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GOVERNO MAURO MENDES NA MIRA: SUSPEITA DE FRAUDE EM ÍNDICES PARA GANHAR VANTAGEM FEDERAL

Publicado: 21/11/2025 17:12

Nesta sexta-feira o sol de Cuiabá me acordou cobrando aluguel da nossa cabeça, despertei com a notícia de que o governador de Mato Grosso, sempre ele, resolveu brincar de mágico com a educação. Puxou da cartola uma aprovação de 100%, apagou faltas com a borracha da conveniência e, num passe de ilusionismo administrativo, fez parecer que nossas escolas vivem uma revolução pedagógica digna de prêmio internacional. Só faltou combinar com os alunos, com os professores — e com a realidade.

Fraudar índice educacional não é apenas mentir para o povo. É tentar trapacear o próprio país. Porque, embora Mato Grosso não receba recursos federais diretamente proporcionais ao seu IDEB, o desempenho no índice abre portas, dá prioridades, garante presença na sala onde o dinheiro é distribuído. E o governo sabe disso tão bem quanto sabe manipular uma planilha.

O IDEB virou, no Brasil de hoje, aquilo que o termômetro é para a febre: não cura nada, mas mostra quando algo está errado. E, se você quebra o termômetro para fingir saúde, só piora a doença.

Veja o caso do VAAR, aquela parte esperta do novo Fundeb: ele premia estados que melhoram seus indicadores. Basta manter carreira docente organizada, ter transparência na gestão e mostrar avanço nos números. Resultado? Mato Grosso, com seu IDEB 4,2 no ensino médio — um avanço real, este sim — aparece entre os estados com maior crescimento. Mas quando o governo tenta inflar aprovação artificialmente, o risco não é só ético: é financeiro. É como apresentar diploma falso na porta de um concurso.

E vem mais: o Programa Escola em Tempo Integral, que vai despejar 12 bilhões até 2026. Quem tem bons indicadores entra primeiro na fila. E quem aparece com números turbinados ganha vantagem. Mato Grosso está lá, na vitrine, como se tivesse descoberto o caminho das pedras — mas esquece de contar que parte do brilho pode ser reflexo de maquiagem.

No Pé-de-Meia, o programa que deposita até 9,2 mil reais para manter jovens no ensino médio, o IDEB também ajuda a mapear prioridades. Regiões que precisam mais, regiões que avançam mais, regiões que mostram esforço concreto. Tudo isso exige dado limpo. E dado limpo não combina com a borracha que apaga falta e transforma reprovação em estatística otimista.

Mas não para por aí. O governo federal acabou de anunciar novos Institutos Federais via Novo PAC, cada um com investimento de 25 milhões. E lá estava Mato Grosso, contemplado, porque realmente avançou em vários indicadores. E aí é que está o absurdo: **o estado tem conquistas reais**, tem escolas que melhoraram, tem professores que deram nó em orçamento e crise para manter aprendizado. Mas quando o governo insiste em maquiar o que ainda não avançou, joga lama no próprio mérito.

E, enquanto isso, chegam 140 mil chromebooks, kits de robótica, TVs novas, programas de formação, expansão do tempo integral — investimentos que dependem de planejamento, seriedade e dados coerentes. Não de atalho.

O mais revoltante nessa história não é a ambição pelos programas federais. Ambição, quando legítima, move o mundo. O problema é tentar furar fila fingindo que a educação de Mato Grosso está mais saudável do que realmente está. Isso não é gestão. Isso é contravenção estatística.

E o povo sente. Sente no filho que sai da escola sem interpretar um texto simples. Sente na professora que ensina com o teto pingando. Sente na mentira que tenta se impor como verdade.

No fim do dia, a fraude não rouba só número.

Rouba oportunidade.

Rouba confiança.

Rouba futuro.

E como João Guató, educador por ofício e por teimosia, digo sem rodeios:

quando um governo manipula dados da educação para ganhar vantagem, ele deixa de governar e passa a delinquir.

Porque fraudar IDEB não é esperteza administrativa.

É crime contra o país.

E crime contra o futuro nunca prescreve na memória de um povo.

CONTRAPONTO 

A denúncia de Pedro Taques deixa de ser apenas um incômodo político para o governo Mauro Mendes e passa a exigir algo maior, urgente e inadiável: fiscalização séria do governo federal e ação imediata do Ministério Público. Porque, se há fraude no IDEB, não estamos falando de retórica. Estamos falando de possível crime contra a administração pública, contra a educação e contra a confiança do país nos próprios instrumentos de avaliação.

Afinal, manipular aprovação, apagar faltas e inflar indicadores não é “gestão moderna”, não é marketing eficiente, não é estratégia administrativa. É um ataque direto aos mecanismos que determinam o acesso a programas federais como o VAAR do Fundeb, o Escola em Tempo Integral e o Pé-de-Meia — programas financiados com dinheiro público nacional, não com verbas de gabinete.

Se os dados foram adulterados, não é apenas Mato Grosso que foi enganado.

É o Brasil.

Por isso, a responsabilidade agora não é só política — é institucional. 

Cabe ao governo federal, por meio do MEC e do FNDE, auditar os indicadores, conferir as condicionalidades e garantir que cada centavo repassado tenha como lastro a verdade e não a ficção de planilha. E cabe ao Ministério Público, especialmente à promotoria de educação, investigar se houve violação de normas, improbidade ou prática criminosa.

Governos passam.

Indicadores mudam.

Mas o estrago causado por uma fraude na educação fica décadas.

E é por isso que afirmo sem rodeios:

se o governo Mauro Mendes adulterou resultados, não se trata apenas de imoralidade.

Trata-se de matéria policial, de auditoria federal e de responsabilização jurídica.

Porque quem frauda a educação não merece apenas crítica.

Merece investigação.

E, se for confirmado, merece punição proporcional ao tamanho do dano causado a uma geração inteira.

João Guató educador e articulista da coluna Pasquim Cuiabano, divulgada nas redes sociais (facebook)