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Carta ao Governador Mauro Mendes e ao vice-governador Otaviano Pivetta

Publicado: 17/05/2024 11:55

Hoje acordei mais cansado do que ontem. Que bom que tenho esta manhã livre, sem aulas. O desconforto em meu pulmão direito, aumentou. Senti dores e incômodo para dormir. Provavelmente, resultado da gripe mal curada dos últimos dias (não tinha limite de crédito para ir ao médico e busquei a automedicação) e dos grandes e aumentados esforços para lecionar aos estudantes, quando muitos, sabendo que não terão nenhuma exigência por parte da Seduc ao final do ano (todos, indistintamente serão provados) já não querem estudar.

Sinto-me debilitado em minha saúde, com um quadro de pioras por não conseguir buscar um tratamento adequado, em função da pressão da nova modalidade salarial, baseada nos resultados que indiretamente exerce uma pressão de não faltar ao trabalho, para não perder remuneração. Venho trabalhando enfermo, sem condições financeiras adequadas de me tratar. 

Fico imaginando, senhor governador e vice-governador, o sofrimento dos aposentados na educação, que tiveram seus salários não apenas congelados como os da ativa, mas subtraído na média de R$ 800 a mil reais todo mês em seu salário, com a imposição do desconto previdenciário. Fico imaginando a dificuldade da ida ao médico, da compra do remédio, da manutenção daquele veículo necessário, atividades básicas de sobrevida de quem já deu sua vida ao serviço público e à educação em MT. É muita desumanidade. 

O congelamento salarial vem me tirando a capacidade de pagar as minhas contas mais básicas (nos últimos dias, tive que recorrer a mais um empréstimo via CDC – modalidade única de antecipação de receita do atual governo aos servidores e a “grande” concessão de lucros a bancos pelo governo de Mato Grosso às custas do salário dos servidores). Como em função da minha própria saúde, não me submeto à imposição do governo de ampliar jornada, a minha situação financeira vai ficando mais difícil. Com salário congelado, risco de licença médica, perderei, também, a famigerada gratificação por resultado no salário no final do ano. Tudo vai piorar.

Tenho pensado seriamente nas regras meritocráticas e de resultados impostas pelo seu governo, que sarcasticamente, goza na cara do servidor. Vendo a empáfia do governador e a desfaçatez do vice-governador, reconheço que vocês estão conseguindo minar as bases do meu profissionalismo, minha dedicação à escola e aos estudantes. Mas, sinto-lhes informar: não vou desistir!

É repudiante e repugnante ver e ouvir o governador e o seu vice, confesso que me dá nojo.  É lamentável o deboche do governador em afirmar que o Sintep não quer dialogar, justamente quando o próprio governador acolhe agentes de outros estados para governar o orçamento da educação a preço de convênios e contratos que mais fazem bem aos empresários e ao próprio governador e seu vice, do que à população. 

É lamentável a postura do vice-governador ao afirmar que o salário dos educadores em MT é razoável (desde 2018 é salário congelado e sem nenhuma política de valorização acima da inflação). Não é de se estranhar que o vice-governador, provavelmente o sucessor do governador, coloque alguém como secretário de estado de educação, sem nenhuma capacidade de um debate mais conceitual sobre qual educação que o povo de Mato Grosso realmente necessita. Não fosse assim, não teria havido o fechamento de escolas em MT nos últimos 6 anos e feito a municipalização de matrículas, bem como a sonegação da educação especial, como no caso do fechamento da EEDIEB Licínio Monteiro em Várzea Grande.

A continuar o vice, como governador, o serviço público em Mato Grosso será trabalho intermitente, esporádico e remunerado apenas pelas horas trabalhadas. Vergonhosamente, para a pessoa contratada temporariamente, já funciona assim. Sem concurso, sem vínculo efetivo, sem comunidade escolar baseada nas relações de afeto e compromisso profissional, o governador e o vice fazem aquilo que são capazes de fazer: se regozijar com a miséria dos resultados, mesmo sabendo que os números frios da educação escondem a miséria, empobrecimento, adoecimento e desalento dos educadores e a não-aprendizagem dos estudantes. Parabéns, Governador. Parabéns, vice-governador. Se vocês são os vencedores, a maior parcela da população é, na verdade, a grande perdedora!
 

Professor Gilmar Soares, educador na rede estadual de Mato Grosso e secretário adjunto de Políticas Educacionais do Sintep-MT