobre as “tendências globais na educação: o impacto das estruturas de governança, da privatização e da digitalização”. O evento reúne alguns dos maiores especialistas em direito à educação na perspectiva global. Integrando a segunda mesa de debates do dia, o secretário de Relações Internacionais da CNTE, Roberto Leão, representou a Confederação argumentando sobre a perspectiva global dos trabalhadores da educação.

O evento é promovido pelo Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP), em parceria com a Faculdade de Educação da USP, com o Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, e com o Transnational Institute (TNI), que também é apoiador do seminário. As mesas de debates iniciaram na manhã desta segunda (25), e seguirão até terça-feira (26), no auditório do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP).

Para Andressa Pellanda, coordenadora-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e doutoranda do IRI/USP, além de organizadora do evento, os debates apresentam o importante papel da pesquisa para o encaminhamento de políticas públicas. “Assim como tantos outros que compõem as nossas mesas de debates, estou nesse seminário com minhas duas bandeiras, a de ativista e de pesquisadora, ainda que essas sejam indissociáveis, isso mostra que o papel importante dentro do ativismo global", comentou.

Segundo Pedro Dallari, diretor do Instituto de Relações Internacionais da USP, o evento se dá em um momento promissor, dado a volta dos Estados Unidos ao grupo de membros da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

De acordo com Pedro, a Unesco desempenha um papel de referência no meio das relações internacionais, e a volta de um dos maiores contribuidores para o seu orçamento empodera e revigora o trabalho da instituição na capacidade de financiamento de projetos.

“As reflexões deste seminário poderão dialogar com uma instituição que está mais revigorada […] e o papel da universidade, como local de pesquisa, é fundamental, pois cabe a nós, junto com o governo e a sociedade civil, construirmos o marco civil de políticas públicas que poderão abranger o âmbito nacional e subnacional, com cada vez mais referências internacionais”, destacou.

Perspectiva global dos trabalhadores em educação

Integrando a segunda mesa de debates, Leão abordou o papel sindical da CNTE e da Internacional da Educação (IE) na defesa da educação pública de qualidade e comprometida com o ser humano, como forma de desenvolvimento de um país.

Segundo ele, nos últimos tempos, tem sido observado um movimento global que leva a educação pública a ser privatizada e mercantilizada em vários países, por conta de “assalto” em fundos públicos de educação mundial por instituições financeiras e investidores.

Leão disse que, embora os fundos públicos de educação sejam considerados poucos em relação às necessidades do setor, os recursos têm sido vistos com grandes olhos por investidores como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que buscam se apropriar dos lucros, investindo em uma educação de baixo custo e com os modelos pedagógicos padronizados para todo o mundo.

“A tentativa de unificação da educação é para que essa seja fácil de avaliar [...] o novo ensino médio, por exemplo, que fixa matérias de português, matemática e inglês e dispensa as outras que orientam a leitura do mundo, como filosofia, história e geografia, e coloca estudantes, especialmente os mais pobres, em lugar de subalternidade”, criticou.

“Esses projetos servem para enriquecer quem já é rico. Financiamentos feitos pelo Banco Mundial e FMI são, na verdade, avanços sobre os fundos públicos para implementar uma educação de qualidade discutível, que gera lucro apenas para esse pessoal”,  completou

Ele explicou que a luta de trabalhadores/as contra esses projetos tem sido pautada por três pilares: mais investimentos, com a valorização de profissionais da educação, e perspectivas de carreira; melhorias na qualidade da educação; e a luta pelo fim da mercantilização da aprendizagem.

Entretanto, segundo ele, as reações contrárias de movimentos sindicais ao modelo de educação têm resultado em perseguições vindas de governos e instituições financeiras, que tentam contra-atacar fragilizando os modos de sindicalização dos trabalhadores. “Isso dificulta, mas não tem nos impedido de fazer luta pela educação pública”, expressou.

“A luta da educação é mundial! O nosso objetivo é resgatar a qualidade da educação pública no mundo inteiro, indo contra a privatização da educação e defendendo uma pedagogia que leve em conta as diferentes características de cada nação e suas interferências históricas”, defendeu

“Somos contra as ditas organizações de governança global que trabalham para aqueles que põem dinheiro nela e exclui os reais interessados”, finalizou.