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O Desafio da Educação Pública em Mato Grosso: Entre Promessas e Realidades

Publicado: 20/09/2024 11:57

Vivemos um momento crítico na história da educação pública em Mato Grosso. De um lado, vemos discursos inflamados do governo estadual sobre melhorias, investimentos e promessas de uma educação de qualidade para todos. De outro, o que enfrentamos nas escolas, como educadores e profissionais da educação, é uma realidade de abandono, precarização e falta de diálogo com a categoria.

Nos últimos anos, testemunhamos a tentativa de desmonte das conquistas históricas que lutamos para assegurar. A implementação de políticas educacionais cada vez mais distantes das necessidades reais das nossas escolas e dos nossos estudantes tem gerado uma crise estrutural na educação pública do Estado de Mato Grosso. A desvalorização dos profissionais (Professores, Apoio e Técnicos) e o descaso com a formação continuada colocam em risco não apenas a qualidade do ensino, mas o futuro das próximas gerações.

Como professor e presidente do SINTEP-MT, tenho acompanhado de perto as decisões arbitrárias do governo estadual que afetam diretamente as condições de trabalho dos educadores e a estrutura emocional dos nossos estudantes e trabalhadores. O recente anúncio da Secretaria de Educação (SEDUC), que pretende alterar funções de servidores da função de vigia sem diálogo ou respaldo legal, é um exemplo claro de como a gestão pública ignora os direitos conquistados por meio de lutas árduas e organizadas. A reestruturação imposta, sem ouvir os trabalhadores da educação, abre precedentes perigosos para o desvio de função, gerando insegurança entre os servidores.

Mas o problema vai além. A falta de valorização dos profissionais da educação em Mato Grosso reflete uma visão míope sobre o papel da educação pública na sociedade. Enquanto o governo insiste em discursos de eficiência e gestão moderna com a Gratificação por Resultados (RG), as salas de aula continuam lotadas, os professores/profissionais sobrecarregados, e os alunos, carentes do básico no aprendizado. A promessa de modernização tecnológica não chega nas áreas rurais e periféricas, onde o acesso à internet é um luxo e não uma realidade.

A crise na educação pública de Mato Grosso também está diretamente ligada à precarização dos direitos trabalhistas dos profissionais da educação. A reforma administrativa, a flexibilização de direitos e as tentativas de terceirização de serviços são ataques diretos à qualidade do ensino. Afinal, como podemos esperar um ensino de excelência se os profissionais da educação são constantemente desrespeitados em sua carreira e em sua dignidade e ficando adoecidos?

Diante desse cenário, o papel do movimento sindical torna-se cada vez mais essencial. Como presidente do SINTEP-MT e diretor de Relações de Trabalho da CUT-MT, acredito que nossa missão é intensificar a luta por uma educação pública de qualidade, que valorize seus profissionais e que atenda às reais necessidades da população mato-grossense. Precisamos de condições adequadas de trabalho e de políticas públicas que respeitem as especificidades das regiões do estado.

A mobilização coletiva é a chave para resistirmos a esse processo de desmonte. Não podemos aceitar calados que o direito à educação pública seja dilapidado por interesses políticos ou econômicos. É nossa responsabilidade, como educadores e cidadãos, lutar pela preservação das nossas conquistas e pela construção de uma educação inclusiva, crítica e democrática.

O futuro de Mato Grosso depende da educação que oferecemos hoje. Por isso, conclamo todos os colegas educadores, pais, alunos e a sociedade em geral a se unirem na defesa da educação pública de qualidade. Somente por meio da organização e da resistência poderemos transformar a realidade que enfrentamos nas escolas e garantir que as próximas gerações tenham acesso a um ensino que realmente promova o desenvolvimento humano e social.

A luta pela educação é, em essência, a luta pelo futuro de todos.

Por Valdeir Pereira, educador da Educação Básica, dirigente sindical, presidente do SINTEP-MT e diretor de Relações de Trabalho da CUT-MT.