Ações da Seduc-MT buscam transformar a escola em empresa, avalia conselheiro de educação


As políticas do governo para a educação desconsideram o processo e os espaços coletivos de decisão

Publicado: 27/02/2024 16:13 | Última modificação: 27/02/2024 16:13

Escrito por: Roseli Riechelmann

Latuff

Profissionais da educação, durante o Conselho de Representantes do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT), se uniram contra o modelo de educação que o governo Mauro Mendes está desenvolvendo no estado. O projeto Educação 10 anos, programa em desenvolvimento pela Secretaria de Estado de Educação, foi apontado como uma manobra estratégica para a apropriação empresarial do ensino público da rede estadual.

As denúncias de todo o estado foram elencadas pelos profissionais que destacaram entre as recentes medidas, a aprovação automática dos estudantes reprovados e até mesmo evadidos e a transformação da escola numa empresa, onde o processo de construção coletiva da educação tem sido destruído, dando a vez ao modelo de automação empresarial.

O foco nos resultados foi evidenciado inicialmente com as denúncias de alteração das notas dos estudantes no Sistema oficial de registro da vida escolar do aluno – GIGEDUCA. O Diário de Classe dos professores foi fraudado por gestores das escolas com anuência e determinação da Secretaria de Estado de Educação. Como resultado, todos os estudantes foram aprovados, até mesmo os evadidos.

Sintep-MT/Francisco Alves
Dirceu Blanski, secretário de Administração Sindical do Sintep-MT e conselheiro estadual de educação

A formatação do modelo empresarial chega agora na organização das escolas. A sala dos professores deixa de ser um espaço de diálogo e interação. “O governo está com intenção de extinguir na escola, a tradicional mesa coletiva na sala dos trabalhadores da educação onde todos se sentavam para planejar as aulas, debater sobre conteúdos das aulas, e até mesmo a vida escolar dos estudantes, sob a alegação que os professores conversam muito!”, afirma o dirigente Dirceu Blanski.

Assim, conforme o dirigente, uma das saídas apontadas está na instalação de espaços de trabalho no estilo “call center”, com ilhas individuais onde cada profissional trabalhará isolado. “O argumento é de que assim produzirão mais”, relata.

O dirigente, que é conselheiro de Educação do estado, acredita que o projeto desenvolvido está além das preocupações pedagógicas, introduzindo o viés privado do sistema de trabalho da rede pública. “Não somos mais profissionais da educação, somos denominados colaboradores (termo usado para definir os trabalhadores nas empresas). Nas DRE – Diretoria Regional de Ensino, também há tendências em trocar os termos “projetos ou programas” por “produto” em que os profissionais das DRE seriam os coordenadores de referidos “produtos educacionais”, ressalta.

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A medida contraria todas as defesas da educação pública, gratuita, socialmente referenciada para todos e todas. “A educação é uma construção coletiva com foco na multiplicidade de públicos, não é um produto a ser desenvolvido com interesses de um grupo de pessoas”, destaca. Conforme Dirceu, a elaboração de Planos Nacional, Estadual e Municipais, ignorados pelo governo, são justamente o princípio da educação defendida pelos trabalhadores e pela sociedade representada nas suas elaborações.

Às práticas se somam ainda, atrelar o aluno a um sistema apostilado de formação fechada, e a valorização profissional com base na Gratificação por Resultados (GR). Conforme o educador, ao contrário do que é anunciado pelo governo, a medida não integra, nem mesmo os estudantes, pois estes não sentem interesse pelo material estruturado, tampouco representados nesse formato de educação. Como resultado estão altos índices de abandono escolar ou infrequência. “Ter nas escolas estaduais aparelhos de televisão, Chromebook e material estruturado não está sendo suficiente para ressignificar a educação de Mato Grosso ou responder à sociedade ao que espera da escola”, concluiu.