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Escola Estadual Adalgisa de Barros e o GOLPE DA MILITARIZAÇÃO

Publicado: 26/01/2023 08:51

Os Profissionais de educação da Escola Estadual Adalgisa de Barros em Várzea Grande, pediram o apoio da Central Única dos Trabalhadores de Mato Grosso (CUT-MT), para combater a militarização da Unidade.  Como diretor da CUT-MT e professor atendi prontamente a tarefa passada pelo presidente Henrique Lopes. Chegando à escola observei todo o cenário armado e a inquietação de estudantes, pais ou responsáveis e profissionais de educação.
A tentativa de militarização da escola vem sendo um processo educativo ao analisar as estratégias, por parte do poder público. A militarização de escolas por si só é um golpe, por que parte de pressupostos falsos, cheios de IDEOLOGIA MILITARES e ideias erradas sobre educação e disciplina.

Vamos aos fatos:

Quando cheguei ao local, aparentemente vi uma assembleia geral escolar, convocada para deliberar sobre a solicitação de militarização da unidade educacional. Quando souberam da minha presença, representantes da comunidade escolar (profissionais da educação, estudantes e pais ou responsáveis) me informaram, que aquela assembleia foi convocada durante o período de férias; que haviam vários ônibus trazendo pessoas de outros bairros da cidade; que havia uma vereadora (não sei o nome ainda), que dizia que qualquer cidadão poderia estar ali e votar; que tal votação, por aclamação, decidiria a militarização da escola. No decorrer dos trabalhos, percebi a ação da SEDUC-MT, autoritária, tentando impor deliberações, baseando-se em dados maquiados sobre a unidade escolar, para parecer democrática. No seu relatório atacou a escola classificando como ruim, indisciplinada e sem estrutura (responsabilidade da SEDUC-MT), e apresentou a solução da militarização. Chegou -se ao absurdo de classificar os alunos e alunas da unidade de drogados. Os organizadores aceleraram o processo e procederam a votação por aclamação. A grande surpresa foi que a maioria presente disse “não à militarização”.

A Legalidade:

De acordo com a própria regra estadual de militarização de escolas, é preciso que a comunidade solicite o processo, por meio da assembleia geral escolar em que a comunidade se posicione a favor. Geralmente as assembleias de escolas são feitas durante o ano letivo.

Irregularidades:

Uma assembleia convocada à revelia da comunidade escolar, em férias; participação de agentes público legitimando a coação do processo; é a própria SEDUC-MT, encaminha a autorização de militarização, já com calendário de ações do processo; o cerceamento da real comunidade escolar, ao convocar a plenária em tempo inadequado (férias).

Efeitos Colaterais:

Essa situação golpista criou uma grande revolta, entre os profissionais da educação, estudantes e familiares da comunidade escolar, estabelecendo um clima extremamente tenso, conduzindo o evento à uma confusão. O fato é que após derrotarem a proposta na plenária da assembleia, a comunidade está sofrendo ataques nos meios de comunicação.

Conclusão:

Quando a Seduc manda um ofício é na verdade: cumpra-se! Mas dessa vez perderam para mobilização. Um sinal de que ares democráticos voltam ao nosso país, porém ainda não percebido, ou aceito, pelo Governador Mauro Mendes e o Secretário de Educação Alan Porto, que têm um plano militarizar 60 escolas em um curto espaço de tempo. Plano, esse, que está sendo apresentado na semana pedagógica em todas as escolas do Estado. É um projeto e uma IDEOLOGIA da SEDUC-MT, sob a responsabilidade dos dois gestores.

A escola Adalgisa de Barros, não tem grandes problemas com indisciplina, e nem é uma escola de drogados como disse uma vereadora e um deputado. Fazem esse tipo de fala para marginalizar estudantes, justificando a militarização reprimindo quem eles consideram “bandidos”. Profissionais de educação querem segurança nas escolas, mas a partir do diálogo e não de uma forma autoritária e nem sendo tratados como incompetentes.

MILITARIZAR ESCOLA É UMA IDEOLOGIA, SENHOR COMANDANTE!

A militarização das escolas tem como pretexto, dar uma melhor educação e ao mesmo tempo disciplinar aos estudantes. Isso é um duplo desrespeito aos profissionais da educação, que por canalhice ou falta de conhecimento, são responsabilizados por todos os problemas e isso é falso. 

Nas escolas públicas estão inseridas as camadas populares, mas desprotegidas de direitos sociais, as diversidades culturais, de gênero e as diferentes perspectivas de vida. Problemas econômicos afetam diretamente o rendimento de um estudante, militarizar uma escola não resolve em nada, ao contrário transformam em uma educação mais excludente.

Nós educadores somos desafiados a atender o menino que mal tem comida em casa e ao mesmo tempo atender ao estudante que tem uma melhor condição social. A questão social está diretamente ligada ao desempenho dos estudantes, basta observar os países com maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) por basear-se em parâmetros como boa saúde, boa renda familiar, moradia digna e educação geral e de qualidade. Então a educação é uma responsabilidade de todos e todas e não somente dos profissionais de educação. Logo, melhorá-la requer abordar questões muito mais complexas que a militarização, como solução.

Nas escolas temos constantes debates sobre a disciplina dos estudantes, partimos da democracia, do diálogo e do respeito às diferenças. Não queremos criar soldadinhos de chumbo, todos iguais e sem reflexão social. Profissionais da educação sabem disciplinar os estudantes, e isso é melhor quando por um processo constante de discussão. Não se resolve isso com a hierarquia e armas no punho, mas sim com o argumento de quem tem condição de educar.

Podemos querer discutir segurança, sem passar por cima dos profissionais de segurança, sem dizer que somos melhores que eles e nem tentar mandar neles. Profissionais de segurança, que querem discutir educação, participem de fóruns democráticos sobre o tema. Militar tem que estar no quartel, policial precisa cuidar da segurança e educadores precisam estar educando. E a democracia deve garantir o debate de todos os temas.

Robinson Cireia de Oliveira
Professor, secretário de Organização e Política Sindical da CUT-MT