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A educação pública protesta: mais uma vez

Publicado: 16/05/2022 12:45

Mais uma paralisação dos profissionais da rede pública estadual de educação de Mato Grosso. Ano de eleição e novamente se ouvirá que é um movimento político. Obviamente, de quem se acha o único que pode usar o discurso político, os recursos do erário como bem entender, os recursos do judiciário e todo o poderio que o voto propiciou, para denegrir, mais uma vez, quem está nas escolas, cuidando, ensinando e, tentando dar uma oportunidade de futuro aos filhos dos trabalhadores. Tudo, com possível eco entre muitos dos quais necessitam única e exclusivamente da escola pública.

Esperamos que a parte esclarecida da sociedade venha ao encontro das reivindicações dos profissionais da educação e não vejam como menos um dia de aula para seus filhos. Pois, evidentemente, essa parte esclarecida, já está vendo, em todo o estado de Mato Grosso, depois de surpreendentemente quase quatro meses, quase todas as escolas sem ter seu quadro de professores completo, alunos sem aula voltando para casa mais cedo ou criando transtornos no ambiente escolar, pois além de falta de professores, pelo visto, o novo modelo estrutural de educação de Mato Grosso tem dinheiro para fazer apostilas ao custo de milhões, fazer uniformes ao custo de outros milhões, mas falta dinheiro para a contratação de funcionários para cuidarem  do estritamente necessário.

Escolas sem professores, mas com testes de rendimento regularmente aplicados; escola sem funcionários, mas que têm de dar segurança a quem adentra a ela; escola sem pessoal na cozinha e na limpeza, mas que deve manter o ambiente habitável, se bem que ao preço que se encontram os alimentos, logo não precisará de ninguém nas cozinhas, pois não haverá merenda.

De uma sociedade esclarecida, esperamos, nós profissionais da educação, pelo menos respeito, pois para o nosso governo, parece claro, que não somos capazes de discutir educação e suas demandas, mas apenas obedecer e por que não, votar novamente para avalizar o caos como o novo normal, para uma educação que certamente deixará os estudantes da escola pública aquém de qualquer condição de disputar uma vaga nas melhores instituições de ensino técnico ou superior.

Mais uma paralisação, seria muito bom uma indignação generalizada por parte de pais e responsáveis exigindo aula, professores nas salas comprometidos com o ensinar, com o processo de formação das crianças e jovens, sem ter que se preocuparem com quem adentra as instituições de ensino, sem ter que fazer papel de polícia, sem ter que trabalhar doentes, sem adoecerem porque não conseguem fazer o mínimo, e ainda serem responsabilizados por uma corja política respaldada por boa parte de uma sociedade esquizofrênica que joga crianças e jovens na escola, mas nunca faz parte do processo.

No uso de suas prerrogativas, cumprindo função pública, nosso governo pode dizer e fazer cumprir seus desmandos, tudo com ar de legalidade. Façamos nós profissionais da educação, não só uma paralisação, mas sim um movimento diário de esclarecimento, se não junto aos pais que quase nunca pisam na escola, pois entre outras coisas, precisam trazer pão para seus lares, mas junto aos alunos que precisam reconhecer os seus direitos, as suas obrigações, assim como as obrigações constitucionalmente instituídas para que tenham uma escola com ensino e aprendizagem garantidos.

Profissional da educação que assim se reconhece, luta por seus direitos, luta por ensino de qualidade, ajuda a eleger políticos que, em tese, valorizam o ensino público, de onde vem seus votos, e não denigrem professores.

A sociedade que quer educação de qualidade respeita professor, conhece a escola de seus filhos, cobra das autoridades as promessas advindas do discurso, é exemplo de participação no único espaço que garante, de verdade, o direito a todas as vozes.

Almir Coutinho

Professor da rede pública de educação em Mato Grosso