No último dia 19 aconteceu a apreciação e julgamento pelo Conselho Estadual dos Direitos da Mulher do Estado de Mato Grosso do Prêmio Professora Ruth Marques Correa da Costa. Em todos os anos são homenageadas e escolhidas duas mulheres: uma em vida, e outra “in memorian”. Este ano foram agraciadas Sidinei de Oliveira Cardoso e Daniella Veyga Garcia Nonato.
Não estando mais entre nós do mundo material, foi homenageada in memorian a querida Sidinei. Nascida em Mato Verde/MG, foi uma criança estudiosa e apaixonada pela leitura. Aportou em Sinop-MT aos 8 anos de idade, no ano de 1982. Graduou-se em letras pela UNEMAT, em julho de 1998. Todavia, a paixão pelo magistério aconteceu muito antes da graduação, tendo laborado como colaboradora na Creche Municipal de São Cristóvão em Guarantã do Norte. Após concluído o curso superior, a nossa homenageada passou a lecionar em escolas da rede estadual de ensino. Militante, era da Diretoria Estadual da CUT-MT, e representava o SINTEP-MT no Conselho Nacional de Entidades e na Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Educação. Em Sinop, Sidi, como carinhosamente era conhecida, foi fundadora do “Coletivo Feminista Sinop Para Elas”, movimento que marcava espaço em lugares fechados e nas ruas com palestras, passeatas, saraus, mobilizações e reivindicações. Ela não media esforços para atuar na defesa das pessoas menos favorecidas, principalmente as mulheres.
Segundo a sua irmã, ela era pessoa que amava sem censura, sem preconceito, sem apontar defeitos... O verdadeiro amor incondicional. Prematuramente, ela e o filho Carlos André partiram no dia 17 de maio do corrente ano em um acidente que vitimou 8 pessoas na BR-163.
Em vida, foi homenageada a querida Dani Veyga. Militante das causas LGBTQIAP+ e dos direitos humanos, bacharel em direito, foi a primeira travesti inscrita na Ordem dos Advogados do Brasil Seccional de Mato Grosso. Foi representante nacional como Conselheira no Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos, e ex-diretora LGBT da União Nacional dos Estudantes.
Dra. Daniella sempre carregou como lema o enfrentamento à violência contra as mulheres trans e travestis, mencionando por inúmeras vezes que elas acabam marginalizadas e recorrendo ao uso de drogas e prostituição. Na atualidade, trabalha junto ao movimento para que Mato Grosso possa criar e o Conselho Estadual LGBTQIAP+, bem como um laboratório transgênero para o atendimento humanizado e especializado para o segmento. Por onde tem a possibilidade de manifestar dita que os números alarmantes de violência contra as pessoas trans é reflexo do ódio e preconceito. Firma que as políticas públicas não tem contemplado a inserção de transexuais e travestis no mercado de trabalho, entre outras situações. Enfatizou em entrevista para o site Midianews:
“Hoje, ocupamos um papel muito diferente na sociedade. A gente está, obviamente, fazendo toda uma construção social para mostrar que as pessoas trans são para além da prostituição, de seres noturnos, são pessoas que são profissionais extremamente capacitadas que podem ocupar qualquer profissão, que podem estar na prostituição se quiserem, que precisam estar na educação.”
É preciso ressaltar que a cada ano histórias lindas e emocionantes de mulheres aportam junto ao Conselho Estadual dos Direitos da Mulher do Estado de Mato Grosso. Cada indicação é uma memória afetiva e histórica do ‘ser mulher’. Todavia, desde a criação deste importante prêmio, apenas duas mulheres são agraciadas com a honraria, uma em vida e outra in memorian, em votações marcadas por muita emoção e afetividades das conselheiras.
Essas duas mulheres homenageadas em 2022 possuem histórias de enfrentamento e embate em prol dos direitos humanos das mulheres. São mulheres que não permitiram, e nem permitem, a inércia em vida... É de se dedicar a elas, com os olhos marejados de saudade e orgulho, Cora Coralina em “Resiliência e Fé”: “Eu sou aquela mulher/A que o tempo muito ensinou/ Ensinou a amar a vida/Não desistir da luta/ Recomeçar na derrota/ Renunciar a palavras e pensamentos negativos/ Acreditar nos valores humanos/ Ser otimista/ (...)/ Aprendi que mais vale lutar/ Do que recolher dinheiro fácil/ Antes acreditar do que duvidar.”
Parabéns, irmãs conselheiras! Os vários recortes de mulheres estão sendo homenageados com essas duas mulheres...
Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual
(GAZETADIGITAL)
