Artigo

COMIGO MESMO

Publicado: 10/02/2025 10:32

Passo a conversar comigo mesmo, fazendo algumas indagações pertinentes em um mundo polarizado, repleto de informações que nos fazem questionar onde está a verdade. Mas nós, humanos, esquecemos muito rápido o que aconteceu no Natal do ano passado. Agora, imaginemos a história da humanidade ou, mais precisamente, como os seres humanos controlam uns aos outros. Tentarei levantar algumas questões para ver se consigo encontrar respostas, conforme as goiabas se ajeitam na cesta.

Quem lembra ou já ouviu falar da economia nos moldes escravagistas? A economia capitalista moderna tem raízes profundas no modelo escravagista. No Brasil colonial, a economia se sustentava na exploração de corpos africanos, sequestrados e vendidos como mercadoria para o setor agroexportador, especialmente na produção de açúcar e mineração. O tráfico humano gerava lucros altíssimos com a venda dessa mão de obra escravizada. Faço essa reflexão para entender que, nos Estados Unidos, o tráfico de pessoas continua por meio dos coiotes, que transportam imigrantes para vendê-los como força de trabalho para o agronegócio, a indústria e outros setores que os norte-americanos não querem ocupar. A diferença entre os dois períodos é que, antes, a escravidão era imposta pela força das armas; hoje, ocorre pela força da ideologia.

Agora, um presidente de governo autoritário assume o poder prometendo resolver o "problema" dos imigrantes e tudo que não se encaixe na sua visão de uma raça americana. Essa política nos remete a um episódio da Alemanha nazista, quando o líder daquele país promoveu uma limpeza étnica para criar uma suposta raça ariana. Pergunta-se: qual a diferença entre esse presidente dos EUA e aquele da Alemanha do passado? Neste momento, as semelhanças são evidentes, pois ambos operam pela lógica da força e da exclusão.

Outro ponto é a guerra envolvendo o povo de Israel. Esse povo, que já foi expulso da Alemanha no passado, agora presencia a expulsão de imigrantes dos Estados Unidos. Surge mais uma pergunta: Israel declarou guerra ao Hamas sob o pretexto de combater o terrorismo. Foi essa a narrativa propagada pela mídia. O conflito se estendeu por mais de um ano, e os noticiários não informam claramente quem venceu ou perdeu. O que sabemos é que Israel destruiu uma faixa de terra que deseja controlar. O cessar-fogo foi declarado, mas o Hamas continua existindo, o que indica que a guerra não era apenas contra o terrorismo, mas sim uma disputa de poder. Qual será a próxima justificativa de Israel para dar continuidade a essa política expansionista?

Voltando ao nosso contexto, como compreender essa onda de pessoas que acreditam em vídeos manipulados e mensagens sem embasamento científico ou racional? No último Natal, ouvia-se que era preciso destruir a "escola com partido" para construir uma "escola sem partido". Mas qual escola está sendo construída? Agora está evidente que há uma escola com partido bem definido, uma escola com ideologia militar, outras voltadas para o mercado e, por fim, algumas que reproduzem a lógica do senhor de engenho. Esses últimos afirmam e a sociedade aplaude que a escola deve formar pessoas apenas para o mercado de trabalho, o qual, segundo eles, exige apenas português e matemática para que os trabalhadores operem as máquinas da inteligência artificial. O senhor de engenho acredita que não há necessidade de investir em educação, ciência e tecnologia, pois tudo já está pronto. Assim, os profissionais da educação são reduzidos a meros fornecedores de uma formação básica, comparável a um prato de feijão com arroz, apenas para garantir a produção de força de trabalho.

E quanto às próximas eleições? Nada, não é preciso pensar nelas. As redes sociais já pensam por você. De social, essas plataformas não têm nada. Cada rede tem um dono que lucra trilhões explorando a ignorância das pessoas, enquanto mantém a população entretida com um espetáculo contínuo de pão e circo, 24 horas por dia. Dessa forma, os indivíduos não se revoltam entre si, pois são constantemente distraídos por conteúdos superficiais que apenas proporcionam humor e relaxamento para enfrentar mais um dia.

Diante desse cenário, a questão central não é apenas compreender os mecanismos de opressão, mas encontrar formas de resistência e transformação. A história nos mostra que a dominação nunca foi eterna, e que a consciência crítica é a principal ferramenta para romper com ciclos de exploração. Cabe àqueles que acreditam na emancipação humana construir alternativas coletivas, pautadas na justiça social, na equidade e na liberdade. A informação, quando aliada à reflexão e à ação, pode ser um instrumento de libertação. O desafio está lançado: resistir à alienação, resgatar a memória histórica e construir um futuro onde o ser humano não seja reduzido a uma mercadoria ou peça descartável do sistema.
 

Carlito Pereira da Rocha - professor e vereador em Juína-MT, diretor regional do Sintep-MT