Especialistas falam sobre condições sanitárias e volta às aulas com Covid-19


Para o médico Naomar Almeida Filho, o mundo inteiro já fala sobre a convivência com a Covid-19 pois nenhuma das medidas conhecidas até o momento irá erradicar o problema.

Publicado: 17/02/2021 10:33 | Última modificação: 17/02/2021 10:33

Escrito por: Redação CNTE

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A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) promoveu na noite desta terça-feira (16) o debate "Volta às aulas com Covid". Com transmissão ao vivo pelas redes sociais da CNTE, o evento teve a participação da professora Geovana Lunardi, doutora em educação e presidenta da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação (Anped), e do médico Naomar de Almeida Filho, mestre em saúde comunitária e professor titular de epidemiologia no Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia. O presidente da CNTE, Heleno Araújo, e a vice-presidente, Marlei Fernandes, mediaram o debate.
Para o médico Naomar Almeida Filho, o mundo inteiro já fala sobre a convivência com a Covid-19 pois nenhuma das medidas conhecidas até o momento irá erradicar o problema. Na avaliação dele, o Brasil deveria fazer testagem em vigilância epidemiológica: "A China fez isso, a Nova Zelândia fez isso. Na Noruega as escolas foram escolhidas para sediar as ações de vigilância epidemiológica [controle e bloqueio das cadeias de transmissão da Covid-19]". 
>> Acesse o ensaio de Naomar Almeida Filho - PANDEMIA DE COVID-19 NO BRASIL: EQUÍVOCOS ESTRATÉGICOS INDUZIDOS POR RETÓRICA NEGACIONISTA
Segundo Naomar Filho, um erro que o Brasil está cometendo é tratar a pandemia como um problema de UTI (Unidade de Terapia Intensiva): "Isso é para tornar a Covid-19 mais frequente e não fazer a prevenção dos casos. O que o Brasil fez eu não diria que é uma bagunça, mas um massacre, porque tem um método. Enquanto não tivermos vigilância epidemiológica não podemos mitigar os danos não são somente da Covid, mas da suspensaão do vínculo pedagógico em especial da educação infantil". 
A professora Geovana Lunardi compartilhou a preocupação com a abertura de escolas descolada do contexto da saúde pública local: "No domingo a cidade de Chapecó (SC) entrou em colapso no sistema de saúde no momento em que as escolas privadas estavam funcionando e as públicas estavam com planos de retornar", exemplifica. Para ela, a volta às aulas deve estar articulada a um conjunto de decisões de diferentes setores e não pode ser uma decisão exclusivamente do ponto de vista educacional: "A resposta tem que ser intersetorial entre educação, saúde e assistência social".
Experiência de outros países
"Nenhum sistema educacional do mundo estava preparado para se transferir em massa para o modelo remoto. A continuidade pedagógica das atividades foi um intenso processo de aprendizagem dos sistemas educativos", explica a professora Geovana Lunardi. Ela elencou três usos alternativos usados no mundo: as plataformas digitais, com recursos para professores alunos e famílias; a televisão e o rádio; e os materiais impressos para as populações sem recursos digitais. "Outra coisa que os países fizeram foi criar ferramentas diferenciadas para tentar minimizar as diferenças de desigualdades. Apesar de uma aparente similaridade nessas iniciativas dos países a gente vai encontrar muitas diferenças pelas condições materiais e pela forma como elas foram empregadas", registrou.

>> Acesse o estudo "Políticas educativas frente a pandemia no contexto internacional", mencionado pela professora Geovana Lunardi durante a LIVE da CNTE - o levantamento foi elaborado pelo ministério da educação da Argentina
Geovana Lunardi acredita que a volta das aulas presenciais não será um retorno ao modelo atual: "A gente precisa sair desse processo de ensino remoto precário para um modelo que possa garantir efetivamente a continuidade pedagógica. A gente tem que começar a amadurecer essas outras formas de pensar o problema. Passa diretamente pelo trabalho pedagógico do professor, sair de um modelo muito individualizado pra um modelo de partilha, coletivo, de discussão entre pares, da escola, de proposições coletivas". A professora relata que Chile, Colômbia e Uruguai estão desenvolvendo um planejamento centralizado pelo Ministério da Educação, que precisa impulsionar programas de formação, o que não ocorre no Brasil:  "Deixar que essa resposta seja apenas só dos municípios é muito complexa também, especialmente dessa virada virtual da educação. O que a gente tá vendo é que os municípios estão indo às compras de sistemas de plataforma e soluções de educação híbrida que estão longe de ser solução adequada aos contextos, por ausência de políticas nacionais de educação".
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Assista ao vídeo da LIVE DA CNTE completo: