Antes de mais nada, quero deixar claro que não tenho nada contra os escolhidos e os que decidiram participar da festa especial.
Alguns professores da rede estadual de Mato Grosso foram surpreendidos — “alguns” — com um convite feito pela DME Metropolitana para comemorar os 25 anos de profissão.
Estou muito instigada a compreender o porquê de uma festa voltada para um grupo específico e não para todos os profissionais, e também o motivo do recorte de 25 anos, que provavelmente será revelado mais adiante.
Será reconhecimento de um esforço particular? Celebração de uma conquista específica? Alguém poderia antecipar, explicando como uma pré-aposentadoria — merecida, após tanto sofrimento.
O que me chama atenção são os critérios de escolha dos laureados e o período. É bom lembrar que outros eventos já foram realizados em datas próximas a diferentes pleitos e, atualmente, há um movimento em que alguns diretores, juntamente com outros profissionais, estão organizando encontros extraescolares com futuros pré-candidatos a cargos eletivos. O que não configura crime — a não ser quando se utiliza a estrutura pública para tal, valendo-se do cargo que ocupam.
Eu não fui convidada — e não há ressentimento, pois, se fosse, não iria pelos 25 motivos abaixo:
1. Respeito aos colegas que não foram convidados: companheiros que também completam 25 anos de dedicação e continuam em condição de contrato precário, por falta de regularidade em curso, ficaram de fora da honrosa homenagem.
2. Por falta de reconhecimento: inúmeros trabalhadores da educação, fundamentais para o funcionamento das escolas — merendeiras, profissionais da higienização, vigilantes, técnicos administrativos e quem trabalha com estudantes neurodivergentes, permanecem invisíveis ao governo.
3. Pela cultura de exclusão e extermínio: inúmeras pedagogas desrespeitadas por ações governamentais de destruição da carreira, hoje em situação humilhante e de insegurança profissional, sem saber o que acontecerá no instante seguinte, logo serão os demais.
4. Pelos milhares de aposentados: após contribuir por mais de 25 anos com a previdência, sofrem o confisco de 14% em seus proventos, precarizando o sustento e gerando empobrecimento da categoria.
5. Pela delicadeza do convite: em dia especial de homenagem, familiares, que já são privados da nossa presença pela dedicação profissional, são impedidos de acompanhar o momento de glória.
6. Pelo tratamento desumano da Perícia Médica Estadual: inúmeros trabalhadores da educação adoecidos são tratados com desrespeito e, em muitos casos, têm afastamentos negados, sendo forçados a retornar ao trabalho mesmo doentes.
7. Pela farra dos consignados: ocorrida com as bênçãos do governo do Estado, tem gerado prejuízos incalculáveis a milhares de servidores públicos.
8. Pela política de desmonte da educação pública: marcada por autoritarismo e arrogância na gestão, com fechamentos de escolas, Cefapros, centros de EJA, assessorias pedagógicas e a transformação da educação em mercadoria.
9. Por discordar das ações e políticas do secretário da Seduc-MT: uma secretaria que dialoga com a sociedade através de peças publicitárias fantasiosas, afirmando que os índices de aprendizagem melhoraram, sem mencionar os milhares de estudantes que continuam sem aprender a ler e escrever.
10. Pela falta de valorização do trabalho educacional.
11. Pela politização do evento: pode ter conotações que representam outros interesses.
12. Pela falta de transparência: desconfio das intenções por trás da festa.
13. Por recusar legitimar o opressor: não darei apoio a uma gestão considerada autoritária e opressora.
14. Pelo desgaste emocional: sem uma política de saúde do trabalhador, os educadores enfrentam exaustão e adoecimento.
15. Por falta de interesse: considero que a festa pode ser uma campanha de marketing para promover imagens de agentes públicos.
16. Pela resistência a certas celebrações: eventos como “concurso de pantufas”, “EduMotivação” com dancinhas esquisitas e afirmações de que “a desmotivação do professor é falta de sexo” nos fazem resistir a esse tipo de celebração.
17. Por viver um momento de desmonte da educação pública: com o fechamento de escolas da rede estadual, muitos professores precisam trabalhar em duas ou três unidades para completar a carga horária, comprometendo a saúde mental.
18. Pela falta de incentivos reais para festejar: os trabalhadores da educação foram, inúmeras vezes, tratados como caso de polícia.
19. Pela falta de autonomia: o professor é cada vez mais obrigado a cumprir exigências externas, como excesso de avaliações, plataformização do ensino e aprovações automáticas.
20. Por respeito à autonomia profissional: não quero ser cooptada por eventos que possam influenciar a liberdade de atuação.
21. Por histórico de desconfiança: eventos anteriores não foram transparentes nem contribuíram para a melhoria das condições de trabalho dos educadores.
22. Por questões éticas: não participo de ações que não promovam autonomia, direitos docentes e valorização verdadeira.
23. Pelo previsto na portaria de atribuição de classes e/ou aulas: mesmo após a atribuição, não há garantia de manutenção conforme o Art. 3º e seus parágrafos, que preveem exceções em caso de reestruturação, descontinuidade de programas ou alteração de objetivos — sujeitando a continuidade à análise da administração e à necessidade da rede.
24. Pelas muitas vezes em que os trabalhadores da educação foram tratados como caso de polícia.
25. Finalmente, por uma necessidade humana: por convicção de que a verdadeira homenagem se dá em um relacionamento respeitoso, de reconhecimento e valorização diária de todos os profissionais da educação.
Para os que ficaram fora da lista dos homenageados, meus humildes agradecimentos pela dedicação e para os que participarem da festa, desejo que se divirtam.
MARIA APARECIDA CORTEZ - Licenciada em Pedagogia; Especialista em Educação