Militantes com deficiência participam ativamente na luta sindical no Sintep-MT


A luta sindical defende a inclusão de todos que buscam defender e avançar na conquista de direitos profissionais e sociais

Publicado: 31/08/2022 18:22 | Última modificação: 31/08/2022 18:22

Escrito por: Roseli Riechelmann

Jadson Oliveira
Os professores Kleber da Silva e Maurício Borges, deficientes visuais, expõem os desafios enfrentados para assegurar a inclusão de fato e de direito

O Conselho de Representantes do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT), dias 27 e 28 de agosto, destacou durante os trabalhos os desafios da política de inclusão dos profissionais da educação com deficiência, na militância e nas escolas.

Participaram nesta edição do Conselho de Representantes, de forma presencial, dois educadores com déficit visual e cegueira. Um mais antigo, professor Maurício Furtado Borges, com deficiência visual progressiva, e o novato na militância,  professor Kléber sa Silva, que inicia a história na luta sindical após assumir a vaga de professor da Educação Básica, no município de Colíder (650 km de Cuiabá-MT), com enfrentamento contra discriminação, durante perícia médica, mesmo sendo aprovado em seletivo.

Jadson Oliveira
Professor Maurício Furtado Borges, de Alto Araguaia,  tem deficiência visual progressiva 

O professor Kléber Guimarães Miyaki da Silva, pedagogo, formado em 2015 pela Universidade Aberta do Brasil, na Universidade Estadual de Mato Grosso (UAB/Unemat) vivencia os desafios pelo direito à educação, desde os tempos de escola. A luta é contínua, acredita ele, pois para além da garantia do direito das pessoas com deficiência é preciso incluí-las de fato. “São inúmeras as barreiras tecnológicas, de comunicação e de atitude”, afirmam o educador.

Segundo Kléber, enquanto estudante, enfrentou as dificuldades da falta de material e equipamentos adequados para desenvolver a aprendizagem. Livros próprios, lupas especiais, computador com áudio, além das barreiras físicas e estruturais das construções, sem sinalização ou recursos para assegurar a independência e circulação do deficiente visual. 

Para o educador, a maior barreira a ser superada é a humana; da própria pessoa com deficiência, bem como a das pessoas videntes. Muitas vezes o preconceito começa na própria família. “Eu tive esse enfrentamento no ambiente familiar assim como na escola. Muitas pessoas estão fechadas para a inclusão. No Ensino Médio, a ignorância de uma professora me despertou para buscar meus direitos. Ela me falou para copiar um livro, que eu não conseguia ver as letras. Quando falei da dificuldade, ela mandou que eu me virasse.”, relata 

Jadson Oliveira
Professor Kléber Guimarães esteve em Cuiabá acompanhado da presidente da Subsede de Colíder, Edina Martins, e pode debater os desafios postos para a regional

O descaso da educadora levou Kléber a buscar direitos. Foi na promotoria pública em Colíder reivindicar o direito à educação e “através desse enfrentamento da ignorância é que se consegue avançar e assegurar conquistas”, acredita. Na época, Kléber viajou de Colíder para Cuiabá para ser atendido no Centro de Apoio e Suporte à Inclusão da Educação Especial (Casies), órgão vinculado à Secretaria de Estado de Educação, que mesmo distante, fazia o atendimento. “Hoje está sucateado”, diz.

No relato do educador estão ainda os desafios da Universidade, que não tem no currículo de formação dos profissionais da educação conteúdos que tratem da inclusão. A falta de diálogo entre a teoria universitária e a prática escolar, passa também pelo despreparo na formação para que os profissionais da educação saibam trabalhar com estudantes com deficiências. 

“Hoje a escola que dou aula é bastante parceira, temos um número considerável de estudantes com deficiência e profissionais”, relata. Contudo, a conquista da vaga como professor não foi tranquila. “Fui considerado inapto pelo médico da perícia, mesmo tendo sido aprovado no seletivo”, relata.

Foi preciso expor o caso em Colíder para que a prefeitura atuasse em defesa do direito do trabalhador.  O Sintep/Colíder se indignou após notícias na mídia de que o professor tinha sido excluído da vaga por ser cego e buscou apoio Jurídico no Sintep-MT, para Kléber. Contudo, antes de acionar a Justiça para garantir o direito do educador, a prefeitura de Colíder adotou uma segunda opinião médica, e o professor foi conduzido a função, sendo atribuído na turma do 5º ano, numa Escola Municipal de Colíder.