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O NOVO ENSINO MÉDIO É UMA MAÇÃ ENVENENADA

Publicado: 21/10/2021 10:34

Quanto mais a imprensa apresenta adocicadamente o chamado Novo Ensino Médio (EM), mais me convenço de que se trata de um dos maiores crimes contra a educação brasileira.

Matéria no Jornal Hoje, apologética da reforma do EM, dá evidência aos itinerários formativos. Segundo a reportagem, as redes devem se organizar para permitir oferecer aos alunos uma estreita base comum e um mix de disciplinas à disposição dos mesmos, que as escolherão conforme sua vocação. Com isso, prossegue o Jornal, o EM voltará a ser atraente aos jovens, já que estes poderão escolher as matérias que lhe atraem.

A picaretagem começa no diagnóstico, segundo o qual  o EM não atrai os jovens. Nesse mundo, os jovens não são expulsos da escola, não são forçados a abraçar ocupações vis para ajudar no orçamento familiar, não são assediados pela milícia e pelo tráfico, etc. Eles não prosseguem ou largam os estudos porque o EM "não é atraente". Assim, se atribui aos jovens a tarefas de definir que disciplinas lhe serão úteis como forma de despertar seu interesse. Aqui já se escancara que serão negados às próximas gerações os conhecimentos básicos nas várias áreas, necessários a uma compreensão global do mundo. Mas, passando isso por alto, com que base a escolha será feita? O que é isso de "vocação", um conceito religioso que remete a traços inatos deixados no sujeito por Deus?

O que se esconde por trás dessa abordagem doce é a redução das disciplinas, a restrição ao acesso ao conhecimento, com fins de reduzir custos nas redes públicas e de adequar a formação à precariedade do mercado de trabalho.

As redes pública serão pressionadas a reduzir seus currículos que, devido às crescentes restrições orçamentárias vão se cristalizar em formas minimalistas.

A rede privada, porém, manterá a integralidade das matérias (os tais itinerários), o que a LDB não veda, e alargará o abismo entre as oportunidades entre das elites e as das camadas populares.

Estamos diante da possibilidade de que gerações de filhos e filhas da classe trabalhadora sejam condenados à ignorância e ao embutrecimento.


Helder Molina - Professor da Faculdade de Educação da UERJ