A morte de professora no Paraná acende um alerta sobre o modelo de educação também em MT
Plataformização da educação promove adoecimento e mortes, desvaloriza os profissionais e desmonta a carreira na educação pública do país
Publicado: 02/06/2025 18:43 | Última modificação: 02/06/2025 18:43
Escrito por: Roseli Riechelmann

“As escolas públicas estão gritando por Socorro”. A afirmação da Secretária de Políticas Educacionais do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT), Guelda Andrade, retrata o adoecimento dos profissionais da educação, e que resultou na última sexta-feira (30/05), na morte por infarto da professora paranaense, Silvaneide Monteiro, durante o expediente.
A ocorrência com a professora no sul do país, reflete o resultado de um modelo falido de educação que está adoecendo os profissionais e desvalorizando a carreira na educação pública, prova disso é que ninguém mais, quer ser professor. Os relatos de desânimo, ansiedade, estresse, pressão, assédio, sobrecarga e depressão resultam no processo de adoecimento e pedidos de afastamento por licenças médicas. Apenas nos seis primeiros meses de 2024 (dados da Seplag- MT divulgados na mídia) a educação registrou 48,58% do total de licenças de todas as secretarias do executivo estadual de Mato Grosso.
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Conforme Guelda Andrade, que também é secretária de Assuntos Educacionais CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), o que ocorreu no Paraná é reflexo da política educacional desumana adotada, em 17 estados brasileiros. “O modismo da plataformização efetiva o processo de privatização da educação pública. Há um entendimento de que o Estado precisa enxugar a máquina e que o modelo privatista é a melhor saída, a melhor forma”.
Guelda esclarece que o modelo atual impõe cobranças excessivas de resultados. “A privatização expurga todo mundo que não está dando os resultados esperados e seleciona um grupo para garantir os índices esperados. Ignora o lado humano e o papel social da escola pública de corrigir as desigualdades. Traz a meritocracia, em que os educadores só vão ter ganhos se atingirem metas. Isso reflete na trágica situação de termos professores adoecidos em sala de aula, porque se sai da sala por afastamento ele perde salário, perde bonificação. Muitos trabalham doentes.
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Em Mato Grosso, a dirigente cita a desestrutura no projeto educacional do estado, que levam os professores a trabalharem em duas, três escolas. “Isso traz uma exaustão muito grande, e piora se for uma profissional, que enfrentam triplas e quadruplas jornadas de trabalho em casa, com os filhos”, destaca.
Para a dirigente, essas condições de trabalho dada a esses trabalhadores leva ao desenvolvimento de doenças emocionais, que vão responder no físico. Falta de condições de trabalho, jornadas extenuantes com estudantes e que superam os 2/3 de horas diretamente com estudantes, defendido pelo Sintep-MT, desde a década de 90. “O corpo responde de alguma forma. O professor não é uma máquina que vai repetindo, repetindo práticas. Isso leva ao adoecimento ou potencializa até mesmo derrames ou infarto, como aconteceu com a professora no Paraná”, afirma Guelda.
A defesa contra esse desmonte é a valorização do trabalhador, trazendo o profissional para o centro do debate. “A tecnologia precisa estar a serviço do professor, da organização curricular, os profissionais da educação precisam dominar a tecnologia, e não o contrário. Precisamos de valorização e isso tem a ver com salários, condições de trabalho, formação, para o fortalecimento da identidade profissional.
A defesa da educadora e do Sintep-MT está no envolvimento dos profissionais no debate do Plano Nacional de Educação. “A aprovação do PNE precisa devolver ao profissional da educação essa centralidade. O PNE precisa romper com as plataformas, e com todas as formas de privatização. Defender a dedicação exclusiva, atuação em uma única escola, jornada única de trabalho, com valorização salarial. “Condições de trabalho e de saúde. O PNE faz esse debate”, concluiu.